Se antes do pleito realizado em 2014 era difícil encontrar apoio à reeleição de Dilma Rousseff entre as entidades que representam os diversos elos das variadas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, hoje é quase impossível identificar uma única liderança do setor favorável à permanência da presidente no Palácio do Planalto.
Qualquer sinal de afinidade ideológica das associações de produtores ou agroindústrias com o governo liderado pelo PT foi por terra com os escândalos de corrupção envolvendo os altos escalões das gestões de Lula e Dilma. E a deterioração da economia em 2015 tratou de dinamitar os poucos pontos de concordância no campo das políticas agrícolas que vinham sendo fortalecidos pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu.
A multiplicação de operações policiais e prisões, em tempos de crise e de um ajuste fiscal que teve reflexos deletérios sobre o crédito e gerou sucessivos cortes no orçamento do ministério, empurrou para a oposição até mesmo os poucos empresários do setor que antes abertamente simpáticos ao PT ou aos rumos ditados pelo governo — casos de Lawrence Pih, que vendeu recentemente seu moinho de trigo para a americana Bunge, e de Eraí Maggi Scheffer, uma dos maiores produtores brasileiros de grãos.
É verdade que Kátia, que se fortaleceu como figura política quando esteve à frente da presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e se credenciou para assumir o Ministério da Agricultura com sua atuação pró-Planalto como senadora (atualmente do PMDB), segurou enquanto pôde a debandada geral, sedimentada há algumas semanas com o posicionamento favorável justamente da CNA ao impedimento de Dilma.
Na sexta-feira, reunião promovida pela entidade em Brasília serviu para amalgamar o apoio de outras 12 instituições ao impedimento: ABA (que representa criadores de bovinos da raça angus), ABCZ (criadores de zebu), ACNB (criadores de nelore), Abiec (frigoríficos exportadores de carne bovina), Abrafrutas (produtores e exportadores de frutas), Abramilho (produtores de milho), Abrapa (produtores de algodão), Aprosoja Brasil (produtores de soja) e OCB (cooperativas, além da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
No encontro, João Martins, que sucedeu Kátia Abreu no comando da CNA, também resumiu o que o setor espera: a retomada da normalidade econômica, vital para que a recuperação da confiança necessária. A entidade defende um grande pacto para isso, mas a receita, que vale com ou sem Dilma, é tão óbvia quanto difícil de ser implementada, até porque parte das adversidades econômicas é global.
Como lembrou uma das fontes ouvidas pelo Valor nas últimas semanas sobre a situação do país, a China não voltará a crescer 10% ao ano apenas porque houve um impeachment no Brasil. E, se esse estímulo à alta dos preços internacionais das commodities perdeu fôlego, já foi comprovado pelo mercado que a valorização do dólar sobre o real, que tem atenuado os efeitos negativos da queda das cotações especialmente para as cadeias exportadoras, também perderá caso Dilma perca o cargo.
Pesquisas realizadas regularmente por Fiesp e OBC, entretanto, mostram, porém, que produtores e agroindústrias culpam principalmente a crise política pela falta de confiança que têm hoje para investir. Ao lado de todos os aspectos envolvidos nos debates e discussões, essa questão da confiança tem sempre lembrada por expoentes do agronegócio, como Roberto Rodrigues, ex-ministro do governo Lula, ou líderes como Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB.
Fonte: Valor Econômico