O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estimou o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) para a safra 2022/23 em R$ 1.256 trilhão. O resultado está 6% acima da projeção para este ano e, caso seja confirmado, será o maior VBP já registrado na série iniciada em 1989.
Com base nas estimativas de novembro, o Mapa prevê para 2022 um VBP de R$ 1.185 trilhão. Segundo o ministério, as lavouras tiveram faturamento bruto de R$ 813.14 bilhões, com aumento de 0,70%. Já a pecuária faturou R$ 372.35 bilhões, apresentando queda de 1,60%.
Em seu mais recente relatório, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou para o próximo ano uma produção de soja de 153.5 milhões de toneladas, e de milho em torno de 125.8 milhões de toneladas.
O ministério acredita que esse resultado poderá gerar um valor de produção acima do que foi obtido em 2022, com uma contribuição da pecuária, que deverá crescer 3%.
“O clima vem se comportando bem desde o final de novembro e também em dezembro, as lavouras estão bem colocadas, com tecnologia adequada, e é possível que, se as coisas continuarem assim, teremos um aumento significativo do VBP”, disse o ex-ministro e titular da Academia Nacional de Agricultura, Roberto Rodrigues. “Há uma expectativa favorável”.
Efeitos do clima
Na safra 2021/22, problemas relacionados ao clima nas regiões Sul e em parte do Centro-Oeste atingiram as lavouras e acabaram por influenciar o VBP deste ano.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, devido à estiagem, a produção de soja no Sul registrou queda de 44,40%. O impacto da seca também atingiu as lavouras de arroz, ocasionando uma redução da produção, além de preços mais baixos.
Apesar do comportamento do clima, a soja garantiu uma produção elevada de 125.5 milhões de toneladas, e o milho registrou recorde de produção, com 113 milhões de toneladas.
Outras variações
Além disso, o desempenho de outras lavouras tornou menores os impactos causados pelos problemas climáticos. Os melhores resultados foram observados na produção de algodão, com aumento real de 21,10% no VBP, e de banana, com alta de 18,80%.
Aumentos também foram registrados nas lavouras de batata (14,70%); cana-de-açúcar (8,80%); mandioca (16,50%); milho (12,70%); trigo (35,10%); tomate (22,10%) e café (26,30%).
Variações negativas foram observadas nas culturas de arroz, soja, uva, cacau e laranja. As reduções simultâneas de produção e de preços nestes itens também influenciam o resultado do VBP. Já na pecuária, leite e ovos contribuíram com os melhores índices.
Incertezas
No quadro geral do agronegócio brasileiro, 2023 reserva alguns pontos de incerteza, na avaliação de Roberto Rodrigues. Um deles é a proibição, pela Europa, da importação, a partir de dezembro de 2020, de produtos originários de áreas com desmatamento.
“Isso pode representar uma ameaça, uma barreira não-tarifária, porque é necessário provar como e quando houve desmatamento em área produtiva. Isso pode gerar um custo de produção maior, e inibir certas capacidades competitivas do Brasil”, avaliou o ex-ministro.
Outro fator está relacionado à ciência, inovação e tecnologia. “Hoje, há uma certa dificuldade na área orçamentária da Embrapa (para o desenvolvimento de pesquisas), e ainda é preciso investir muito nessa área”, acrescentou Rodrigues.
Por fim, o acadêmico chamou a atenção para o setor de defesa sanitária que, segundo ele, “é o ‘calcanhar de Aquiles’ de qualquer país tropical do mundo”, em razão de doenças em países vizinhos que podem afetar o Brasil. “Hoje fala-se em gripe aviária em alguns países vizinhos ao nosso, portanto, é fundamental ter um cuidado máximo”.
Para o ex-ministro, os três pontos mencionados poderão influenciar, de alguma forma, o PIB brasileiro em 2023, assim como a questão dos preços.
“Nós temos um claro aumento dos custos de produção este ano, que veio com a alta dos insumos, inclusive de fertilizantes e máquinas agrícolas, e com isso temos um horizonte incerto quanto aos preços da próxima safra, que vai depender da oferta de novas áreas plantadas no Brasil, na América Latina e também no Hemisfério Norte, e da demanda que pode ser afetada pela perda de renda dos consumidores, sobretudo nos países desenvolvidos”.
Apesar das incertezas, Rodrigues aposta na continuidade do crescimento do agro em 2023.
