Ferrenhas defensoras da taxação das importações de etanol neste ano, as usinas do Nordeste e do Norte esperam agora colher como fruto dessa pressão a melhor remuneração pela produção do biocombustível, que deverá crescer nesta temporada 2017/18 também impulsionada pela expectativa de uma rápida implementação do RenovaBio.
Algumas usinas do Rio Grande do Norte e da Paraíba começaram suas operações já em setembro, mas é nesta semana que as unidades de Pernambuco e Alagoas, que respondem por 66% da produção das duas regiões, estão começando a ligar as máquinas.
Desde que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) acatou a proposta de isentar de imposto de importação apenas uma cota de 150 milhões de litros por trimestre, taxando o excedente em 20%, as usinas passaram a trabalhar com um cenário mais previsível para o mercado, disse Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar de Pernambuco, principal entidade do segmento nas regiões Norte e Nordeste.
O estabelecimento da cota, afirma, garantiu um limite para a oferta de etanol importado, o que impedirá que a região seja surpreendida com navios encostando no litoral com cargas e mais cargas do biocombustível a preços bem mais competitivos que os da produção local, como aconteceu ao longo da safra 2016/17. Antes do estabelecimento da cota, as usinas da região temiam uma repetição da prática neste novo ciclo.
Agora, o Sindaçúcar/PE estima que as usinas das duas regiões produzirão nesta safra 1.8 bilhão de litros de etanol, frente a 1,6 bilhão de litros na safra passada, um aumento de 12,5%. Afora a taxação, Cunha projeta essa alta também motivado pelo RenovaBio, que promete assegurar ainda mais previsibilidade para a participação do etanol na matriz energética brasileira. O programa, entretanto, ainda está parado na Casa Civil.
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A maré mais “alcooleira” no Norte e Nordeste acompanha a recente tendência no centro-sul, onde as usinas passaram a ver mais vantagem em produzir etanol depois que o governo alterou as alíquotas de Pis/Cofins, o que melhorou a competitividade do biocombustível nos postos.
Se as usinas do Norte e do Nordeste mantiverem a aposta no etanol, poderão até se beneficiar de uma possível alta dos preços nos próximos meses, quando as unidades do centro-sul, que já têm um perfil mais alcooleiro, estarão em entressafra, disse João Paulo Botelho, analista da consultoria INTL FCStone.
Além desses fatores, o etanol também tem a vantagem para as usinas de oferecer mais liquidez que o açúcar, ponto importante para aquelas que estão com uma situação de caixa mais apertado.
É certo, porém, que a nova dinâmica do mercado de combustíveis, da qual o etanol vem se beneficiando, não será o único fator para garantir esse avanço de produção. A própria safra de cana, que no ciclo passado foi fortemente afetada pela falta de chuvas, também deverá crescer. O Sindaçúcar/PE calcula uma moagem de 44 milhões de toneladas, 4,7% a mais que o total processado na última temporada.
O desenvolvimento das lavouras nos últimos meses ocorreu sob poucas adversidades climáticas, e as previsões de tempo firme durante o dia e chuvas noturnas indicam condições ideais para que a cana alcance rapidamente o ponto de utilização industrial. Apesar da perspectiva de recuperação, o volume ainda deverá ser muito inferior ao observado em anos recentes, quando a moagem na região chegou a 61 milhões de toneladas.
Da mesma forma, o volume de etanol esperado para esta safra ainda está distante do potencial, avalia Cunha. Para ele, as duas regiões poderão produzir 2.3 bilhões de litros de etanol na temporada 2019/20 se o mercado continuar favorável. A produção já foi melhor no passado: chegou a 2.28 bilhões de litros em 2014/15.
Além disso, por mais alcooleira que seja a produção do Norte e do Nordeste, o volume ainda muito aquém do que se produz no centro-sul, que deve encerrar esta safra com volume de 24 bilhões e 25 bilhões de litros, segundo as principais projeções do mercado.
Essa tendência mais alcooleira deverá limitar a fabricação regional de açúcar, embora com diferença pouco relevante diante da safra passada. A estimativa do Sindaçúcar é que a produção seja reduzida em 3,2%, para cerca de três milhões de toneladas.
Fonte: Valor Econômico