Algumas usinas brasileiras cancelaram contratos para a entrega de açúcar com tradings, em uma operação conhecida no mercado como “washout”, uma vez que os contratos futuros do produto registraram mínimas na bolsa de Nova York, e o etanol se tornou ainda mais atraente. A informação é de usineiros e analistas do setor.
Historicamente, as usinas do Brasil produzem mais açúcar no segundo semestre do ano, quando o teor de sacarose aumenta na cana de colheita tardia devido ao tempo mais seco. Neste ano, porém, sem que os preços consigam se recuperar, as empresas mantêm o foco na produção de etanol, cancelando contratos de entrega de açúcar quando possível e a um custo.
“Há um surpreendente volume de ‘washouts’ no centro-sul do Brasil atualmente”, disse Arnaldo Correa, da Archer Consulting, que assessora usinas. Ele afirmou que alguns de seus clientes contaram sobre seus cancelamentos, mas recusou-se a nomeá-los devido a acordos de confidencialidade.
As usinas só podem recomprar contratos quando as provisões para estes tiverem sido adicionadas aos acordos firmados.
Correa disse que as usinas normalmente pagam uma taxa para cancelar a entrega física do adoçante. “Mesmo com as multas, elas acabam lucrando mais com a mudança na utilização dessa cana-de-açúcar para o etanol, o que justifica os ‘washouts'”.
Uma usina que confirmou cancelamentos foi a Bevap Bioenergia, localizada em Minas Gerais, onde a demanda por etanol tem sido forte nas últimas duas temporadas.
Leandro de Menezes Martignon, diretor comercial da Bevap, disse que a usina deseja elevar seu mix de produção em direção ao etanol, e por isso decidiu pelos cancelamentos. O plano é alocar até 75% da cana para a produção do biocombustível, contra 70% atualmente, e deixar apenas 25% para a produção do adoçante.
“Compramos de volta da operadora essa posição em açúcar. O etanol está pagando 200 pontos mais que o açúcar no momento, então vale a pena”, afirmou Martignon.
O vencimento outubro do açúcar em Nova York registrou nesta quarta-feira a mínima contratual de 10,73 centavos de dólar por libra-peso.
Martignon acrescentou que na medida em que a temporada se aproxima do final por volta de novembro, os preços do etanol devem avançar ainda mais, possivelmente ampliando sua vantagem sobre o açúcar.
João Paulo Botelho, analista de açúcar e etanol da corretora e consultoria INTL FCStone, disse que as usinas devem tentar focar o máximo possível em etanol. “Se elas têm a opção de recomprar suas posições em açúcar, elas farão isso. Há diversos casos”.
O mais recente relatório semanal de safra da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) apontou que as usinas estão alocando uma parcela ainda menor de cana para a produção de açúcar em relação ao ano passado, quando foi registrada a mínima histórica de 35%.
Reuters