O presidente Michel Temer e os ministros da área econômica vão comemorar o crescimento do Produto Interno Bruto de 1% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último de 2016, descontados os fatores sazonais. Quando fizerem isso estarão, na verdade, festejando o crescimento da agropecuária e da demanda externa (exportações). A demanda interna, consumo das famílias e investimentos, continuou em queda e com resultados piores que os esperados.
Nas contas dos economistas ouvidos pelo Valor Data, o PIB cresceria, na média, 0,9% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto de 2016, na série com ajuste sazonal. Aqui, o crescimento registrado de 1% foi um pouco maior. Mas os economistas previam 9,4% de crescimento na agropecuária e o PIB trouxe uma alta de 13,4%. Na indústria, o resultado também foi melhor, de 0,9% ante uma previsão de 0,8%. O setor de serviços se manteve estável, mas a expectativa era um crescimento de 0,3%.
É pelo lado da demanda que o PIB frustrou mais. Os economistas projetavam o primeiro aumento (de 0,4%) após oito trimestres consecutivos de queda no consumo das famílias. O IBGE indicou, contudo, uma nova retração, de 0,1%, adiando a recuperação. E no investimento ao recuo foi muito mais profundo que o esperado. As estimativas indicavam uma queda pequena, de 0,3%, mas a realidade foi cruel e o dado foi negativo em 1,6%. Todas as comparações são do primeiro trimestre ante o último do ano passado, descontados os efeitos sazonais.
A demanda interna ainda fraca também fica clara nos dados do comércio, com retração de 0,6% sobre o final do ano passado.
Além do setor agropecuário, uma luz poderia ser enxergada nos dados do PIB industrial. Ele deve, contudo, estar relacionado com o aumento mais forte das exportações (onde também pesa, e muito, o desempenho do agronegócio) e, como se descolou do comportamento da demanda, sugere aumento de estoques. Se for verdade, o ajuste destes estoques deve conter a produção no segundo trimestre.
O governo pode até comemorar o resultado, mas do ponto de vista de indicar uma recuperação doméstica, o PIB do primeiro trimestre foi pior do que o esperado. E a crise política e a sinalização dada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de que a trajetória de corte de juros tende a ser menos intensa que o projetado, age no sentido de atrasar ainda mais a boa notícia tão esperada.
Fonte: Valor