A União Europeia elevou o tom das ameaças a países exportadores de produtos agropecuários que porventura tentarem se beneficiar do embargo da Rússia a produtos agrícolas europeus para ampliar suas vendas para aquele mercado. Entre os alvos do “recado” está o Brasil.
Ontem, o comissário europeu de Agricultura, Dacian Ciolos, anunciou em Bruxelas um novo pacote de ajuda de € 120 milhões (R$ 354 milhões) no total – parte virá do setor privado – para promover sobretudo a busca de produtores europeus de carnes e lácteos por novos mercados diante da interdição da entrada de suas mercadorias na Rússia.
”Vamos olhar atentamente o comportamento de nossos parceiros e agir em consequência”, disse Ciolos. O comissário lembrou que a UE tem acordos comerciais preferenciais com vários países ou está em negociação com outros, como é o caso da tentativa de acordo UE-Mercosul. “Se o Brasil e outros vão ocupar o espaço, é muito cedo para dizer. Não sei qual parte do mundo pode reorientar em alguns dias a produção para outro pais”.
Na semana passada, o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou o decreto que viabiliza exportações adicionais de carnes bovina e de frango do Brasil e de outros países que devem se beneficiar do embargo imposto por Moscou a produtos dos Estados Unidos, União Europeia, Canada e Austrália.
A medida estabeleceu que os países atingidos pelo embargo – uma retaliação às sanções impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia – tinham até 1º de setembro para preencher suas cotas para vender ao mercado russo. Se não conseguirem, o governo russo passará então a fornecer licença de importação para outros países, não submetidos à retaliação imposta por Moscou.
Até agora, vários países esbarravam nos limites impostos pelas cotas de importação, boa parte delas detidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, para aumentar suas exportações de carnes ao mercado russo no novo contexto.
Em entrevista coletiva em Bruxelas, transmitida pelo canal de TV da UE, o comissário de Agricultura europeu anunciou o plano de dobrar a ajuda para a promoção de exportações agrícolas neste ano e em 2015. A ideia é buscar mercados alternativos ao russo, principalmente para carnes e lácteos, segundo o comissário.
A UE dobrará a ajuda de € 30 milhões para € 60 milhões. Mas o pacote total chegará a € 120 milhões, com a parte que o setor privado colocará para buscar novos mercados. Em retaliação a sanções do Ocidente contra a Rússia por conta das tensões com a Ucrânia, Moscou interditou a entrada de vários tipos de produtos agrícolas de alguns de seus fornecedores tradicionais.
No caso da UE, a medida afeta € 5 bilhões de exportações para a Rússia, segundo mercado para os produtos agrícolas europeus. O mercado russo era destino de 29% da produção de frutas e legumes da UE, 33% de queijo e 28% das exportações de manteiga, por exemplo. Essa ajuda vem após anúncios de novos subsídios de € 125 milhões para produtores de frutas e legumes e de € 33 milhões especificamente para produtores de pêssegos e nectarina.
Fonte: Valor Econômico