Trigo deve recuperar espaço no país

As sementes de trigo da próxima safra já começaram a ser lançadas ao solo em importantes áreas de cultivo do país, e os produtores desta vez planejam ampliar a área na maior parte das regiões produtoras, recuperando parte da extensão perdida nas últimas três temporadas. O ânimo dos produtores vem dos preços e da preferência em relação ao milho safrinha.

Essa perspectiva favorece uma recuperação da produção, que no ciclo passado alcançou seu menor volume desde 2017/18, de 4.263 milhões de toneladas. Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, avalia, de forma preliminar, que poderão ser colhidas entre 5 milhões e 5.5 milhões de toneladas na nova safra. Esse volume ainda é menor que o do ciclo anterior (2016/17). A confirmação dessa projeção vai depender, como sempre, de um clima adequado.

Analistas e produtores indicam que a área com trigo deverá crescer no Paraná, maior estado produtor, e em São Paulo, cuja produção tem aumentado continuamente nas últimas safras. Já no Rio Grande do Sul, a perspectiva é de redução.

Houve recuperação dos preços internos desde o fim da última colheita por causa da forte quebra de safra no Sul do país e, mais recentemente, pela alta do dólar, que encareceu até as importações da Argentina, segundo Bento. Como a indústria depende das importações, o encarecimento do produto estrangeiro abre espaço para os produtores nacionais também elevarem seus preços.

No Paraná, os preços acompanhados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) estão em R$ 763,82 a tonelada, 27% acima do preço de um ano atrás. No Rio Grande do Sul, o preço está em R$ 680,39 a tonelada, 29% superior ao nível do mesmo período do ano passado.

Em seu primeiro levantamento de safra, o Departamento de Economia Rural (Deral) da secretaria paranaense estimou que a área com trigo no estado aumentará 8%, para 1.048 milhão de hectares.

Mas, segundo Bento, é a troca de culturas, não o preço, o fator central de estímulo. “No Paraná, houve atraso no plantio de soja, o que deve prejudicar o calendário para plantar milho safrinha no inverno. Esse pessoal vai para outra cultura de inverno, o trigo”, disse.

As vantagens do cultivo do trigo para o solo também são um forte elemento de atração, segundo Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, do oeste do estado. Nos últimos anos, os produtores investiram em variedades melhores e em tecnologia, melhorando a produtividade. “Isso compensou o aumento dos custos de produção”, disse Grolli.

Já em São Paulo, a remuneração é o principal estímulo, de acordo com José Reinaldo, responsável pelo comércio de trigo da Castrolanda. “O preço está bem convidativo e há perspectiva de chegar em setembro com preço bom”.

Apenas o Rio Grande do Sul deverá ter diminuição de área, repetindo tendência dos últimos anos. Segundo Diego Wasmuth, analista de mercado da Cotrijal, o clima tem sido cada vez mais instável e a rentabilidade da cultura no estado não é favorável. Em relatórios recentes, a Emater gaúcha indicou que o trigo perderá área para a aveia, usada apenas para cobrir o solo, e a canola.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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