A pouco mais de um mês do início da colheita da safra de trigo do Brasil a perspectiva do setor é de que o produto nacional será demandado tanto por moinhos quanto pela indústria de ração, que tem encontrado dificuldade para assegurar o volume necessário de milho no mercado interno. Participantes do Fórum Nacional do Trigo 2016, realizado nesta semana em Londrina (PR), disseram que mesmo na entrada da safra os preços serão sustentados e remuneradores ao produtor. “A necessidade de abastecimento vai dar essa sustentação”, disse um corretor, lembrando que praticamente não há mais trigo no mercado interno.
Parte importante dos estoques da última safra foi arrematada pela indústria de ração. Segundo estimativas, a demanda desse setor seguirá aquecida e pelo menos 500 mil toneladas das cerca de 5 milhões de toneladas de trigo que deverão ser produzidas em 2016 tendem a ser usadas para ração.
Por enquanto, a avaliação é de que o clima favorece a safra nacional. Geadas em áreas produtoras do Paraná e do Rio Grande do Sul em junho e julho não afetaram ou afetaram pouco as lavouras, em fases ainda não suscetíveis. Como o momento é de transição entre o El Niño e o La Niña, participantes do mercado não preveem impactos climáticos significativos neste ano. Hoje o Paraná revisou para baixo a área plantada e a produção esperada para 2016. A área semeada foi de 1,095 milhão de hectares, abaixo dos 1,148 milhão de hectares projetados em junho pelo Departamento de Economia Rural (Deral) e dos 1,155 milhão de hectares de abril.
Se confirmada, a lavoura será 19% menor que a de 2014/15. A produção deve ser de 3,347 milhões de toneladas, abaixo das 3,471 milhões de toneladas esperadas antes, mas ainda com incremento de 2% em relação à safra 2014/15. No caso do Rio Grande do Sul, a Emater informou ontem que as lavouras estão se desenvolvendo bem. Os dois Estados respondem por mais de 90% da produção de trigo no Brasil.
A Argentina, principal fornecedor do cereal importado, tem registrado chuvas acima da média, o que levou ontem a Bolsa de Cereais de Buenos Aires a revisar de 4,4 milhões de hectares para 4,3 milhões de hectares a área a ser semeada com trigo. Mas um importador disse que o mercado já trabalhava com esse número e a tendência ainda é de um aumento expressivo de produção na Argentina em relação aos últimos anos. O volume deve ficar entre 14 milhões de toneladas e 15 milhões de toneladas. “Mais do que suficiente para atender o mercado local e o Brasil”, disse a fonte.
Até que a safra nacional comece a ser ofertada os moinhos seguem recebendo produto importado da Argentina e dos Estados Unidos. A estimativa é de que 600 mil toneladas das 1 milhão de toneladas que o Brasil deve comprar dos norte-americanos nesta temporada já tenham sido contratadas. Um trader diz que não há pressa na negociação porque as cotações do cereal estão em queda no mercado internacional, pressionadas pela ampla oferta. O dólar enfraquecido também limita a comercialização.
Fonte: Agência Estado