A colheita da primeira safra de feijão de 2017/18 acabou de começar no Paraná, mas, diferentemente do que costuma acontecer nesta época do ano, o mercado está relativamente bem abastecido. Isso porque a menor das safras nacionais, a terceira (o feijão tem três safras anuais, plantada no inverno, sobretudo em Goiás e Minas Gerais), foi maior do que se supunha.
Nesse contexto, os preços recuaram no campo e estão abaixo do custo de produção. Os agricultores mineiros e goianos estão comercializando a saca de 60 quilos por cerca de R$ 90,00, para um custo que se aproxima de R$ 120,00. Em Mato Grosso, onde o custo é semelhante, o valor oferecido é R$ 80,00, em média.
Em São Paulo, a leguminosa vale um pouco mais, de R$ 100,00 a R$ 110,00. Em contrapartida, os consumidores têm sido beneficiados. Nas gôndolas, a queda média nos últimos 12 meses é de 55%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
De acordo com analistas, houve grande descasamento entre as intenções de plantio captadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a área que de fato foi semeada na terceira safra. Em outubro de 2016, quando a estatal divulgou o primeiro levantamento referente ao ciclo 2016/17, os produtores indicaram que cultivariam 545.000 hectares na terceira safra.
Em meados de abril, quando as sementes já estavam compradas, sinalizaram 566.800 hectares. E quando o último levantamento da Conab veio a público, depois de concluída a colheita, a área estimada foi de 641.900 hectares.
“Desanimados com a queda dos preços do feijão no início do ano passado, os produtores pensaram em não plantar, mas mudaram de ideia ao ver que o consumo continuava estável e que o clima seria favorável”, disse Eledon Pereira de Oliveira, técnico da Conab que participou do levantamento de dados em campo. “Isso não é tão incomum no caso do feijão. Mas os preços foram pressionados”.
Não é o que pensa o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders. Para ele, muitos produtores esconderam suas reais intenções de plantio em busca de melhores preços. “Plantaram no inverno bem mais do que declararam que fariam. Um produtor tentando ludibriar o outro. E a consequência foi uma inesperada queda de preços nesta época”, afirmou.
“Alguns produtores não queriam que a indústria soubesse que haveria muito feijão no país. Mas tudo ficou deturpado. Teria sido melhor se todos os agentes do mercado soubessem a verdade para que a comercialização fosse melhor gerenciada. O que temos agora é o produtor e a indústria no escuro”, disse Lüders.
Para os próximos dois meses, o presidente do Ibrafe acredita que haverá um leve aumento nos preços oferecidos pela indústria, para algo próximo a R$ 110,00 em todas as regiões de comercialização, não só em São Paulo. Mas em março, quando a colheita da primeira safra da temporada 2017/18 atingir o pico no Paraná, os valores deverão voltar ao patamar atual.
Fonte: Valor Econômico