“Tendência é de queda para as commodities agrícolas no longo prazo”, afirma economista da FGV

Durante evento da PorkExpo 2016, em Foz do Iguaçu (PR), o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Felipe Cauê Serigatti, falou ao setor suinícola sobre macroeconomia e seus impactos no agronegócio. Descrevendo diversos fatores do cenário econômico atual, Serigatti afirmou que a tendência para as commodities agrícolas é de queda no longo prazo.

Segundo ele, embora comparações de preços indiquem que estamos vivenciando um dos melhores períodos de cotações, em termos reais a análise gráfica indica que, ao longo do tempo, o valor das commodities tende a cair. “Esse fator se explica pela produtividade. A evolução da tecnologia permite que a cada ano avancemos a produção, ao passo que a demanda é cíclica”, disse o economista.

Serigatti também destaca o fenômeno de espelhamento dos preços das commodities em relação ao dólar, já que é comum observamos que, quando o câmbio está em alta, à tendência é de recuo nos futuros agrícolas, ou o contrário.
Mas, e como o fim do período de expansão econômica pode, efetivamente, afetar o agronegócio?

E a fase de desaceleração global tem influenciado grandes economias como dos Estados Unidos e China? Para Serigatti será preciso acompanhar grandes movimentos econômicos como: a possibilidade de elevação da taxa de juros dos EUA pelo FED; a capacidade da China em responder com demanda, e as novas políticas econômicas do Brasil.

Nos Estados Unidos, o FED vem sinalizando há meses a possibilidade de elevação na taxa de juros, o que indicaria uma migração de ativos ao dólar norte-americano. “Precisamos ficar atentos a essa decisão que, caso ocorra, pode reagir com o mesmo espelhamento em commodities como vemos com o câmbio”, disse Serigatti.

Na economia chinesa, as preocupações são ainda maiores. A China tornou-se nos últimos anos um dos principais mercados agrícolas do mundo, sendo grande importador de soja, milho e proteínas animais. Destacando-se como uma das economias que mais cresceram nos últimos anos (acima de 10% ao ano), a nova realidade indica uma estabilização do PIB entre 6 a 7% nos próximos anos.

Para Serigatti, a tendência para a economia da China é de desaceleração gradual no ritmo de crescimento nos próximos anos. “Mas o mundo está pronto para conviver com uma China que cresce 3% ao ano? Acredito que ainda não”, considera o economista.

Enquanto isso, no Brasil, ainda vivemos consequências de políticas errôneas de crescimento. O boom das commodities, por exemplo, foi aproveitado para incentivar o consumo e o aumento de crédito, porém, a oferta não conseguiu corresponder no mesmo ritmo da demanda, visto que o custo Brasil continua a limitar os investimentos. Então a saída, segundo Serigatti, foi suprir esse déficit por meio de importações.

“Esse modelo vinha funcionando, porém, após a crise de 2009, o cenário econômico mudou, e continuamos a insistir no mesma solução”, disse Serigatti. “Além disso, as receitas brasileiras, até 2010, vinham crescendo fortemente acima do PIB. Posteriormente, apostamos no aumento dos gastos, especialmente com assistencialismo, e a partir de 2015 esse cenário tornou-se insustentável”, afirmou.

Agora, o ajuste dos gastos públicos e a reforma da Previdência tornaram-se algo essencial para a retomada de crescimento da economia nacional. Mas, e o agronegócio, mais os impactos dessas reformas no único setor que ainda responde positivamente?

Para o economista, no médio e longo prazo, não poderemos considerar novos aumentos em crédito rural nem outros instrumentos que dependem de recurso público. “Não estamos falando de escolha na redução de investimento. A questão é que o Brasil não tem mais dinheiro. Então não podemos dizer que vão tirar verba de qualquer setor, porque essas verbas, no fundo, não existem”, explica.

De maneira geral, Serigatti acredita que o agronegócio sentirá, sim,os efeitos do ajuste, mas ainda será o setor que menos terá o impacto dessas medidas.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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