Temporada de furacões nos EUA favorece suco do Brasil

Os danos provocados por furacões à citricultura da Flórida já começam a beneficiar as exportações brasileiras de suco de laranja. Por causa dos furacões, sobretudo o Irma, o Estado americano deverá colher o menor volume da fruta em 70 anos, e com isso os EUA são obrigados a recorrer ao produto do Brasil para cobrir sua demanda.

Mesmo com a proliferação da doença conhecida como greening na última década, a Flórida abriga o segundo maior parque citrícola do mundo, menor apenas que o espalhado por São Paulo e Triângulo Mineiro, onde o controle do mal tem sido mais eficiente. Em condições normais, Brasil e EUA lideram as exportações globais de suco de laranja, mas a participação brasileira é superior a 80%.

Por causa da oferta escassa nos Estados Unidos antes mesmo do início da temporada dos furacões, as exportações brasileiras de suco de laranja para aquele país já registraram forte aumento de julho a setembro, os três primeiros meses da safra 2017/18.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), somaram 74.900 toneladas equivalentes ao produto concentrado e congelado (FCOJ), 68% mais que em igual período da temporada 2016/17.

Graças a um aumento do preço médio provocado pela queda da oferta americana, a receita proveniente desses embarques subiu 75% na comparação, para US$ 128 milhões. Entre principais mercados para o suco de laranja brasileira no exterior, foram os maiores crescimentos.

Principal destino do produto, a União Europeia importou 187.600 toneladas equivalentes ao FCOJ de julho a setembro, alta de 6%. O valor das vendas chegou a US$ 325.9 milhões, 12% maior.

No total, informou a CitrusBR, as exportações brasileiras atingiram 286.600 toneladas no primeiro trimestre da safra 2017/18, ou US$ 502.2 milhões, aumentos de 13% e 21%, respectivamente.

Tanto para o aumento do volume total quanto das vendas para os EUA nos primeiros três meses deste ciclo, pesa a própria recuperação da produção brasileira, que no ano passado foi prejudicada por intempéries geradas pelo El Niño.

E é esse incremento da colheita de laranja no cinturão paulista e mineiro, da ordem de 50%, que agora ajudará a atender à aceleração ainda maior das vendas de suco para os Estados Unidos, já em consequência dos novos problemas causados pelos furacões.

Segundo Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR, entidade que representa as indústrias exportadoras Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus, a forte queda da produção de laranja na Flórida na safra atual fará com que o Estado americano deixe de produzir 73.000 toneladas equivalentes ao FCOJ. E esse volume poderá ser fornecido pelo Brasil ao longo dos nove meses que restam do ciclo 2017/18.

Segundo a estimativa mais recente do USDA, a colheita de laranja da Flórida totalizará 54 milhões de caixas na safra 2017/18, queda 21% na comparação com as 69 milhões de caixas da safra passada e menor volume em sete décadas.

Em seus cálculos, Ibiapaba leva em consideração que a produção da Flórida chegou a 75 milhões de caixas no ciclo passado, o dirigente lembra que as estimativas do USDA têm provocado alguma polêmica no segmento.

O aumento dos embarques brasileiros para o mercado americano poderia ser até maior, não fosse o consumo continuar em queda no país. Conforme dados da Nielsen, as vendas de suco de laranja em galões nos EUA no período de quatro semanas encerrado no dia 5 de agosto caíram 8,9% em relação ao mesmo período de 2016 e alcançaram o menor patamar desde 2002.

Ibiapaba disse, ainda, que a demanda americana é basicamente pelo suco de laranja não concentrado, NFC, pronto para beber, que já domina a produção do país. Como o volume ocupado pelo NFC é cerca de seis vezes maior que o do FCOJ, se o incremento das compras dos EUA de fato se confirmar é provável que os exportadores brasileiros enfrentem problemas logísticos.

O diretor da CitrusBR prefere não comentar os reflexos que esse aumento dos embarques para os EUA poderão ter sobre os estoques de suco brasileiro. Após a queda da oferta em 2016/17, esses estoques atualmente estão sendo recompostos, mas, segundo analistas, o ritmo dessa recomposição deverá diminuir.

 

Fonte: Valor

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