Tecnologia acentua força do agro no País, indica estudo

O cenário de depreciação cambial e de alta dos preços dos alimentos foi fundamental para manter o agronegócio brasileiro em alta em 2020, mesmo em meio à pandemia, e continua a estimular o avanço do setor este ano. Mas essa resiliência só se tornou viável graças ao aumento da eficiência em diversas cadeias produtivas proporcionada por investimentos tecnológicos.

Em linhas gerais, é o que aponta o estudo “Agronegócio: Exportação, Emprego e Produtividade”, publicado recentemente pelo Instituto Millenium, think tank sem fins lucrativos, e pela consultoria Octahedron Data eXperts (ODX). Segundo os autores, o material foi produzido com o objetivo de ajudar o setor público a tomar decisões com base em dados e evidências e enfoque na mensuração de resultados.

“Além de gerar emprego e renda e ter papel relevante no desempenho internacional do país, o setor vem promovendo avanços tecnológicos e incrementos de produtividade, e com ampla participação do setor privado. Tudo isso tem contribuído para diminuir o abismo social em que o país se encontra”, indica o estudo.

Valor adicionado

Millenium e ODX observam que, enquanto o Produto Interno Brasil (PIB) do Brasil encerrou 2020 em queda de 4,06%, o pior resultado em 31 anos, pressionado por retrações na indústria (3,50%) e em serviços (4,50%), o valor adicionado da agropecuária cresceu 2%, com destaque para as áreas de grãos, principalmente soja, e café, cujas colheitas bateram novos recordes históricos.

Mesmo o encolhimento da indústria poderia ter sido maior, não fossem as altas nos segmentos de fumo (10,10%) e papel e celulose (1,30%), vinculados ao agro. No total, a produção da agricultura brasileira bateu recorde em 2020, com 1.24 bilhão de toneladas, em 63 milhões de hectares.

Ranking

Lideraram essa oferta as colheitas de cana (677.9 milhões de toneladas), a que tem o maior rendimento médio por hectare (75.657 quilos) no País, e cereais, leguminosas e oleaginosas (254.1 milhões de toneladas), grupo este puxado pela soja, cuja produtividade registrou incremento expressivo nos últimos anos, a partir do uso de insumos mais eficientes nas lavouras e maior uso de maquinários. O cultivo de arroz é outro cuja produtividade está em expansão.

A agropecuária, em geral, ocupa 351 milhões de hectares, entre pastagens (45%), matas e florestas (29%) e lavouras (18%). “A mecanização e o investimento em tecnologia contribuem, de forma relevante, para o aumento de produtividade e, essencialmente, para a diminuição da diferença entre área plantada e área colhida”, mostra o estudo.

“São 734.000 estabelecimentos (55,50%) com tratores, 235.000 (19,30%) com semeadeiras, 119 mil (9,2%) com plantadeiras e 206.000 (15,70%) com adubadoras e/ou máquinas distribuidoras de calcário”. Entre 2006 e 2017, o número de estabelecimentos com tratores registrou aumento de 50% no País.

Investimentos

Com o bom desempenho, os R$ 439.8 bilhões da agropecuária representaram 5,90% do PIB no ano passado, 1,40% a mais do que em 2019. Mesmo com todos os desafios impostos pela pandemia, o crescimento do valor adicionado da agropecuária em 2020 foi o terceiro maior em 25 anos e registrou a maior tendência de alta dessa série histórica.

“Com muitos investimentos em inovação feitos pelo setor privado, o agro mostra que, em boa medida, não depende do Estado. Pode haver equilíbrio”, disse Priscila Pereira Pinto, CEO do Instituto Millenium.

Nos últimos dez anos até 2020, observa, a agropecuária cresceu 25,40%, em relação a um aumento de 1,50% do setor de serviços e quedas de 12,80% da indústria e de 1,20% do PIB em geral.

Desempenho expressivo

“Temos indícios de que o setor, em geral, possui certa independência em relação aos demais, sendo pouco afetado por serviços e indústria e até mesmo pela economia em geral”, informa o estudo. Nesse contexto, indicam a Millenium e ODX, a ótica do agronegócio como um todo resulta em desempenho ainda mais expressivo.

Considerando a produção agropecuária básica, insumos, agroindústria e agrosserviços, o PIB do setor ficou perto de R$ 2 trilhões em 2020 (27% do total), embora a indústria de base agrícola tenha sido mais afetada pela pandemia que outras frentes.

Exportações

Se tem no amplo mercado doméstico uma âncora importante para a produção, grande parte dessa performance positiva do agro decorre de vendas pujantes do setor ao exterior, reforça o estudo.

Com câmbio e preços favoráveis, no ano passado as exportações setoriais renderam US$ 100.8 bilhões, 4,10% mais que em 2019, e gerou um superávit de US$ 87.7 bilhões. Com mais de 100 milhões de toneladas embarcadas, soja em grão e derivados lideraram as vendas ao exterior. As carnes vieram em seguida. Nos dois casos, a China foi o principal destino.

Empregos

Também na geração de empregos o setor tem se destacado. Com o crescimento das últimas décadas, o campo passou a contar, segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2017, com 15 milhões de pessoas ocupadas em mais de 5 milhões de estabelecimentos. A região Nordeste, marcada pela agricultura familiar, concentrava quase 6.4 milhões de pessoas em 3.3 milhões de propriedades naquele ano.

Financiamentos

Um dos pontos de atenção, contudo, ainda é o crédito. Como apontam Millenium e ODX, 85% dos estabelecimentos agropecuários do País, ou cerca de 4.2 milhões, ainda não obtêm financiamentos, e dos que obtêm (784.000) recorrem a recursos públicos. Também o alcance do seguro rural permanece sendo limitado, o que amplia os riscos no campo.

Mais informações: www.institutomillenium.org.br.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

 

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