Produzir mais, com menor custo, em áreas menores e ainda preservar o ecossistema. Este é o grande desafio para a agricultura familiar que, nos últimos anos, ganhou maior importância nos debates nacionais e internacionais sobre o agronegócio, principalmente quando se discute a questão da insegurança alimentar.
Para alcançar um novo patamar, é necessário que estes produtores também tenham acesso às novas tecnologias no campo. E é esta a proposta da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Rondônia, região antes considerada totalmente isolada, porque os produtores não tinham acesso às inovações do meio.
Apesar de ter ficado desconfiado, o produtor rural Rubens Rocha, de Rio Pardo, distrito de Porto Velho (RO), resolveu “dar uma chance” às novas técnicas propostas pelo órgão estatal.
“Minha produtividade aumentou bastante: antes, com 17 vacas eu produzia cerca de 70 litros de leite por dia. Hoje, eu tenho o mesmo número de animais, que produzem cerca de 130 litros diariamente”, destacou.
Para alcançar o desempenho, foi implantado na propriedade do senhor Rubens o manejo de pastagem com piqueteamento, que emprego do pastejo rotacionado e da suplementação de “cana mais ureia” no período seco do ano.
Zootecnista da Embrapa Rondônia, Elisa Osmari explica que a suplementação com cana mais ureia é uma mistura que leva algum tipo de fonte de enxofre, geralmente sulfatos, além da ureia, que é fonte de nitrogênio, para suprir a deficiência de proteína da cana-de-açúcar na alimentação animal.
“No período das águas, uma pastagem bem cuidada e manejada normalmente atende aos níveis de proteína e energia para a produção de leite intermediária. Já durante a seca, além da produção de matéria seca da pastagem chegar a apenas 20, 30% da produção anual, os teores proteicos e energéticos também sofrem forte queda. Aí entra o uso da cana mais ureia, pois a primeira é rica em energia (açúcar), além de ser boa fonte de fibra. E a mistura faz com que seus teoresproteicos entre 2% e 3% se elevem até 10%, 12% de proteína bruta”, detalha Elisa.
De acordo com a zootecnista, esta mistura permite produções médias de leite viáveis durante a seca – de sete a oito quilos de leite por vaca por dia – ao invés de o animal apenas perder peso. Há casos em que a cana mais ureia associada a altas proporções de concentrado na dieta pode ultrapassar 20 kg de leite/vaca/dia com animais mais especializados, embora nem sempre isto seja viável, economicamente falando, por causa dos custos elevados dos fertilizantes e dos grãos.
“Todas as regiões do País que possuem estação seca, com ressalva para os locais mais sujeitos a geadas, seja de seis meses (Sudeste e parte do Centro-Oeste), seja de quatro meses (Norte), podem utilizar a cana mais ureia na agricultura familiar para suplementação do gado na seca. Mas a produção e fornecimento da cana também podem ser mecanizados quando utilizados em maior escala, dentro das regiões de zoneamento para cana-de-açúcar pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).”
Elisa ressalta que o uso da cana mais ureia tem sido incentivado em Rondônia pela Embrapa e parceiros, e sua utilização tem crescido muito no interior do Estado, na região de Machadinho d’Oeste.
“A meta agora é aumentar seu uso pelos produtores de leite de Rio Pardo e União Bandeirantes, ambos no município de Porto Velho, com o intuito de manter a produção de leite também durante a seca. À medida que as chuvas começam e a pastagem fica mais verde, os animais por si mesmos vão diminuindo a ingestão de cana e aumentando a de capim, mostrando ao produtor que está na época de encerrar o uso de cana na suplementação, no caso de animais a pasto”, salienta a zootecnista.
PASTAGEM COM PIQUETEAMENTO
Para alavancar a produção de leite em sua propriedade, o agricultor Rubens Rocha, além de adotar a suplementação alimentar de “cana mais ureia”, também implantou o sistema de piqueteamento. Pesquisador da Embrapa Rondônia, Pedro Gomes da Cruz explica que os bons resultados com os piquetes são as forrageiras adotadas, por contarem com elevado potencial produtivo, como é o caso do Mombaça que está sendo aplicada na fazenda do senhor Rubens.
De acordo com Cruz, para ter um manejo adequado, é preciso dividir estes animais em piquetes de forma que o consumo de forrageiras possa ser concentrado, com o objetivo de alcançar o melhor resultado.
Ele explica que o piqueteamento é um termo usado para indicar subdivisões na pastagem, ou seja, subdividir uma grande área em outras menores chamadas de piquetes.
“A formação dos piquetes é feita com cerca elétrica, de menor custo, o que permite a contenção dos animais nas áreas. A subdivisão em áreas menores (piquetes) é o princípio pelo qual viabilizamos a lotação rotativa ou pastejo rotacionado, obtendo assim um melhor controle sobre o crescimento e utilização da forragem pelos animais”, informa Cruz.
Sobre o pastejo rotacionado ou lotação rotativa, ele esclarece tratar-se de um método de pastejo que usa períodos recorrentes de descanso e de ocupação. Os tempos de ocupação dentro dos piquetes podem variar de um a sete dias, dependendo do tipo de sistema de produção (leite ou corte), e o período de descanso podendo variar de 28 a 42 dias a depender da espécie forrageira.
“Nos sistemas de produção de leite, o período de pastejo recomendado pode variar de um a, no máximo, três dias, sendo que em um dia obtenho o máximo de desempenho animal e em três dias um menor custo na implantação dos piquetes (menor número de subdivisões)”, salienta Cruz.
PRÓXIMAS ETAPAS
De acordo com a Embrapa Rondônia, depois de implantar a suplementação cana mais ureia nas propriedades de alguns produtores rurais do Estado, as próximas etapas preveem o melhoramento da qualidade do leite, que inclui cuidados com a higiene da ordenha e controle de mastite, e práticas reprodutivas e de melhoramento genético.
“É uma mudança de visão do produtor, o que é o mais importante. É a conscientização de que existem tecnologias que são acessíveis a todos e que é possível produzir mais em uma área menor e melhorar a renda do produtor. Isso impulsiona a agricultura familiar, tornando-a mais competitiva e sustentável”, explica o médico veterinário da Embrapa Rondônia Rhuan Lima.
Por equipe SNA/RJ