Tardia, colheita de soja do Brasil pode estar 70% vendida quando começar

O Brasil não terá apenas uma colheita de soja tardia na safra 2020/21, devido ao atraso no plantio, mas quando ela começar a se intensificar, ao final de janeiro, é possível que até 70% da produção estimada para a temporada já esteja comercializada, avaliou nesta quinta-feira a consultoria StoneX.

Isso significa que os preços da soja, que superaram R$ 160,00 a saca no porto de Paranaguá (PR) nesta semana devido à baixa disponibilidade, um nível nunca visto, deverão ter pouco alívio quando os trabalhos de colheita começarem.

O atraso no plantio pela demora da regularização das chuvas de primavera neste ano, contudo, não representa, por ora, problemas para a produtividade ou para o tamanho da área plantada, uma vez que a safra deverá ser semeada dentro da janela adequada para a oleaginosa, disse à Reuters a analista de inteligência de mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi.

A consultoria, assim, está mantendo a estimativa de aumento de área de 3% em relação à safra anterior, para um recorde de quase 38 milhões de hectares, conforme previu no início do mês em sua reavaliação mensal, o que resultaria uma safra recorde de 132.6 milhões de toneladas, aumento de 7% em relação à safra 2019/20.

A avaliação leva em conta investimentos que estão sendo realizados na lavoura, diante dos preços recordes e das fortes fixações de vendas.

Nas contas da StoneX, o produtor já comercializou antecipadamente 53% da produção brasileira, ou mais de 70 milhões de toneladas, um volume superior à safra da Argentina, terceiro produtor mundial após EUA e Brasil.

“Tem que ver como o produtor vai se comportar, com essas questões de clima, ele acaba ficando mais comedido. Mas daqui a três meses, quando começar a colheita, algo entre 60% e 70% da safra pode já estar vendido”, disse a analista.

“Os preços podem, quando a colheita ganhar força, dar uma baixada, mas nada tão significativo, porque vamos começar a safra 2020/21 com expressivos volumes vendidos”, disse.

A analista disse ainda que o atraso no plantio do País, maior produtor e exportador global de soja, tem levado alguns produtores a renegociar entregas de soja antes previstas para janeiro.

Boa parte deles, segundo os relatos do mercado, disse ela, estão postergando as entregas para fevereiro, quando a colheita tende a estar mais concentrada.

Apesar da concentração maior do início da colheita em fevereiro, a analista disse não acreditar em problemas logísticos e nos portos, devido aos investimentos realizados recentemente para melhorar o escoamento.

“Não deve ter problemas em portos, pode ter aumento no custo de frete, mas não deve faltar logística”, disse.

Entretanto, a soja brasileira começará a ser embarcada um pouco mais tarde, o que deve reforçar a janela de exportação dos Estados Unidos, lembrou.

“Tanto que já tem produtor renegociando contratos, renegociando para entregar em fevereiro”, indicou.

Enquanto em 2019/20 o Brasil registrou no final de janeiro, 10% da safra colhida, e em 2018/19, cerca de 20% da colheita realizada, na temporada atual com “grande certeza” haverá disponível menos de 10% da soja estimadas para o ciclo, indicou a analista.

Para Ana Luiza, as esmagadoras de soja estão cientes de que janeiro tradicionalmente não é um mês de grande oferta. Mas nesta temporada a baixa oferta carregada da safra anterior, após fortes exportações e grande consumo interno, vai acirrar a disputa com os exportadores.

“Vamos terminar 2020 praticamente sem soja, então janeiro, quanto mais demorar a entrar a safra nova no mercado, mais reforça a restrição da oferta”, disse ela, avaliando que, embora as chuvas comecem a se regularizar para o plantio, não será possível tirar o atraso.

O Mato Grosso, que costuma liderar os trabalhos de colheita, havia plantado menos de 10% da área até a última sexta-feira, ante mais de 40% no mesmo período do ano passado.

A consultoria também não alterou os números para o milho primeira safra, com colheita estimada pela StoneX em 27.9 milhões de toneladas, mas está monitorando uma seca no Rio Grande do Sul, importante produtor do cereal no verão.

Com relação a segunda safra, plantada após a colheita da soja, Ana Luiza disse que o atraso preocupa, mas comentou que produtores têm intenção de ampliar a área diante de bons preços, e deverão avançar mais ou menos dependendo das sinalizações climáticas sobre o alongamento ou não das chuvas.

Reuters 

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