Os investimentos em cultivo de produtos orgânicos vêm ganhando espaço no país. O governo federal anunciou, nesta última sexta-feira (05), que disponibilizará R$ 8,9 milhões para financiamento de projetos que visam construir e disseminar práticas agroecológicas e orgânicas. Através da ampliação de projetos de pesquisa, a intenção é que a produção orgânica ganhe ainda mais competência e competitividade que, segundo a diretora da SNA Sylvia Wachsner, se apresenta como o setor de alimentos que mais cresce nos supermercados.
Em consonância com os investimentos, desde o início do ano passado, a certificação dos produtos orgânicos vêm agregando ainda mais valor aos orgânicos, que passaram a ser distinguidos mais facilmente pelos consumidores. Para Sylvia, a regulamentação estreitou a confiança na relação existente entre produtores e consumidores. “Os consumidores passaram a ter garantia de que estão comprando um produto realmente orgânico. A relação de confiança que sempre existiu passou a ter mais respaldo”, explica.
Produzidas de forma sustentável e sem utilização de agrotóxicos, as práticas orgânicas privilegiam a preservação ambiental. “A produção orgânica preserva o solo e a qualidade da água, não utiliza agrotóxicos, promove a biodiversidade, garante renda para pequenas propriedades e contribui para melhorar a saúde dos agricultores”, destaca Sylvia.
Leia na íntegra a entrevista concedida pela diretora:
SNA – Como está o sistema de produção de orgânicos no Brasil?
S.W. – Comparada à produção brasileira de alimentos, a produção orgânica ainda é um nicho de mercado. Entretanto, é o setor de alimentos que mais cresce nos supermercados. As feiras de produtores orgânicos se multiplicam nos diversos municípios, assim como as lojas de produtos orgânicos, que agora já contam até com comércio eletrônico.
SNA – As certificações trouxeram mais valor ao setor?
S.W. – Desde janeiro de 2011, os produtos orgânicos passaram a ser rotulados como tal e as certificadoras que realizam esse trabalho foram devidamente cadastradas no Ministério de Agricultura. Desta maneira, os consumidores passaram a ter garantia de que estão comprando um produto realmente orgânico. A relação de confiança que sempre existiu entre produtores e consumidores passou a ter mais respaldo.
SNA – Quais os benefícios dos alimentos orgânicos?
S.W. – Os consumidores preferem alimentos produzidos sem agrotóxicos, não apenas para preservar a saúde, mas também porque estão cada vez mais conscientes de que a produção orgânica promove a sustentabilidade ambiental.
SNA – Quais os desafios que os produtores de orgânicos enfrentam para conquistar mercado?
S.W. – A produção orgânica envolve um expressivo número de agricultores familiares e pequenos produtores, que enfrentam, em outra proporção, os mesmos desafios do grande produtor, como os problemas de logística para distribuir seus produtos e o acesso às prateleiras dos varejistas. Mas esse acesso está mudando com a abertura de pequenos varejistas dispostos a investir na comercialização dos alimentos orgânicos. Curitiba, por exemplo, conta com um espaço no Mercado Municipal com lojas e restaurantes de orgânicos. São Paulo possui novos espaços que comercializam estes alimentos e chefs de cozinha estão fechando parcerias com produtores para utilizar produtos orgânicos nos cardápios.
SNA – O setor de orgânicos é o que mais emprega trabalhadores rurais, mas os produtos envolvidos representam apenas 1% do que é produzido no Brasil. Por quê?
S.W. – Primeiro porque a produção de orgânicos está mais vinculada à agricultura familiar e aos pequenos produtores, que utilizam mão de obra familiar. A produção de alimentos orgânicos é diferente da produção de alimentos em larga escala, industrializados ou nas monoculturas, totalmente mecanizadas. Em geral, a área plantada é menor, com produção diversificada.
SNA – Como é feito o processo de produção de orgânicos?
S.W. – O cultivo de produtos orgânicos é realizado mediante a otimização do uso dos recursos naturais, integrando a sustentabilidade ambiental e social à produção. Na produção orgânica não são usados material geneticamente modificado, adubos nem defensivos químicos. É também um sistema mais justo socialmente, pois emprega maior número de trabalhadores, envolvendo a participação das famílias, o que é muito importante para manter o homem no campo e não forçar ainda mais o êxodo rural e a sobrecarga nas grandes cidades.
SNA – Quais os benefícios da produção orgânica?
S.W. – A produção orgânica preserva o solo e a qualidade da água, não utiliza agrotóxicos, promove a biodiversidade, garante renda para pequenas propriedades e contribui para melhorar a saúde dos agricultores.
SNA – Quais projetos estão sendo desenvolvidos para o crescimento do setor?
S.W. – Um dos principais é o programa do Governo Federal que determina que 30% dos alimentos oferecidos na merenda escolar sejam adquiridos dos produtores familiares, especialmente da produção orgânica, o que foi muito importante para dar um impulso e desenvolver o setor. Com a vantagem de promover ainda a saúde dos aproximadamente 30 a 40 milhões de estudantes que desfrutam diariamente dessa merenda mais saudável. Eu acho que o programa é muito importante, pois também permite aos produtores comercializarem os produtos em seus municípios, reduzindo seus custos de logística e transporte. É o que chamamos de “caminhos curtos”, que mantêm a receita do interior do país. Para comercializar seus produtos na merenda escolar e nos programas da Companhia Nacional de Abastecimento, os agricultores familiares e suas cooperativas também devem estar devidamente legalizados.
SNA – O governo está investindo no financiamento de projetos em torno das práticas orgânicas. Nesse mesmo sentido, a SNA vem se empenhando no crescimento do setor com projetos como a OrganicsNet …
S.W. – OrganicsNet é um empreendimento da SNA que tem como objetivo estimular a cadeia de produção orgânica pela criação de uma rede de produtores e pequenas e médias empresas. Em março de 2008, o site OrganicsNet foi lançado, com nove empresas participantes, e quatro anos depois contamos com 35 empresas localizadas nos diversos estados brasileiros. É um ponto de convergência entre produtores e empresas interessadas em conhecer novos parceiros e comercializar seus produtos. A plataforma, cuja base é a Internet, é também um espaço para compartilhar conhecimentos sobre oferta e demanda de mercado, rotulagem, certificação, legislação, características de produtos, locais de comercialização e acesso a ferramentas que facilitam a gestão dos seus empreendimentos. O projeto foi aprovado, dentre centenas de candidatos, para receber um financiamento do Fundo Multilateral de Investimento (FOMIN), do BID, e conta também com a parceria e patrocínio do Sebrae/RJ. Ficamos satisfeitos que os excelentes resultados da avaliação realizada pelo BID e pelo Sebrae permitiram à SNA desenvolver um novo projeto na área de orgânicos, seu Centro de Inteligência em Orgânicos. O OrganicsNet abriu um espaço para que os produtores pudessem divulgar suas marcas e produtos, e criou sinergia entre as empresas participantes, que, sobretudo, puderam incrementar sua receita e entrar em novos mercados.
SNA – Como o Centro de Inteligência em Orgânicos contribui para o setor?
S.W. – O Centro de Inteligência em Orgânicos pretende contribuir para o crescimento do setor ao disponibilizar um banco de dados de acesso público para a integração e difusão de informações sobre a cadeia produtiva de orgânicos no Brasil. Ao longo de três anos, serão levantados os dados do setor, desenvolveremos estudos, pesquisas e material educacional. Vamos identificar, analisar e divulgar informações estratégicas que incentivem parcerias públicas e privadas, entre outras atividades. Todas as ferramentas estarão disponíveis no site, ajudando nas tomadas de decisão de todos os envolvidos neste segmento em busca de melhor qualidade, produtividade e competitividade dos sistemas orgânicos de produção.
SNA – Qual é a previsão para o setor com os investimentos que estão sendo feitos?
S.W. – Acredito que o mercado se ampliará à medida que as pessoas tiverem consciência da importância de uma alimentação mais saudável, da contribuição da produção orgânica para a sustentabilidade. A ampliação dos canais de distribuição e venda também é necessária, assim como ações governamentais que contribuam para garantir a aquisição de parte da produção, como já existe a aquisição para a merenda escolar. O estímulo ao comércio local também é muito positivo, tanto para promover saúde quanto para evitar gargalos de distribuição, como transporte e aumento do preço dos produtos ao longo da cadeia, até a chegada aos supermercados. É normal que os produtos orgânicos sejam mais caros do que os convencionais, pois exigem muito trabalho e não alcançam a mesma produtividade do produto convencional, mas a tendência é que, com a ampliação da oferta, esse preço possa baixar, incluindo mais pessoas no consumo.