Suinocultores trabalham com margens negativas devido à alta nos custos de produção

A alta nas cotações do milho e do farelo de soja, principais componentes da ração animal, tem impactado nos custos de produção do setor de suínos e muitos produtores já trabalham com margens ajustadas neste início de ano. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a elevação nos preços do milho é um reflexo da escassez de oferta em muitas regiões produtoras.

Com a taxa de câmbio favorecendo as vendas externas, o Brasil exportou volumes recordes do cereal em 2015, deixando o mercado interno com restrição no abastecimento, especialmente as localidades próximas aos portos. Com isso, os preços do milho no mercado interno tiveram uma guinada nos últimos meses, chegando a bater 44 reais a saca no Porto de Paranaguá.

Atualmente a ração é responsável por aproximadamente 80% dos custos dos granjeiros no País. Com a elevação nos preços do farelo soja e milho em centros de produção da avicultura e da suinocultura, a relação de troca medida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) atingiu em janeiro patamar abaixo de sete quilos, o que segundo o pesquisador Augusto Maia, é um fator preocupante.

De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro, atualmente é possível comprar com o valor de um quilo do animal vivo, o equivalente a 6,10 kg de milho. No igual período de 2015 essa relação de troca era de 9,7 kg.

“Há relatos de muito produtores com dificuldade adquirir os insumos, e pelo que ouvimos do setor, se esse cenário se entender por mais dois a três meses, podemos ver planteis fechando e produtores saindo da atividade”, disse Maia.

Segundo ele, o ingresso da safra de verão nos próximos meses poderá amenizar a pressão sobre as cotações no mercado interno, no entanto, o volume de milho produzido na primeira safra tem reduzido drasticamente nos últimos anos, não sendo uma oferta capaz de derrubar preços. Além disto, é preciso considerar que os indicadores econômicos apontam elevações ainda maiores na taxa de câmbio, com isso a rentabilidade exportadora se torna mais atraente e o abastecimento interno pode fica comprometido.

O preço do milho somente nos primeiros 20 dias de 2016 saiu de R$ 37,30 a saca para R$ 43,36 a saca nesta semana. Esse valor é equivalente a uma alta de 13,98% no indicador CEPEA, referência na praça de Campinas (SP). Já o preço médio do farelo de soja apresentou alta de 14% neste inicio de ano em comparação a 2015. Segundo levantamento da Scot Consultoria em São Paulo, a tonelada do alimento concentrado está cotada, em média, em R$ 1.324,80, sem o frete.

No Rio Grande do Sul, os suinocultores já trabalham com margens ajustadas desde o final do ano passado. De acordo com o presidente da ACSURS (Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), Valdecir Folador, o custo médio para produzir um quilo do animal vivo gira em torno de R$ 3,40 sendo o preço pago ao produtor independente de R$ 3,53/kg.

“Poderemos ver uma retração no investimento com os produtores tentando diluir os custos. Estamos bastante apreensivos como cenário que se desenha no primeiro trimestre do ano, a expectativa é de um período bastante difícil, o que deve amenizar serão as exportações”, disse o presidente.

 

SANTA CATARINA

Em Santa Catarina, maior região produtora do País, a situação é ainda mais grave. De acordo com Maia, a produção do milho no Estado não tem sido insuficiente para atender à demanda do setor de carnes e, muitos produtores precisam arcar com frete para trazer a matéria prima de outras regiões.

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, conta que os produtores já trabalham com margens negativas neste inicio do ano. Enquanto o custo de produção chega a R$ 3,70/kg o preço pago ao produtor independente não ultrapassa R$ 3,40kg. Com isto, a perda na venda de um animal inteiro pode chegar a 30 reais.

“Estamos com dificuldade para conseguir o milho porque os produtores estão com expectativas de novas altas nos preços e acabam retendo a mercadoria. Nossa preocupação é que até o momento o suinocultor ainda conseguir arcar com o milho na casa de 43 reais a saca, o problema é que se os preços subirem novamente, poderemos ter a oferta, mas o granjeiro não vai conseguir arcar com esses valores”, disse Lorenzi.

 

MATO GROSSO

Em Mato Grosso, a Associação dos Criadores de Suínos (Acrismat) entrou com medida preventiva junto a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) solicitando a abertura de leilões de milho no período de entressafra.

O setor está preocupado com a falta do grão, principalmente devido ao grande volume que tem saído do Estado para outras regiões, especialmente a sudeste. Segundo o presidente da Acrismat, Raulino Teixeira Machado, a situação é alarmante não somente para suinocultures como também para as cadeias de aves e bovinos confinados.

Segundo ele, a situação só se estabilizará com a colheita da safrinha, porém até meados de junho não há perspectiva da entrada de grandes volumes do cereal no estado. “A demanda necessária até o mês de maio é de aproximadamente um milhão de sacas para a suinocultura”, afirma Machado.

O cenário se agrava devido ao período de baixos preços para a carne suína. Tradicionalmente no primeiro trimestre de cada ano o consumo interno enfraquece, e neste ano devido à descapitalização da população, a demanda tem sido ainda mais baixa, pressionando as cotações em todas as regiões produtoras.

Mesmo com a expectativa de melhora nas exportações – com a abertura de mercado a Coreia do Sul – as vendas externas acabam representando apenas 15% da produção nacional, não sendo suficiente para escoar o excesso de produto no mercado interno.

Outro fator negativo para 2016 é a projeção de aumento em torno de 2% a 3% na produção de carne suíno no Brasil, segundo a ABPA. Para Lorenzi esse fator torna o quadro da suinocultura ainda mais grave, pois “teremos um excedente no mercado em 2016”, disse.

“A dúvida é se conseguiremos ter competitividade no mercado internacional para atender os novos mercados com esses custos em alta”, disse Lorenzi.

REIVINDICAÇÕES

Entre as medidas reivindicadas pelo setor para minimizar esse cenário está à importação da matéria prima de outros países, venda de estoques governamentais pela Conab e a criação de uma política de controle de comercialização dos grãos.

Segundo o vice-presidente de Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin, o setor tem se organizado para requerer junto ao governo federal medidas que possibilitem a continuidade da produção sustentável de proteína animal em todo o País.

“Nós teremos uma audiência na terça-feira (19 de janeiro) juntamente com os produtores no Ministério da Agricultura, para relatar e encontrar possíveis soluções para o setor, como por exemplo, a utilização de meios de importação do Paraguai, Uruguai, Argentina, ou outros destinos. E também a utilização de mecanismos do governo como venda e transferência de estoques”, disse Santin.

Para o presidente da Asemg, mesmo com a entrada da oferta de primeira e segunda safra, boa parte da produção foi comercializada antecipadamente e não deve chegar a atendem em sua totalidade a demanda nacional do mercado de carnes.

“Boa parte da produção, principalmente no Centro-Oeste, já foi comercializada antecipadamente, então esses volumes não vão atender o mercado de suínos. Nós precisamos de políticas de regulação que controlem o percentual de venda e as exportações, afinal é muito mais vantajoso que o Brasil exporte a carne – com valor agregado – do que o milho ou a soja”, disse Ferraz.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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