Startups levam sustentabilidade ao agro

 

Em menos de um ano, o número de startups no Brasil voltadas para o agronegócio cresceu 40%. As startups são empresas tecnológicas que desenvolvem serviços e soluções inovadoras.

No agro, elas são chamadas de agtechs e oferecem diversas tecnologias para apoiar o produtor em seus desafios no campo e impulsionar a competitividade do agronegócio.

Foram 1.574 agtechs registradas no último Radar Agtech, grande parte delas voltada para soluções com o viés da sustentabilidade, para impactos imediatos na otimização de processos e aumento da produtividade.

“A maioria das startups já nasce com o propósito de promover uma agricultura mais sustentável, ou seja, produzir mais com menos”, explica André Fukugauti, Gerente de Inovação da Bayer.

As agtechs auxiliam produtores no atual cenário de crescente demanda por produtos agrícolas com menor impacto ambiental.

“O avanço em tecnologia foi o principal motivo desse grande crescimento das startups do Brasil, e isso associado à disponibilidade de investimento, mais acesso à informação por meio de programas de incentivo e ao empreendedorismo”, comenta Fukugauti.

Transformação digital no campo

Pequenos agricultores já dotam tecnologias para maior eficiência no campo. Foto: Istock

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 85% dos pequenos e médios produtores já adotaram tecnologias que auxiliam no gerenciamento das lavouras, o que reforça que essa transformação digital no campo é uma tendência e essencial para suprir a demanda por alimentos.

O gerente de inovação da Bayer afirma que a grande vantagem de trabalhar com startups é a oportunidade de verificar o impacto do valor gerado pela solução tecnológica antes de ser aplicada em larga escala.

Neste contexto, as agtechs são um grande estímulo à agricultura digital e têm papel muito importante para intensificar os processos de inovação no campo.

O produtor está adotando tecnologia do plantio à colheita, o que gera avanços que revolucionam o campo, aumentam a produtividade, reduzem custos e riscos. Essas empresas inovadoras transformaram e continuam transformando o perfil do produtor brasileiro, que agora pode ser chamado de digital.

Em apenas um mês, mais de 100 startups do Brasil e do mundo enviaram suas inscrições para o desafio da Bayer. Foto: Istock

Em busca de soluções que vão auxiliar o produtor na adoção de práticas de produção com melhor uso dos recursos naturais, a Bayer e a AgTech Garage criaram o Desafio de Sustentabilidade Bayer LATAM.

“O desafio é um grande exemplo de como grandes empresas estão colaborando com startups. São definidos temas estratégicos ligados à sustentabilidade, como a questão da emissão de gases do efeito estufa, uso eficiente de água e manejo de ervas daninhas, pragas e doenças”, explica José Tomé, cofundador da AgTech Garage.

Em apenas um mês, mais de 100 startups do Brasil e do mundo enviaram suas inscrições e as duas startups selecionadas foram a mineira iCrop e a francesa MyEasyFarm.

Eficiência na irrigação

A iCrop conta com soluções que auxiliam os agricultores na gestão da irrigação para tomadas de decisão mais assertivas e baseadas em dados.

Além disso, com consultores espalhadas pelos principais polos do país, a iCrop visa proporcionar aos produtores rurais uma alta produtividade aliada à otimização do uso da água e da energia elétrica.

Estou irrigando na quantidade exata e usando a melhor estratégia para a cultura? Estou sendo eficiente no consumo de energia para irrigação? A lâmina do meu pivô está adequada? Minha equipe está preparada para tomar a melhor decisão de irrigação?

Respondendo a essas perguntas, a startup tem conseguido gerar uma economia de 30%, em média, no consumo de água e energia dos seus clientes que adotam uma plataforma de gestão da irrigação.

A Fazenda Três Irmãos, localizada no município de Jussara, em Goiás, contabiliza mais de 5 mil animais e 13 pivôs. O proprietário, Fernando Porto, queria conciliar a melhor época de plantio do feijão como primeira cultura com a manutenção do pasto fora de época, a partir do cultivo da braquiária ruziziensis, já que a pecuária de corte é o negócio principal do grupo.

Feijão é pastejado junto a braquiarias pelos animais – Foto: Gabriel Faria/Embrapa

A integração lavoura-pecuária visava aumentar o potencial produtivo da fazenda, que também enfrentava o problema da demanda de energia da região.

“A gente tinha uma turma que fazia uma leitura bem simples das nossas contas na parte de irrigação. A turma amadureceu e, como todo processo de treinamento de pessoal e de dimensionamento de máquinas, chegou a hora de a gente buscar informações. Aí entrou a iCrop. Eu acho necessário abrir as portas da fazenda porque quem está entrando ali vem para somar resultados. A iCrop veio e acrescentou no nosso processo produtivo”, diz Fernando.

Integração de dados

A segunda vencedora do desafio foi a startup francesa MyEasyFarm, que lançou recentemente sua operação no Brasil.

A agtech conta com uma solução que colhe dados da fazenda ligados ao solo, clima, máquinas e práticas agrícolas e que mede o armazenamento de carbono dos agricultores, bem como as emissões de cada operação.

A plataforma produz um relatório do sequestro de carbono na propriedade por meio da coleta automatizada de dados. Imagem: MyEasyFarm

Com as informações, a plataforma produz um relatório do sequestro de carbono na propriedade, com objetivo de facilitar a mensuração para incentivar práticas sustentáveis.

“Nosso diferencial é que somos integrados a uma plataforma de agricultura de precisão, então ela capta todos os dados e automatiza, gerando uma declaração de boas práticas. Com isso, os produtores rurais conseguem provar, sem necessidade de processos burocráticos, o quanto de carbono conseguiram sequestrar”, diz Martin Lucidarme, representante da MyEasyFarm no Brasil.

O fluxo de dados, entre as máquinas e o sistema da empresa, se dá por uma via de mão dupla em que um alimenta o outro, independentemente da marca dos equipamentos. Com mais de 1 milhão de euros captados entre investidores desde a sua criação, a startup atende cerca de 400 clientes no mundo.

Ambiente propício para novas startups

O Desafio de Sustentabilidade Bayer LATAM vem criando muitas outras oportunidades em termos de negócios e visibilidade para essas empresas. Um exemplo é a startup de agricultura de precisão Sensix.

“Os programas de aceleração de startups ficaram mais maduros. Enfim, temos um ambiente propício para empreender no Brasil”, pontua André Fukugauti, Gerente de Inovação da Bayer.

“O que nós fazemos na Sensix é transformar fazendas em ambientes de gestão orientados a dados. Compilamos uma série de informações que vêm da fazenda, como fertilidade de solo, máquinas, chuva, imagem de satélite e imagem de drone para fazer com que essas informações deem suporte ao produtor no gerenciamento de sua lavoura”, conta Carlos Ribeiro, cofundador e diretor dessa agtech.

Principais resultados obtidos pela plataforma Sensix são geração de economia de insumos, maior produtividade e maior eficiência operacional. Foto: Sensix

Os principais resultados obtidos pela plataforma Sensix são geração de economia de insumos, maior produtividade e maior eficiência operacional.

“Nosso foco é gerar rentabilidade. Trabalhamos todos esses dados, organizamos a informação para que, lá na ponta, seja prático calcular a redução de custos, aumento de produtividade ou os dois”, explica Ribeiro.

Outra startup que traz soluções para o setor é a Aegro. Segundo Pedro Martins Dusso, sócio-fundador da empresa, a Aegro é um sistema de gestão para fazendas de pequeno a médio porte, que atende produtores no Brasil inteiro, com propriedades de 500 a 5 mil hectares.

É um sistema que oferece controle da parte produtiva e operacional, como também um controle gerencial e financeiro da fazenda. Esse sistema de gestão ajuda o produtor a resolver diferentes tipos de problema.

“Temos histórias de produtores que começaram a ter uma visão muito mais clara do quão custoso estava sendo a manutenção de certas máquinas, por exemplo. Alguns produtores identificaram baixa margem ou margens negativas de algumas áreas arrendadas, por isso decidiram cancelar os arrendamentos. Temos ainda casos de produtores que, depois de implantarem o sistema, viram a rentabilidade que tinham e conseguiram expandir sua área”, destaca Dusso.

Radar Agtech 2021/2022

Startups do setor agropecuário brasileiro interessadas em participar do Radar Agtech Brasil 2022 têm até o dia 31 de maio para realizarem o cadastro. O mapeamento feito pela Embrapa com a SP Ventures e a Homo Ludens Research & Consulting confere às agtechs visibilidade junto a empreendedores de ecossistemas local e internacional.

A participação voluntária é gratuita: https://bit.ly/radaragtech

 

Fontes: Bayer, Agtech Garage, Radar Agetch e Icrop

A Lavoura

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