O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) divulgou resultados do monitoramento das condições de seca no Estado de São Paulo. Conclui-se que o período hidrológico de outubro de 2013 a março de 2014 foi extremamente seco no Estado, condição que refletiu em todos os setores, incluindo a agricultura e os usos humano e industrial. “A seca está elevada e a probabilidade de ocorrência desses valores anômalos é de duas vezes em 100 anos ou de apenas uma vez”, afirma Orivaldo Brunini, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Com a chegada da frente fria e as chuvas ocorridas na semana passada (22 de maio), segundo Brunini, pode ter havido alteração momentânea da situação de seca agrícola, mas os aspectos meteorológicos e hidrológicos ainda são sérios. “Na última semana, o Estado sofreu a influência de forte fria, que ocasionou chuvas em diversas regiões, o que pode ter alterado momentaneamente a situação de seca agrícola”. O pesquisador afirma que, nestes últimos dias, em algumas regiões paulistas choveu bastante e em outras o volume foi baixo. Nesse cenário, serão iniciadas semanalmente as análises de seca. “Sob a consideração agrícola, ainda estamos para iniciar a estação seca no Estado e essas situações serão avaliadas nos próximos 15 dias, para diversas culturas”, afirma.
Os resultados de análises da seca feitas pelo Instituto Agronômico apontam que a situação meteorológica do Estado é preocupante e o planejamento do uso dos recursos hídricos deveria ser iniciado.
Para Campinas, considerando-se a série climatológica, do ano de 1890 a 2014, o período de janeiro a março foi o segundo mais seco. “Esta mesma tendência é observada quando se analisa o ano hidrológico, considerando o período de outubro a março, em 2013/2014 foi o mais seco em 123 anos de estudos”, diz Brunini, responsável pelo trabalho.
O período hidrológico 2013/2014 foi de baixa precipitação em todo o Estado, acentuando-se de janeiro a abril. “As condições de déficit hídrico se acentuaram na segunda semana de maio.”
De acordo com o estudo, no momento atual a segurança hídrica do Estado está ameaçada pelo comprometimento das reservas hídricas nos reservatórios e pela falta de chuva, que podem trazer sérios problemas, como racionamento de água e energia. “Como não temos mecanismos de evitar o fenômeno seca, devemos adotar técnicas e ações que possam mitigar, ao longo do tempo, os efeitos danosos desta situação”, recomenda.
Reflexos da seca para a agricultura
“A agricultura e seus processos são os fatores mais sensíveis e suscetíveis a qualquer anomalia climática ou extremo meteorológico, como seca ou geada”, afirma Brunini, também responsável pela análise desenvolvida pelo Instituto, em parceria com o Comitê das Bacias Hidrográficas da CATI, ambos da Secretaria de Agricultura de São Paulo. O trabalho mostra que as culturas em desenvolvimento nos campos paulistas estão sendo afetadas pela realidade que inclui seca, altas temperaturas e baixa umidade do ar.
Com base nos dados registrados pelo IAC, são feitas algumas considerações sobre as culturas e também sobre pragas e doenças que podem ocorrer, dentro das condições climáticas existentes. “Primeiramente, é feita uma análise agrometeorológica e depois elaboramos considerações especificas sobre algumas culturas”, explica Orivaldo Brunini.
Os estudos trazem também informações sobre como está a situação de umidade do solo em todo o território paulista. Segundo o pesquisador, essa umidade é estimada em função do balanço hídrico e dos índices de estresse hídrico e desenvolvimento da cultura, para duas profundidades de sistema radicular. “Contatamos que as condições de umidade do solo estão críticas para quase todo o Estado, trazendo sinal de alerta para as culturas de outono e inverno cultivadas com irrigação, pois não há água para irrigar.”
O estudo traz informações sobre alguns cultivos, como a cana de açúcar, que tem a rebrota da soqueira desfavorecida pela baixa reserva hídrica no solo. Com isso, o ciclo seguinte da cana será prejudicado em termos de brotação, o que irá refletir na produtividade do canavial.
No café, a alta deficiência hídrica poderá comprometer a indução floral e a brotação de novos ramos para a próxima safra. No cultivo de grãos, como milho safrinha e soja, apesar de a estiagem favorecer a colheita, ela afeta o desenvolvimento do milho safrinha.
Com relação ao manejo de pragas e ervas daninhas, os baixos índices de umidade e de absorção de água pelas plantas comprometem a eficiência do controle químico por meio de aplicação de herbicidas. “No caso de pragas de solo, como larva alfinete, a baixa umidade do solo prejudica o seu desenvolvimento. Por outro lado, pragas foliares, como lagarta do cartucho e, em especial, a Helicoverpa Armigera, são favorecidas”, esclarece.
As características gerais analisadas em diversas regiões do Estado de São Paulo, envolvendo diferentes culturas agrícolas, apontam para uma situação muito difícil para a agricultura paulista. “Embora se possa pensar em irrigação, nem todos os agricultores estavam preparados para esta técnica, seja no aspecto técnico, seja legal e, além disso, não existe adequada reserva hídrica para tal prática”, afirma.
De acordo com Brunini, uma projeção com as médias históricas de precipitação de abril a setembro mostra que a deficiência hídrica persistirá até setembro de 2014, o que afetará os cultivos e processos agrícolas.
Fonte: IAC