Solo: corrigir para produzir mais

Acidez do solo pode ser resultante de processos naturais, como o intemperismo, que promove a remoção dos nutrientes, ou pelo uso inadequado do solo, responsável pela aceleração do processo de acidificação. Foto: Divulgação A Lavoura nº 708/2015

Grande parte dos solos brasileiros apresenta problemas de acidez. Os pesquisadores Marcos Pereira e Nivaldo Schultz, ambos do departamento de Solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, explicam que “solos ácidos, em sua grande maioria, são caracterizados por apresentarem elevados teores de alumínio, tornando-se, assim, tóxicos para as plantas”.

“O alumínio promove modificações no sistema radicular das culturas, diminuindo a taxa de absorção de nutrientes.”

Segundo os pesquisadores, essa condição, adicionada aos baixos teores de cálcio e magnésio, pode limitar o desenvolvimento das culturas e comprometer seu potencial produtivo, até mesmo em sua totalidade, dependendo do grau de acidez.

As informações foram publicadas na edição nº 708/2015 da revista impressa A Lavoura, veiculada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

 

ORIGEM DA ACIDEZ

A acidez do solo pode ser resultante de processos naturais, como o intemperismo, que promove a remoção dos nutrientes, ou pelo uso inadequado do solo, responsável pela aceleração do processo de acidificação.

“Não existem estatísticas específicas sobre o tamanho das áreas brasileiras afetadas pela acidez, mas podemos destacar os cerrados, as terras altas da região Amazônica, os tabuleiros costeiros da orla litorânea, e os planaltos subtropicais, que se estendem do sul do Paraná ao Norte do Rio Grande do Sul”, apontam Schultz e Pereira.

 

COMO SABER SE O SOLO É ÁCIDO?

A acidez do solo é determinada através da análise química de amostras de terra. A coleta de amostras para análise e o acesso aos laboratórios de análise são processos relativamente simples, mas é importante que sejam feitos por um profissional da área, ao qual o produtor pode ter acesso gratuitamente em todo território brasileiro, por meio dos órgãos de extensão rural e assistência técnica, seja do Estado ou do município.

A análise de terra apresenta um baixo custo, quando comparada com os benefícios que podem ser obtidos a partir da mesma. Em média, uma análise de solo completa, na qual todos os nutrientes essenciais são avaliados, custa atualmente em torno de 25 reais, considerando
duas amostras pelo fato de normalmente se avaliarem as camadas de 0 a 20 e 20 a 40 centímetros. Isso custaria 50 reais por área avaliada.

Ressalta-se que a análise das terras é realizada em áreas que apresentam solos similares, podendo ser necessário mais de uma ou duas análises, se a área do produtor apresentar solos com diferentes declividades, culturas, textura, histórico de utilização, entre outros.

 

Avaliação do solo começa com a separação da área ou propriedade em áreas menores que apresentem características similares como topografia, textura, ou seja, se é mais arenoso ou argiloso, vegetação, histórico de uso anterior, entre outras. Foto: Divulgação A Lavoura nº 708/2015

COLETA DAS AMOSTRAS

A avaliação do solo começa com a separação da área ou propriedade em áreas menores que apresentem características similares como topografia, textura, ou seja, se é mais arenoso ou argiloso, vegetação, histórico de uso anterior, entre outras. Em seguida, são coletadas entre 10 e 20
amostras do mesmo tamanho, caminhando em ziguezague dentro de cada área, sendo o ideal que as áreas não sejam maiores que dez hectares.

Essas amostras são misturadas em um recipiente limpo (balde), de onde se retira uma subamostra de aproximadamente 300 gramas. Em seguida, esta amostra é identificada com o nome ou número da área, cultura, nome do produtor, nome da propriedade e data de envio ao laboratório. Deve-se ter o cuidado de não coletar próximo de construções, formigueiros e estradas.

A coleta pode ser feita com ferramentas específicas como trados de rosca, caneca, entre outras, ou
enxadão, cavadeira e pá reta. É preciso tomar o cuidado de limpar muito bem as ferramentas entre
as coletas para que não ocorra contaminação. Os recipientes para o envio ao laboratório devem
ser novos ou, de preferência específicos para este fim. Eles são fornecidos pelos órgãos de extensão
e assistência técnica.

De posse dos resultados, um profissional capacitado, preferencialmente um agrônomo, vai
avaliar os mesmos e verificar, com base em valores pré-estabelecidos pelas pesquisas, a necessidade de correção e adubação do solo para a cultura de interesse do produtor.

 

NEUTRALIZAÇÃO

“A prática da calagem é, atualmente, o método mais comum para fazer a correção da acidez do solo, apresentando as vantagens de, ao mesmo tempo, neutralizar o alumínio, elevando o pH do solo, e fornecer cálcio e magnésio, que são elementos fundamentais para a nutrição das plantas”, ensinam os pesquisadores, acrescentando que “o calcário é, atualmente, o corretivo de menor custo-benefício”.

Eles afirmam que outros métodos, como o uso de conchas moídas, resíduos de usinas de açúcar e álcool, gesso agrícola, subprodutos da indústria do aço, vêm sendo testados, até mesmo em larga escala, mas não chegaram aos mesmos resultados alcançados pela calagem.

 

A ESCOLHA DO CORRETIVO

Segundo Schultz e Pereira, “a escolha do corretivo deve ser baseada principalmente na disponibilidade deste em função da região onde o produtor se encontra”. “Recomenda-se estar atento ao poder relativo de neutralização total (PRNT) e a eficiência relativa (ER) do calcário, ao custo da tonelada acrescida de frete, armazenamento e aplicação, e ao volume a ser adquirido.”

 

A APLICAÇÃO

A aplicação de calcário no solo deve ser sempre baseada em análise química de amostras de terra, levando-se em consideração a profundidade do sistema radicular da cultura.

“Após a determinação da dose, o calcário precisa ser aplicado sobre o solo, sendo o ideal a aplicação de 50% da dose antes da aração e 50% entre a aração e a primeira gradagem”, explicam os pesquisadores.

Para as culturas perenes, pastagens ou em sistema de plantio direto pode ser necessária a aplicação de calcário em superfície. Neste caso, é recomendável tomar o cuidado de aplicar a dose parcelada com intervalos de, pelo menos, um ano. A calagem, no momento do preparo do solo, precisa ser realizada em torno de 60 dias antes do plantio ou semeadura, normalmente com implementos apropriados, podendo ser feita manualmente dependendo do tamanho da área a ser corrigida.

Schultz e Pereira alertam que, “no caso da calagem em superfície, é recomendável optar pelo período de chuvas de baixa intensidade, evitando-se perdas do corretivo através do arraste pela água da chuva”.

“Os principais cuidados estão relacionados à regulagem dos implementos, uniformidade de distribuição e a segurança na operação de máquinas e implementos.”

 

DURABILIDADE DA CALAGEM

Os pesquisadores explicam que a calagem pode durar até três anos e recomendam que se faça um acompanhamento anual da fertilidade do solo, “uma vez que este é rápido, barato e os ganhos alcançados com esta prática podem ser satisfatórios do ponto de vista econômico e da sustentabilidade do sistema de produção”, justificam.

“A calagem é, sem dúvida, a prática agrícola de menor custo e maior retorno econômico, já que não só neutraliza os elementos tóxicos do solo e adiciona cálcio e magnésio, como também pode promover melhorias nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. é exatamente a partir dessas melhorias que todos os processos microbiológicos tais como a decomposição da matéria orgânica, a fixação biológica de nitrogênio, a atividade biológica do solo, entre outros, serão intensificados”, afirmam Schultz e Pereira.

 

VANTAGENS

A calagem aumenta significativamente a disponibilidade de nutrientes presentes no solo, especialmente o fósforo, que é um dos principais limitantes do potencial produtivo da maioria das culturas de interesse econômico.

“De fato, a acidez do solo deve ser uma preocupação constante, uma vez que a conservação do solo e a sustentabilidade dos agroecossistemas somente serão possíveis se o solo estiver corrigido e em condições de proporcionar elevados níveis de produtividade para as plantas”, concluem os pesquisadores.

 

Para ler essa reportagem, entre outras, acesse www.sna.agr.br/publicacoes. Depois, clique no link da revista A Lavoura Online, edição 708/2015. Para assinar nossa publicação impressa e recebê-la no conforto de sua casa, envie um e-mail para assinealavoura@sna.agr.br.

 

Fonte: Revista A Lavoura

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp