Soja volta a recuar no Brasil com estabilidade em Chicago e queda do dólar

Com o dólar registrando uma forte queda na sessão desta terça-feira (1), os preços da soja no Brasil registraram um novo dia de quedas nos portos e no interior do País. Nos principais terminais, as perdas passaram de 2%, enquanto a moeda norte-americana recuou 1,56% e terminou o dia, cotada a R$ 3,9411 para venda, após duas altas consecutivas.

Apesar de mais uma queda generalizada das commodities, com exceção do petróleo, o mercado financeiro global registrou um dia mais ameno, sem tanto mau humor com notícias vindas, principalmente da China.

“O otimismo com a China continuou ajudando moedas emergentes hoje, mesmo depois de alguns dados fracos”, disse o operador da corretora Correparti Ricardo Gomes da Silva à agência Reuters.

Assim, a saca da soja disponível, no porto de Paranaguá, encerrou o dia em baixa de 3,21%, cotada a R$ 75,50.No de Rio Grande, a queda foi de 2,53%, com a saca cotada a R$ 77,00. Já a saca da soja com entrega prevista para maio no terminal paranaense caiu 2,58%, fechando cotada a R$ 75,50, e caiu 2,38% no terminal gaúcho, cotada a R$ 78,00.

No interior, as praças que mais sofreram foramas do Paraná, com Ubiratã e Londrina caindo 1,48% para R$ 66,50.Já em Ponta Grossa, a saca registrou estabilidade, cotada a R$ 70,00. Em São Gabriel do Oeste, MS, a queda foi de 3,17% para R$ 61,00.

Na outra ponta, os preços recuperaram boa parte das perdas nas praças de Mato Grosso. Tangará da Serra viu o preço subir 4,24% para R$ 61,50, Campo Novo do Parecis 4,27% para R$ 61,00 e Sorriso 3,33% para R$ 62,00.

Além da pressão vinda do dólar, há ainda os fatores sazonais que pesam sobre as cotações, principalmente a evolução da colheita, que já passa de 30% da área plantada, bem como a falta de movimentação do mercado internacional.

No entanto, começam a chamar a atenção alguns problemas climáticos em determinadas regiões produtoras, como é o caso da área conhecida como Matopiba. E uma das situações mais graves tem se dado no Oeste da Bahia, onde cerca de 3 milhões de hectares plantados com soja estão sob forte risco. As elevadas temperaturas e a falta de chuvasque vem ocorrendo há mais de 20 dias, em algumas localidades, está matando as plantas e reduzindo a produção local.

No Piauí, na região de Uruçuí, as plantas adiantaram em um mês seu ciclo de desenvolvimento e as perdas em alguns pontos podem chegar a 60%. No Tocantins, região de Guaraí – onde já foi decretado estado de calamidade, a produtividade pode ficar abaixo das 15 sacas por hectare.

No Sul do Brasil, por outro lado, as perdas vêm sendo ocasionadas pelo excesso de chuvas, na contramão do que acontece no Norte e Nordeste do País. Em áreas como Astorga, no Paraná, a soja já está brotando nas lavouras e perdendo qualidade por conta desse quadro climático.

Exportações de Fevereiro

Apesar dessa situação de incerteza sobre o real tamanho da safra 2015/16 e também da direção do dólar neste momento, as exportações brasileiras de soja em grão, segundo o Secex,em fevereiro foram bastante significativas e totalizaram 2.036.800 toneladas. O volume subiu 443,6% em relação ao mês anterior, quando foram exportadas 394.400 toneladas.

O preço médio da tonelada de soja do Brasil, porém, recuou 6,2% no mesmo período, e foi de US$ 351,20. Já em relação a fevereiro do ano passado, a diferença foiainda maior – de 11,9% -, uma vez que o preço, naquela época, foi de US$ 398,50 a tonelada.

Já a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), que compila dados com base na movimentação efetiva de navios nos portos, informou nesta terça-feira queas exportações de soja do Brasil em fevereiro atingiram 3.920.000 toneladas contra 442.000 toneladas em janeiro.

Em Chicago, mercado segue “andando de lado”

Na CBOT, os contratos futuros da soja chegaram a tentar uma recuperação no início do dia, subindo mais de 5 centavos.Porém, voltaram a perder força e fecharam em baixa de 2,25 a 3,75 centavos nas posições mais negociadas.

“Esse ainda é um mercado baixista bem abastecido já que ainda não há notícias positivas. Além disso, as exportações semanais americanas desapontaram o mercado e o dólar segue forte, afetando as commodities negativamente”, disse Jason Roose, analista de grãos da U.S. Commodities.

Essa movimentação, portanto, continua confirmando um comportamento técnico dos contratos futuros da oleaginosa, justificado, em boa parte, pela relação cada vez mais estreita com o cenário financeiro mundial. A aversão ao risco ainda é elevada – apesar da divulgação de algumas notícias positivas, porém, pontuais – e afastam os fundos do mercado, mantendo os preços ainda travados e com baixa volatilidade, distantes de ativos mais arriscados como as commodities agrícolas.

Entretanto, duas notícias divulgadas nesta terça-feira, segundo analistas internacionais, teriam limitado as baixas registradas pela soja em Chicago.

A primeira delas foi, depois de muitas semanas, o anúncio feito pelo USDA da venda de soja em grão. Foram 140.000 toneladas de soja da safra 2015/16 para destinos não revelados.

A outra se refere à logística brasileira e as dificuldades enfrentadas pelos produtores nacionais por conta do excesso de chuvas em algumas regiões. Em função de dias consecutivos de precipitações, o transporte da soja da safra nova está mais lento do interior do País paraos portos, o que pode atrasar o embarque dos navios.

E as chuvas, além de prejudicarem o transporte, já provocam a paralisação dos trabalhos de colheita em algumas áreas. “Chuvas que podem ser registradas nasregiões Central e Noroeste do Brasil nesta semana podem manter lento o ritmo dos trabalhos de campo”, disse o agrometeorologista sênior do MDA Information Services, Donald Keeney, em entrevista ao Agriculture.com.

Segundo Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia, para a próxima semana também há momentos de atenção, principalmente com a chegada de uma nova frente fria.

“Uma nova frente fria deverá atingir o Rio Grande do Sul entre a quinta e sexta-feira e provocar chuvas generalizadas sobre o Estado. E aos poucos esse sistema avançará, onde irá provocar chuvas em quase todo o País no final de semana e início da próxima semana”, disse.

Clima nos EUA

Os contratos futuros dos grãos negociados na CBOT, há meses “andam de lado” diante da ausência de especuladores no mercado e da falta de novidades entre os fundamentos.

E para o diretor de inteligência de mercado da Cerealpar Corretora e consultor do Kordin Grain, Terminal de Malta, na Europa, essa situação pode mudar caso as condições de clima no Meio-Oeste americano se confirmem desfavoráveis para este novo ano safra.

“Na atual conjuntura do mercado, só mudanças no clima dos Estados Unidos que trouxessem um problema sério poderiam mudar o andamento do mercado”, disse. “Porém, ainda é cedo para sabermos qual será o impacto do clima na nova safra americana, e isso só será possível a partir do período que vai de maio e julho. Aí sim pode haver mais especulação”.

Fonte: Notícias Agrícolas

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