Soja volta a fechar em baixa na Bolsa de Chicago com China e clima nos EUA

Os contratos futuros da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) fecharam em baixa pelo quarto pregão consecutivo. Os principais vencimentos registraram quedas de 4,75 a 5 centavos. O julho/18 fechou a US$ 9,69 ¼, na cotação mais baixa desde 30 de agosto de 2017 e o agosto/18 ficou em US$ 9,74 ¾ o bushel.

Os contratos futuros do farelo de soja fecharam em baixa pela sétima sessão consecutiva. Os principais vencimentos registraram quedas de US$ 0,30 a US$ 0,60. O julho/18 fechou cotado a US$ 357,80 e o agosto/18 a US$ 359,30 a tonelada curta.

“As cotações da soja foram pressionadas pela fraca demanda em meio às condições climáticas favoráveis no meio-oeste americano”, informou o site internacional Agriculture.com. Ainda ontem (7/6), o USDA divulgou as vendas semanais de soja da safra velha, na semana encerrada no dia 31 de maio, de 164.800 toneladas. Já da safra nova, o volume foi de 34.700 toneladas.

“A China, que costumava ser o maior comprador semanal, só foi mencionada uma vez no relatório, por cancelar um embarque de 39.100 toneladas. As relações comerciais entre EUA e a nação asiática têm sido difíceis nos últimos meses, uma vez que os países ameaçaram tarifas sobre os produtos do outro”, destacou o Agriculture.com.

Em relação ao clima, as previsões do tempo ainda indicam chuvas nos próximos dias e bons índices de condições de lavouras. Os problemas são apenas pontuais e não criam uma ameaça aos campos nesse estágio.

Entretanto, o período mais crítico ainda está por vir. E a ARC alerta: “Apesar de um começo de safra extremamente favorável nos Estados Unidos, ainda não há nenhuma tendência meteorológica definida para as próximas semanas, principalmente sobre o Cinturão Agrícola e o Delta do Mississippi, as principais regiões sojicultoras”.

“Apesar de uma inclinação para temperaturas mais quentes durante o verão norte-americano (junho-agosto), o fator de limitante a definição de um teto produtivo será a incidência de chuvas”.

As quedas, além de maior aversão ao risco nesse momento, são também resultado de um ajuste do mercado face ao final de semana antes da divulgação do boletim mensal de oferta e demanda do USDA. O relatório de junho será divulgado no próximo dia 12, com o mercado bem atento aos estoques da safra velha e às estimativas para a safra nova.

Mercado interno

A disparada do dólar nos últimos dias, que em outros tempos levaria produtores de soja e milho do Brasil a intensificar a comercialização, não permitiu uma enxurrada de vendas desta vez, já que as incertezas quanto ao tabelamento de fretes proposto pelo governo deixam os vendedores e compradores em compasso de espera, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.

Dado o peso do transporte rodoviário para a safra do Brasil, o agronegócio está aguardando uma definição sobre os fretes antes de voltar a negociar, deixando de lado a apreciação do dólar – um clássico estimulante para as vendas por proporcionar maiores retornos em moeda local.

Ainda que uma parte dos agentes tenha aproveitado para negociar vendas para entrega futura, a sensação no mercado foi de paradeira nos últimos dias, apesar de uma alta de cerca de 5% no dólar na última semana até quinta-feira, já que nesta sexta-feira, a moeda despencou, após o Banco Central anunciar novas intervenções.

“A valorização (do dólar) levaria a uma melhora de preço e da comercialização, mas a incerteza com os fretes limita isso (…) O comprador não consegue fechar o preço porque não sabe quanto vai ter de custo logístico”, disse o analista Enilson Nogueira, da Céleres, se referindo aos negócios com soja e milho.

Ainda que a volatilidade no câmbio também afete os negócios, é a questão do frete a maior trava. Pairam muitas dúvidas sobre o funcionamento da tabela anunciada pelo governo entre as medidas para encerrar os protestos de caminhoneiros. Na véspera, uma nova versão do tabelamento foi aprovada e, poucas horas depois, suspensa.

Nesta sexta-feira, houve uma reunião na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas não há expectativa de uma nova tabela nas próximas horas, para desespero daqueles que têm embarques programados nos portos. Associações do setor já apontam uma queda nos embarques de soja neste mês, devido ao impasse do frete, que afeta o Brasil em momento em que os estoques estão baixos nos portos, após os protestos.

O diretor da corretora Cerealpar, Steve Cachia, disse que a comercialização da safra brasileira de soja 2017/18, que atingiu recorde de quase 120 milhões de toneladas, está “praticamente parada” desde 21 de maio, quando tiveram início as manifestações. “Sem dúvida nenhuma, o principal fator que levou o mercado a ficar travado é a greve dos caminhoneiros do mês passado e as consequências disso”, afirmou Cachia.

Para ele, contudo, o frete não é a única preocupação do mercado no momento. “Os produtores estão olhando o preço da soja em Chicago derreter e isso também contribuiu para deixar o sentimento mais negativo ainda”, disse.

Desde fevereiro, a vencimento julho/18 na CBOT já acumula queda de 12%, saindo de quase US$ 11,00 para US$ 9,60 o bushel, em meio a uma maior oferta mundial, perspectivas favoráveis para a safra dos Estados Unidos e tensões comerciais.

Toda essa conjuntura deve frear as vendas da soja recém-colhida na safra deste ano, que vinham fortes. Também pode atrapalhar as negociações da segunda safra de milho, a “safrinha”, em fase inicial de colheita. Segundo a Datagro, a comercialização da safra da soja 2017/18 atingiu 73% do volume produzido, contra 61% a um ano e 70% da média recente.

A própria consultoria, agora, já alerta que os prêmios da soja perderam um pouco de embalo e “novos negócios estão sendo inviabilizados pela alta nos fretes gerada pelo tabelamento”. No mercado de milho, também há lentidão. Uma fonte disse até que “o ABCD está fora (dos négocios)”, em referência ao quarteto de tradings que se destaca no mercado mundial: Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company (LDC).

Vendas futuras

Devido às incertezas sobre os fretes e ao dólar forte, uma parte do mercado prefere realizar vendas futuras, para entrega no segundo semestre, indicou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. “Além da dificuldade no frete, os preços estão mais atrativos para os meses posteriores”, afirmou o instituto de pesquisas.

Em Paranaguá, a paridade de exportação de soja, segundo o Cepea, indica preços a R$ 93,49/saca de 60 kg para agosto de 2018 e a R$ 99,04/saca para setembro/18, considerando-se o dólar futuro dos respectivos meses na BM&F de quinta-feira. Na última semana, o indicador do Cepea registrou alta de 1,3%, para R$ 87,69/saca. Outros produtores, por sua vez, preferem já garantir preços satisfatórios nas negociações da próxima safra (2018/19).

Milho fecha em alta em movimento de correção, mas em queda na semana

​Os contratos futuros do milho na CBOT fecharam em alta em um leve movimento de correção, após cinco sessões consecutivas de queda. Os principais vencimentos registraram ganhos de 1,25 a 1,50 centavos. O julho/18 fechou cotado a US$ 3,77 ¾ e o setembro/18 a US$ 3,98 o bushel.

Os contratos futuros do trigo na CBOT, por sua vez, fecharam em baixa. Os principais vencimentos registraram quedas de 6,25 a 7,50 centavos. O julho/18 fechou cotado a US$ 5,20 e o setembro/18 a US$ 5,36 ¾ o bushel.

Segundo declarações de Ted Seifried, analista da Zaner Ag Hedge, à Reuters, “temos boas condições e uma previsão relativamente não ameaçadora. Por isso retiramos muito do prêmio climático. Isso foi agravado pela incerteza sobre o comércio”.

As chuvas previstas ajudaram a retirada da precificação climática, apesar do risco de precipitações fortes em áreas do Cinturão do Milho, além do que os índices de condição da safra do USDA estão entre positivos para o milho. E o USDA divulgará o seu relatório mensal de oferta e demanda na próxima terça-feira (12/6), com um panorama mundial, o que deixa o mercado de sobreaviso.

A alta desta última sessão da semana não impediu o resultado negativo o acumulado na CBOT desde o dia 1º de junho, em todos os vencimentos.

 

Fontes: Reuters, Notícias Agrícolas e SNA

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