No início dos anos 1970, os produtores brasileiros obtinham 1.250 quilos de soja por hectare. Esse volume subiu para 2.800 quilos 30 anos depois e, atualmente, está próximo de 3.000.
Um bom aumento na quantidade produzida, o que elevou o país à segunda colocação mundial entre os produtores.
Esse aumento de produtividade trouxe, no entanto, um sério problema para a qualidade do produto.
A soja de hoje tem um teor menor de proteína, o que reflete na qualidade do farelo e da ração e, consequentemente, no rendimento da produção de frangos e suínos.
As empresas de melhoramento priorizaram a produtividade da oleaginosa, mas não levaram em conta a qualidade.
A avaliação é de Eduardo Pípolo, pesquisador da Embrapa Soja. E essa relação é inversa. Quanto maior a produção, menor o teor de proteína.
Segundo o pesquisador, até o final da década de 1990, o Brasil produzia o farelo de soja com 46% de proteína. Em algumas regiões, esse teor chegava a 48%. Com a queda na qualidade da oleaginosa, esses teores de proteína no farelo não são mais facilmente conseguidos.
O padrão convencional do teor de proteína no farelo é de 46%. As dificuldades na obtenção desse padrão estão forçando algumas empresas a retirar a casca da soja, que tem um teor menor de proteína.
A casca pesa 7,3% do volume total do grão e tem proteína de apenas 8,8%, segundo Pípolo. A retirada da casca significa, no entanto, mais custos para as empresas, que pagam pelo volume total do grão.
Pípolo diz que esse é um problema não apenas do Brasil, mas dos Estados Unidos e da Argentina, onde o teor de proteína é ainda menor do que no País.
O esforço, no entanto, para uma elevação do teor de proteína e de óleo será grande. Esse teor é determinado principalmente por fatores genéticos e tem também influência ambiental.
O manejo da lavoura também pode ajudar. Matéria orgânica, fertilizantes e fixação biológica de nitrogênio são importantes.
Só manejo, porém, não resolve e depende muito das regiões, segundo o pesquisador da Embrapa.
Aumento de produtividade e de teor de proteína simultaneamente pode ocorrer, mas elevaria ainda mais os custos do produtor. Além disso, são centenas de variedades de soja no país.
Para avaliar as alterações nos teores de proteína, a Embrapa coletou 867 amostras de soja na safra 2014/15 em diferentes municípios de nove Estados. O levantamento apontou que em alguns Estados a média de proteína é inferior a 36%.
O desejável é que o grão de soja tenha ao menos 36% de proteína e 14% de umidade para garantir a produção de farelo com teores de proteína adequados, segundo a Embrapa.
Fonte: Folha de S. Paulo