Soja: quebra de produção terá efeito sobre próxima safra em Mato Grosso

O presidente da Aprosoja/MT, Endrigo Dalcin, está preocupado com a rentabilidade dos produtores do Estado. Ainda que as expectativas para a próxima safra, que começa a ser plantada agora em setembro, sejam boas, a quebra no ciclo anterior ainda produz efeitos negativos para os sojicultores. “Nós temos uma dificuldade grande na questão do crédito por causa da quebra”, disse Endrigo, em conversa com a Globo Rural durante a 39ª Expointer, em Esteio (RS).

Além da produção, ele ainda falou sobre o que espera do governo de Michel Temer (a Aprosoja manifestou apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em março deste ano), e comentou a liberação do uso do “correntão”, técnica criticada por ambientalistas em que uma corrente é amarrada em dois tratores para a “retirada” da cobertura da vegetação natural. O “correntão”, que estava proibido em Mato Grosso, foi liberado no dia 7 de julho. Confira os principais pontos da conversa.

Clima

“Em Mato Grosso, no ano passado, o El Niño afetou a produtividade da soja e do milho, quebrou a safra, gerou uma situação que estamos tentando contornar, que é o endividamento. Por outro lado, pensando na próxima safra, La Niña vai nos ajudar porque traz chuvas dentro da normalidade. Dezembro, janeiro e fevereiro devem ser acima da média, então teremos uma produção boa.”

Produção

“A produtividade da safra anterior foi de 49,6 sacas por hectare em média em Mato Grosso. Quebrou 1.9 milhão de hectares. Agora, acreditamos em 9.2 milhões de hectares plantados, com uma produtividade 29.4 milhões de toneladas de soja (contra 27.5 milhões de toneladas no ciclo anterior). Esperamos colher uma safra boa se o clima for realmente como previsto.”

Preço

“O preço é uma incógnita. Chicago está caindo. No dólar, se a economia voltar a ter confiança, o mercado deve recuar. Os preços, para quem aproveitou 40 dias atrás, estavam muito remuneradores (R$ 75,80). Hoje o mercado tá em R$ 65,66. Então já começa a ficar muito próximo do custo de produção novamente. Se você trabalha com uma rentabilidade de 6, 7%, como estávamos trabalhando, esse mercado voltando nós ficaremos no negativo de novo. Dependemos muito do que vai acontecer no mercado. A questão de remuneração é uma incógnita porque se o Brasil vier com uma safra boa, Argentina vier com uma safra boa e se confirmar a sagra americana, teremos um excesso de soja no mundo, por mais que os estoques estejam baixos. E isso é preocupante. Nós vendemos somente 26% da próxima safra, isso é 2,5% a menos do que no ano passado.”

Confiança

“Eu não estou muito confiante. Estou confiante na produção, agora a rentabilidade é a preocupação. A dificuldade lá em Mato Grosso está grande, muito maior do que aqui [no Rio Grande do Sul]. Temos diferenças nas regiões. Se pegar a região oeste não está tão ruim. Se pegar a 163 e o Leste, está muito pior. Então temos lá dentro diferenças. Temos 26 municípios que decretaram estado de emergência. E o apoio de prorrogação de custeio e investimento virá para esses que decretaram estado de emergência.”

Endividamento

“Nós pedimos [ao Conselho Monetário Nacional] a prorrogação de custeio pra cinco anos, com a mesma taxa de juros, sem limitar a nova contratação de crédito porque antes o produtor prorrogava, mas não pegava de novo. Pedimos que, se o produtor tem garantia e limite, ele possa acessar o crédito dentro de sua capacidade de pagamento. Vai ser utilizado o critério dos decretos de emergência. E investimento também, vai ser jogado pra última parcela, com a mesma taxa de juros do financiamento. Esse dinheiro vem de onde? Vem do Plano Safra. Não tem saída, não tem recurso pra fazer esse apoio à renegociação. É melhor renegociar e não ter dinheiro do que deixar todo mundo inadimplente. Então precisa renegociar com o produtor para ele ficar adimplente e conseguir plantar.”

Governo Temer

“Nossa visão é que as coisas começam a mudar agora. Pautas importantes precisam ser tocadas, o mercado mundial precisa ter confiança na economia brasileira e eu acho que com esse novo governo isso vai ser conquistado. Essa é a nossa esperança. Já dá pra notar melhoras na economia. O dólar vai retroagir, é ruim pra nós, mas precisamos achar o fiel da balança. Precisam ser tocadas pautas trabalhistas, a questão da previdência, a questão ambiental. É muito importante que a questão de licenciamento por atividade seja resolvida, a questão indígena e fundiária, de invasão de terra, invasão por índio. Tudo isso são pautas que precisam ser cutucadas. É muito sensível, dá muita polêmica, mas precisam ser tocadas.”

Correntão

Nós somos contra o desmatamento ilegal. Uma abertura de área precisa de licença. Nós precisamos falar que a soja em Mato Grosso não utiliza mais o “correntão”. Os pecuaristas utilizam muito para a limpeza de área, mas, de forma legal, o “correntão” é só mais uma ferramenta que baixa o custo das áreas, não tem por que limitar. Se eu não tiver o “correntão” eu vou ter que fazer tudo na máquina, o custo é muito maior.

 

 

Fonte: Globo Rural

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