Soja: mercado tem bom momento para vendas da safra nova no Brasil

As vendas de soja da nova safra do Brasil caminham bem neste momento. O dólar alto tem sido um dos principais fatores na formação dos preços da nova temporada, já que a moeda americana volta a ser negociada acima dos R$ 4,00 e cria um ambiente bastante favorável para as cotações diante de melhores preços que são registrados também na Bolsa de Chicago.

No ano, até esta quinta-feira (17/10), o dólar comercial acumula alta de 9,97%, subindo de R$ 3,79 para R$ 4,17. Nos últimos 30 dias, a alta é de 2,32%. E apesar da queda de mais de 1% nesta sexta-feira (18/10), a moeda norte- americana se mantém acima dos R$ 4,10.

Ao se observar a movimentação dos contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago, nos últimos 30 dias a alta também foi considerável e ajudou a motivar os negócios. O vencimento março/20, entre os dias 17 de setembro e 17 de outubro subiu 4,13%, passando de US$ 9,19 para US$ 9,57. O vencimento maio/20 foi de US$ 9,30 para US$ 9,65, alta de 3,76%.

O comportamento do dólar e dos contratos futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago, no entanto, está sendo influenciado por outros fatores importantes, que têm motivado a comercialização pelos sojicultores brasileiros e que, segundo algumas estimativas, já chega a 30% da safra 2019/20.

A demanda ainda intensa, inclusive internamente, também é outro fator de estímulo para as cotações. A China tem se mostrado um pouco mais presente no mercado dos EUA neste momento, porém, sem um acordo efetivo entre os dois países, a maior concentração das compras da nação asiática continua sendo no mercado brasileiro.

No entanto, os prêmios para a safra nova, embora equilibrados com os americanos, ainda estão baixos e acabam por limitar preços ainda melhores. O que, para alguns analistas e consultores, acaba sendo também um alerta para os produtores que estão optando por fechar novas vendas neste momento.

Segundo o gestor da área de grãos da Sementes Roos, Olmar Lanius, o mercado está criando oportunidades para os produtores e eles estão se aproveitando, de fato, estes bons momentos.

“Os preços estão bem melhores do que os registrados no primeiro semestre do ano. Quem conseguiu segurar suas vendas para o segundo semestre está garantindo preços melhores, já que tanto para o produto disponível quanto para o da safra nova já mostra uma diferença para cima de R$ 7,00 a R$ 8,00 por saca”, disse Lanius.

E o executivo afirmou ainda que 2020 também pode reservar oportunidades interessantes. “E isso pode ser visto no milho também. Acredito que estamos em um momento bem promissor”.

Produtores das mais diversas regiões do País vem relatando ao Notícias Agrícolas que, de fato, as vendas antecipadas nesta safra têm caminhado em um ritmo um pouco mais acelerado do que no ano anterior. Segundo eles, estão aproveitando este bom momento para travar parte dos seus custos, garantindo boas margens e se protegendo de incertezas que rondam o início de 2020.

Há sojicultores falando em 70% de sua nova safra já está comercializada. No entanto, alguns ainda acompanham as condições climáticas de suas regiões para começar a tomar decisões e definir suas estratégias.

Números atualizados nesta sexta-feira pela ARC Mercosul mostram que o plantio da soja 2019/20 no Brasil já chegou a 23% da área estimada e o ritmo superou a média dos últimos cinco anos, apesar de todas as adversidades climáticas. O gráfico abaixo mostra as comparações.

Segundo a consultoria, como tradicionalmente acontece, os trabalhos de campo são liderados pelo Mato Grosso. Problemas são, apesar de pontuais, graves em partes do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Previsões mostram o novo padrão de tempo seco, com chuvas mal distribuídas nos primeiros dez dias de novembro, principalmente em GO, MG, SP e Matopiba.

O Notícias Agrícolas ouviu alguns analistas para entender qual é o momento do mercado para estes produtores e quais as expectativas daqui para frente. A perspectiva, afinal, é de que o Brasil colha a maior safra de soja da sua história, porém, já registra alguns problemas de clima e indefinições sobre a demanda diante das relações entre China e Estados Unidos.

Ênio Fernandes, Terra Agronegócios

Para Ênio Fernandes, consultor da Terra Agronegócios, o produtor brasileiro está cada vez mais profissional na comercialização e aproveitando os atuais momentos para travar seus custos e garantir sua margem.

“Para quem já vendeu cerca de 50% de sua safra ou mais, digo que é momento de calma. Para quem ainda não vendeu nada, sugiro que faça suas contas e observe esse momento que é de preços que trazem margens, remuneradores”, disse. “A demanda é forte, inclusive internamente, com o B11 e a possibilidade do B15, e a América do Sul ainda está com seu plantio recente”.

Segundo Fernandes, essa média dos 30% da safra vendida no Brasil é boa, e mostra essa profissionalização do sojicultor. “E há estados que já travaram algo entre 50%, 60% da sua safra, como Mato Grosso e Goiás”, disse. Ainda assim, salienta que há estados onde os problemas – que são bem pontuais, com o plantio da nova safra, deixam os negócios ligeiramente mais retraídos.

Steve Cachia, Cerealpar e AgroCulte

Na ótica de Steve Cachia, consultor da AgroCulte e da Cerealpar, as vendas da nova safra caminham em um ritmo normal, salvo por uma aceleração observada nas últimas semanas em função das altas em Chicago e do dólar. O que talvez tenha segurado um pouco os negócios nos últimos dias foi o acordo parcial entre China e Estados Unidos.

“Sobre o clima, a comercialização não está tão avançada a ponto de produtor ficar com medo ou do preço subir em função disso ou eles não conseguirem honrar os compromissos no caso de quebra”, afirmou Cachia. “Afinal, em relação à média, o plantio nem está tão atrasado. Em relação ao ano passado sim, 2018 foi atipicamente mais rápido”.

Ainda assim, o analista voltou a dizer que as indicações em reais são favoráveis na safra nova. “Recentemente, Chicago e dólar subiram, deram uma boa condição para os produtores em face da conjuntura e cenário esperado meses atrás. Agora pode até ficar um pouco lento. Os prêmios cederam, Chicago parou de subir e a demanda pode se deslocar para os EUA devido ao acordo parcial EUA/China”.

Matheus Pereira, ARC Mercosul

Na análise de Matheus Pereira, diretor da ARC Mercosul, a demanda é um dos focos. “A demanda total da China continua fraca, porém concentrada no Brasil. Sem nenhuma ‘reconciliação concreta’ entre EUA e China, os asiáticos continuam comprando soja brasileira”.

No entanto, o diretor lembrou que a China deverá terminar o ano comercial com importações de 80 a 83 milhões de toneladas, volume menor se comparado ao dos anos anteriores. “Porém, a maior parte dessa demanda tem sido preenchida pelas ofertas brasileiras”, disse.

Dessa forma, Pereira afirmou que a continuação da guerra comercial ajuda na manutenção também dos preços. “Não impulsiona, porém, também não pesa. O que ajuda nos bons preços é o câmbio”.

“No mercado futuro do dólar também temos patamares extremamente interessantes e se colocar na ponta do lápis com toda certeza mostraremos que o risco é muito baixo nesse momento”, completou o analista, reforçando que as estratégias de comercialização devem respeitar as particularidades de cada região, e mais ainda, de cada produtor.

Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting

Segundo Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, as cotações para a safra nova, em meses mais à frente, como junho e julho de 2020, já marcam níveis entre R$ 90,00 e R$ 90,50 por saca nos portos do País, atraindo os vendedores. E com isso bons negócios têm sido efetivados.

Ainda segundo o analista, a tendência do dólar deve ser outro fator de atenção para o produtor brasileiro. “O dólar pode vir a registrar uma alta positiva, já que o governo está sofrendo pressão do partido de Bolsonaro que está em crise. E assim, o mercado financeiro vai operando nervoso. Além disso, há ainda a programação para que o Senado vote, na próxima semana, a reforma da Previdência”, disse.

Ginaldo Sousa, Grupo Labhoro

Os preços da safra nova testando níveis na casa de R$ 87,00 a R$ 88,00 tem promovido um bom momento para os negócios no Brasil, segundo o diretor do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. Ele afirmou que o dólar tem desempenhado um papel determinante para estas cotações melhores. “O dólar tem ajudado muito na composição dos preços da soja”.

No entanto, Sousa acredita que os negócios ainda acontecem de forma um tanto lenta e que os produtores deveriam participar mais. “Mesmo porque sabemos que, se chuvas voltarem, embora os preços não tenham subido pela falta delas, começam a ceder e, principalmente, se nos EUA não acontecerem novas compras por parte da China”.

 

Notícias Agrícolas

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