Do primeiro pregão de 2017 até a sessão desta terça-feira (17 de janeiro) na Bolsa de Chicago, os vencimentos março e maio/17 – os dois mais negociados deste momento – da soja subiram 7,44% e 7,48%, respectivamente, para US$ 10,69 e US$ 10,78 o bushel. No farelo de soja, os ganhos são ainda mais expressivos e passam de 11%. O março/17 já acumula uma alta de 11,76%, cotado a US$ 348,80 a tonelada curta e o maio/17, de 11,17%, cotado a US$ 350,20 a tonelada curta. No foco do mercado está a situação de calamidade das lavouras na Argentina em função do excesso de chuvas.
A temporada 2016/17 começou com estimativa de uma safra de 57 milhões de toneladas na Argentina. Contudo, as perdas contabilizadas até esse momento, por consultorias, já superam as 5 milhões de toneladas. O consultor Michael Cordonnier, especializado em produção na América do Sul, reduziu a sua estimativa em 4 milhões de toneladas e espera agora uma colheita de 51 milhões de toneladas, enquanto a consultoria AgriPAC fala em 50 milhões de toneladas. Ainda otimista, o Ministério da Agroindústria da Argentina reduziu, em sua última estimativa, a produção do país em apenas 1 milhão de toneladas, para 55 milhões de toneladas.
Para Cordonnier, há cerca de, pelo menos, 10% da produção de soja da Argentina já comprometida pelas precipitações e cheias e indica que a situação atual pode ser pior do que o quadro observado em abril de 2016, quando o excesso de chuvas também castigou severamente a produção argentina. Nesse período, a valorização das cotações na CBOT chegou a 12%. “Os hectares perdidos na Argentina são alguns dos mais produtivos do país e, na medida em que estiverem em melhores condições, será muito tarde para replantá-los. As perdas, portanto, podem ser irreversíveis”, disse.
Segundo o analista de mercado Marcos Araújo, da Lansing Trade Group, “todo esse excesso de chuvas na Argentina tem reduzido a área de plantio, o mercado que estimava uma área inicial de 19.8 milhões de hectares, hoje estima algo entre 192 e 19 milhões de hectares”.
Impacto sobre o mercado
Atualmente, a Argentina é, além de exportadora de soja em grão, a maior exportadora mundial de farelo e óleo de soja, o que faz com que as especulações do mercado em Chicago, no Brasil e na Argentina se estendam por todo o complexo em relação à oferta prevista para essa temporada, o que motiva um avanço ainda mais forte do farelo em Chicago se comparado ao do grão.
“O farelo de soja tem outros substitutos no mercado mundial, como o DDGS e o farelo de canola, que são fontes de proteína para ração animal. China e EUA, porém, estão em uma batalha comercial e isso tem limitado o fornecimento do DDGS americano para a China, fazendo com que o suprimento fique muito concentrado no farelo de soja para as rações animais. E a Argentina exporta apenas 10% de sua produção em grão e todo o restante via farelo de soja, óleo ou biodiesel”, disse Araújo.
A quebra da safra no país, portanto, passa a estimular os importadores a buscar produto nas demais origens exportadoras de soja entre as quais, Estados Unidos, Brasil e Paraguai, E o primeiro produto a ser demandado nesse momento, ainda segundo o analista, deverá ser o brasileiro, já que esse é um movimento, sazonalmente, natural agora. Com esse quadro se consolidando e as perdas se agravando, a tendência é de que a soja siga se valorizando em Chicago.
Os fundos que também estão acompanhando o desenvolvimento das condições da safra na Argentina e a conclusão da safra do Brasil tem ampliado suas expectativas positivas para os preços da oleaginosa e voltaram às compras nos últimos dias, o que levou as cotações a registrarem as máximas em seis meses nesta terça-feira (17).
Segundo o analista Richard Feltes, em nota da corretora internacional RJ O’Brien, “há bastante espaço para os fundos aumentarem as suas posições compradas na soja”. Entre as posições do farelo, esse movimento pode ser ainda mais intenso. No complexo, ainda de acordo com os analistas internacionais, o menos atraente no momento parece ser o óleo de soja. De 3 a 17 de janeiro, a valorização que o derivado negociado na CBOT acumula nas posições março e maio/17 é de pouco mais de 2%.
Um ponto de atenção, porém, é lembrado por Feltes. A alta observada em 2016 em função das cheias na Argentina, porém, teve como combustível adicional à seca ocorrida no Brasil, que provocou severas perdas na temporada 2015/16. Além disso, ele lembra ainda, que as perdas causadas pelo excesso de umidade podem ser “melhor administradas” do que as que resultam da estiagem. “E o mercado sabe disso”.
Ainda assim, o analista acredita que o vencimento março/17 da soja, tenha o potencial para alcançar os US$ 10,96 por bushel nos próximos dias, motivado pela compra de fundos.
Preços na Argentina
No mercado argentino, os preços da soja também já começam a refletir a alta de Chicago e, principalmente, a perspectiva de uma oferta menor no país. Nos terminais de Gran Rosario, segundo informou o jornal La Nacion, o preço da tonelada subiu 150 pesos nesta terça-feira (17) em relação ao dia anterior, para chegar a 4.550 pesos por tonelada, com alguns negócios batendo até mesmo os 4.600 pesos, ou seja, algo entre US$ 285,00 e US$ 288,00/tonelada.
“As fábricas estão oferecendo títulos sobre um acordo contratual (sem a entrega efetiva do produto) e pedem que, se possível, a entrega seja adiada, em função de problemas logísticos”, disse a especialista do Departamento de Informaciones y Estudios Económicos de la Bolsa de Comercio de Rosario (BCR), Sofía Corina.
As condições do clima tem dificultado muito o tráfego dos caminhões e esse tem sido outro fator de estímulo para os preços finais da soja dentro da Argentina. No mercado a termo em Buenos Aires, os preços também subiram e alcançaram algo entre US$ 265,00 a US$ 275,00 a tonelada.
Fonte: Notícias Agrícolas