Soja e milho devem manter cotações em alta com demanda aquecida e incertezas climáticas

Os preços da soja no Brasil devem se manter em nível elevado, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“A demanda internacional aquecida, que favorece as exportações americanas e brasileiras (os embarques de março foram os maiores da história) e as incertezas sobre a produção argentina devem manter os preços em patamar elevado no Brasil”, indicou o Ipea em nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários, que passará a ser publicada trimestralmente.

A pesquisadora associada do instituto, Ana Cecília Kreter, indicou que os estoques de passagem globais da oleaginosa estão relativamente baixos e que há um aumento na comercialização. “Existe demanda maior e os estoques estão baixos e devem permanecer baixos”, disse.

Milho

O Ipea fez também uma avaliação sobre o mercado de milho. Segundo o instituto, se a segunda safra de milho, responsável por mais de dois terços da oferta brasileira do cereal, tiver problemas devido à seca, a tendência é de que os preços do grão se mantenham em patamares altos no País.

“Apesar de a Conab estimar uma produção recorde, a seca pode impactar negativamente a produtividade da segunda safra, tendo em vista a restrição hídrica no Cerrado brasileiro a partir de maio e as baixas temperaturas no Sudeste, no Paraná e em Mato Grosso do Sul”, indicou o documento. “Se confirmado, esse ambiente contribui para a manutenção da tendência de alta dos preços.”

Ana Cecília acrescentou que os estoques de passagem globais estão baixos, pela terceira safra consecutiva, e o consumo deve ser maior do que a produção, segundo o USDA.

Para o Ipea, os altos preços no Brasil até o momento, mesmo com a colheita da primeira safra, se devem à relutância do produtor em vender por causa do atraso do plantio da safrinha e dos baixos estoques no primeiro semestre.

Trigo

No mercado de trigo, os baixos estoques nesta entressafra devem sustentar os preços do grão no Brasil, mas os moinhos parecem estar suficientemente abastecidos para atender à baixa demanda por derivados, segundo perspectiva do Ipea.

“Além disso, agentes estão acompanhando o crescimento nas áreas de produção da safra 2021/2022 na Argentina e nos Estados Unidos”, informou a nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários.

O documento mostrou que as negociações de trigo no Brasil foram menos intensas no primeiro trimestre deste ano porque produtores estavam mais focados na colheita e armazenagem das safras de soja e milho. Isso colaborou para que o preço do trigo aumentasse durante o período de entressafra.

A pesquisadora Ana Cecília destacou que, no mundo, a China tem sustentado a demanda pelo trigo. “O estoque mundial aumentou em 6% porque a China busca formar estoques de reserva”.

Carnes

Os preços de carnes devem se manter firmes durante o primeiro semestre de 2021, estimou o Ipea. Na nota de conjuntura, o instituto citou a falta de animais, o alto custo de produção e as exportações como fatores de influência.

Para a carne bovina, o Ipea afirmou que o ano deve ser difícil para quem trabalha com engorda de animais. “O menor volume de abate já observado ao longo de 2020 deve seguir no primeiro semestre de 2021”, indicou o instituto no documento.

No segundo semestre, a oferta de animais oriundos do confinamento vai depender dos preços de insumos e peças de reposição, que começaram o ano em patamares altos.

Pelo lado da demanda, segundo o Ipea, frigoríficos relataram dificuldade de repassar ao consumidor os aumentos no preço da arroba do boi gordo, o que pode pressionar a arroba.

Já a carne de frango deve ter, no segundo trimestre, manutenção dos patamares de preço registrados no primeiro trimestre por causa dos altos custos com ração, em especial milho e farelo de soja. Outro motivo é a competitividade do frango perante as carnes bovina e suína.

“O menor poder de compra da população tende a favorecer o consumo de proteínas mais baratas, como é o caso da carne de frango”, indicou o Ipea.

Com relação à carne suína, a expectativa é de aumento de preço no animal vivo, também por causa do custo de produção. As fortes exportações para a China (o país asiático tem dificuldades de recompor seu rebanho após a Peste Suína Africana), também seguram os preços internos.

Açúcar

O instituto também estimou que a recuperação da economia global e o baixo volume de açúcar disponível da safra brasileira 2021/22 devem manter firmes os preços globais e nacionais do adoçante.

“Na medida em que as campanhas de vacinação ganham ritmo, particularmente nos Estados Unidos, na Europa e na China, as perspectivas quanto à recuperação da economia global parecem reforçar a sustentação dos preços externos do açúcar”, destacou o Ipea em seu relatório.

“Para a safra 2021/2022, que se inicia oficialmente em abril de 2021, cerca de 70% do que será produzido no centro-sul já teve seus preços fixados no mercado internacional”.

A nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários indicou, ainda, que o mix sucroenergético brasileiro deve se manter favorável ao adoçante com base na perspectiva do setor e nos contratos futuros.

Entretanto, o fato de a safra 2021/22 provavelmente ser menor do que a anterior, tanto em moagem quanto em ATR, deve causar redução na oferta de açúcar e, assim, dar sustentação aos preços.

Café

Já os preços do café arábica, segundo o Ipea, devem registrar forte oscilação nos próximos meses, em decorrência da colheita da safra brasileira 2021/22, que deve começar no mês que vem.

“Ainda assim, são esperados preços acima do custo de produção aos produtores, fundamentados na previsão de menor produção e na possível reabertura das economias ao redor do mundo, com o avanço das campanhas de vacinação”, indicou a entidade.

Um fator que deve ajudar a segurar as cotações é que boa parte do café da próxima safra foi vendida antecipadamente. Portanto, a colheita não significa, necessariamente, que o volume disponível no mercado terá grande aumento.

Além disso, a safra 2021/22 de café tem bienalidade negativa, ou seja, é esperada queda expressiva de produção em relação à temporada anterior, e a falta de chuva em áreas produtoras pode tornar a oferta ainda menor.

 

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

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