Soja: Com escassez, prêmios pagos no interior do Brasil superam valores dos portos

O segundo semestre ainda nem começou e a pouca oferta de soja disponível já começa a ser disputada no Brasil. E os prêmios pagos pela oleaginosa são o termômetro dessa ajustada relação de oferta e demanda, tanto para os valores registrados nos portos, quanto no interior do País.

Os números são historicamente altos e atingiram tais patamares mais cedo do que em qualquer ano comercial. Afinal, a safra 2015/16 foi uma das que teve seu maior volume negociado mais rápido e mais cedo.

No porto de Paranaguá, os prêmios das principais posições de entrega no último ano (de 18 de junho de 2015 a 17 de junho de 2016) registraram um aumento de mais de 100%.

A posição julho/16, por exemplo, tem este ano US$ 1,25 sobre a cotação de Chicago contra US$ 0,52 registrado no mesmo período de 2015, uma alta de 140,38%. Na posição agosto, o ganho é de 108,33%, com o prêmio passando de US$ 0,72 para US$ 108,33%.

Se os valores já surpreendem nos terminais de exportação, no interior do País são ainda mais altos. De acordo com o consultor Ênio Fernandes, nos últimos dias, esses prêmios variavam de US$ 1,60 a US$ 1,90, ou seja, quase 30% mais elevados do que as últimas referência observadas no porto de Paranaguá.

“Algumas regiões atuaram mais agressivamente nas exportações e, onde isso aconteceu, a oferta de soja começa a se tornar cada vez mais escassa e a indústria tem de pagar mais para garantir suas compras”, disse Fernandes.

O quadro é ainda mais intenso nas áreas onde não só as exportações aconteceram com tamanha velocidade, mas aonde o parque industrial também é bastante forte e, portanto, a demanda acaba sendo maior.

Como exemplos, o consultor citou regiões como Rondonópolis e Sorriso, em Mato Grosso, além de praças do interior do Paraná e Rio Verde, em Goiás. “Quase não há mais soja no Centro-Oeste, esta é a região onde essa situação é mais clara”. Disse ainda que os estados dessa parte do Brasil contam com apenas algo entre 5% e 6% da produção.

Dessa forma, Fernandes afirma ainda que em Rondonópolis há negócios internos com a soja em que os preços superam em 7,5% a paridade de exportação e em Rio Verde, em 4,5%.

No entanto, explica que essas referências de prêmios no interior, assim como acontece com os praticados nos portos, se movimentam com mais dois componentes no radar: dólar e os preços em Chicago. “Quando Chicago cai, os prêmios sobem, e o contrário é verdadeiro”, disse.

“O parque industrial não para por conta disso, e mesmo com esses preços altos, eles ainda contam com boas margens de esmagamento, uma vez que os preços do farelo também registraram boas altas nas últimas semanas”.

Segundo um levantamento feito pelo Notícias Agrícolas, em relação a junho de 2015, o preço médio do farelo de soja apresenta uma valorização de 69,61%. A referência passou de R$ 1.020,00 para R$ 1.730,00 a tonelada.

No mercado internacional, os contratos futuros do derivado também renovaram suas máximas de dois anos e foi a commodity que mais subiu em 2016, com uma alta acumulada de quase 55%.

Os últimos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as exportações de soja do Brasil já totalizam no acumulado do ano, o recorde de 30.804 milhões de toneladas ou 37,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.

E embora o ritmo tenha mostrado alguma desaceleração nas últimas semanas – dado os elevados volumes já vendidos – as expectativas para essa temporada são altas.

De acordo com projeções da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), as exportações nacionais deverão somar 54.6 milhões de toneladas contra 54.324 milhões de 2015.

Além disso, estima ainda que o processamento de soja no País aumente para 40.7 milhões de toneladas. Dessa forma, o estoque final de soja do Brasil foi estimado pela associação em 1.731 milhão de toneladas na safra 2015/16.

Assim, com números como estes, a força dessa escassez de soja só faz crescer. “O forte ritmo das exportações tende a reduzir a disponibilidade no segundo semestre e, acredito, também deve alongar a entressafra”, disse Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais. “Em algumas regiões e em alguns casos, os preços já estão acima da paridade”.

 

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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