Soja: Brasil terá de racionar a demanda no segundo semestre

As contas são simples e a conclusão do analista de mercado da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo, é rápida: o Brasil vai ter de racionar a demanda por soja no segundo semestre.

O ritmo de exportações, o consumo interno e uma safra estimada em algo próximo a 113 milhões de toneladas mostram que a disputa pelo grão brasileiro deverá ser intensa, mesmo diante da grande oferta disponível nos Estados Unidos.

O consumo interno do país está estimado em 43 milhões de toneladas para esmagamento e dois milhões de toneladas para sementes, somando 45 milhões de toneladas, enquanto a safra 2018/19 mais os estoques iniciais deste ano deverão somar 115 milhões de toneladas.

Subtraindo o total do consumido internamente dos 115 milhões de toneladas, o volume exportável disponível para o Brasil seria de 70 milhões de toneladas.

“Ou seja, o Brasil terá de reduzir suas exportações de 84 milhões de toneladas do ano passado para 70 milhões de toneladas este ano, ou terá de diminuir seu consumo interno. Mas um racionamento da demanda precisa acontecer, e isso ocorre via preços altos”, disse Araújo.

E os preços mais altos, ainda de acordo com o analista, virão por meio de prêmios melhores pagos pela soja brasileira. Afinal, na CBOT, segundo Araújo, as altas são limitadas, assim como as chances de uma recuperação significativa mais à frente.

Os prêmios pagos acima das cotações da Bolsa de Chicago seguem positivos, refletindo uma demanda ainda forte pelo produto nacional, que neste momento ainda tem seu espaço e competitividades garantidos por melhores preço e qualidade.

Com melhor teor de óleo e de proteína, a soja brasileira conta com um prêmio por qualidade que varia de US$ 0,20 a US$ 0,25 por bushel sobre a CBOT. Esse valor já está embutido nos prêmios observados hoje, os quais têm variado de US$ 0,42 a US$ 0,54 nas principais posições de entrega dos portos do Brasil.

O mercado brasileiro tem se mantido descolado de Chicago. Com a guerra comercial China x EUA ainda em curso, as movimentações são cada vez mais limitadas, “e o mercado aqui no Brasil está rodando”, disse o analista da Agrinvest.

Na última semana, os chineses adquiriram 25 navios de soja do Brasil, mostrando que ainda estão bastante presentes por aqui. Entre janeiro e fevereiro de 2019, o Brasil exportou 8.2 milhões de toneladas, sendo sete milhões de toneladas destinadas aos chineses.

No ano passado, no mesmo período, o acumulado foi de 4.43 milhões de toneladas, sendo que 3.5 milhões de toneladas foram para a nação asiática. Em um ano, o país dobrou suas vendas para a China.

Nesse momento, porém, as exportações brasileiras perdem um pouco de ritmo em razão de um consumo chinês também ligeiramente mais retraído.

A questão da peste suína africana tem se mostrado um problema de alta gravidade, comprometendo os planteis chineses de forma considerável, o que resulta em menores compras de soja, ao menos por hora.

“O programa de exportação de soja brasileiro começa a perder ritmo, tendência necessária ao atual quadro de oferta e demanda nacional”, explicou o também analista de mercado da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin.

Ainda assim, segundo o executivo, os embarques no acumulado de março somam 532.500 toneladas/dia, volume maior do que o registrado no mesmo período de 2018. Entretanto, Vanin alerta que, “por outro lado, o total de navios nomeados já mostra que o programa deverá perder força”.

Em 2019, os embarques acumulados de soja do Brasil até o dia 15 último, já somam 13.04 milhões de toneladas, contra o acumulado do ano passado, de 14.54 milhões de toneladas, contabilizado todo o mês de março.

Ainda segundo os números da Agrinvest, as nomeações estão um pouco menores este ano – 5.26 milhões contra 8.3 milhões de toneladas em 2018, nessa época.

“Atualmente, o total comprometido vem caindo e já está em linha com a média de cinco anos, com queda provocada principalmente pela concorrência do exportador com as indústrias brasileiras, concorrência que tem elevado o prêmio local no interior, jogando as margens do exportador para o território negativo”, afirmou Vanin.

Agora, os produtores fazem novos negócios pontuais, acreditando em melhores oportunidades mais adiante. A comercialização perde um pouco de ritmo, com o sojicultor vendendo somente frente à sua necessidade de caixa, “da mão para a boca”, como se diz no mercado.

A realidade local e com as atenções focadas, principalmente nos prêmios e no câmbio, tem peso maior na formação dos preços por aqui.

“O mercado brasileiro continua mostrando poucos negócios. A colheita flui nas regiões Sul e Matopiba e finaliza no Centro Oeste e Sudeste. Aliado a isso, ainda há as entregas de contratos (firmados anteriormente) e mais a retenção de uma parte do volume da produção para ser negociado à frente”, disse o consultor Vlamir Brandalizze.

Já era sabido que este ano comercial iria exigir uma estratégia de comercialização bem planejada e detalhada para garantir boas margens de renda para a soja. E com a sequência da disputa comercial entre China e Estados Unidos, isso se torna ainda mais importante.

Segundo o analista Marcos Araújo, uma boa opção seria o produtor brasileiro optar por uma operação de hedge, vendendo o contrato novembro Chicago e o dólar na BM&F para outubro e carregando seu estoque.

“Isso poderia trazer um preço melhor na casa de R$ 10,00 por saca no interior do país no segundo semestre, entre setembro e outubro”, observou o analista da Agrinvest.

 

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