Soja: Bem vendido e sem novidades no mercado, produtor brasileiro tem semana de poucos negócios

O mercado brasileiro de soja registrou uma nova semana de baixo volume de negócios. As oscilações ainda tímidas dos contratos futuros da oleaginosa na CBOT e a volatilidade do dólar mantiveram os produtores às margens do mercado, ainda focados somente nos trabalhos de colheita.

De acordo com o último levantamento da França Junior Consultoria, a colheita no Brasil, até o último dia 25, já estava concluída em 33% da área, superando o percentual do mesmo período de 2015, de 30%, e o da média dos últimos cinco anos, de 29%. A pesquisa mostrou ainda um aumento na estimativa da safra brasileira 2015/16 em relação à anterior, que passou a ser de 98.942 milhões de toneladas.

E, segundo analistas, esse ainda deve ser o padrão do mercado enquanto as oscilações de preços na CBOT continuarem sem força – em parte por estarem bastante atrelados ao comportamento do mercado financeiro global – para romperem alguns níveis de resistência e enquanto as estimativas para a economia nacional seguirem dando sinais de incertezas e trazendo insegurança.

Porém, segundo o economista e analista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, “nesse momento, os preços não fecham. Entre a pedida dos vendedores e a indicação de compra há uma distância que varia entre R$ 1,00 e R$ 2,00”, quadro que também contribui para essa trava no mercado interno.

O que se viu, foi uma queda expressiva dos preços nos portos e no interior do Brasil, afugentando ainda mais os vendedores.

Nas principais praças de comercialização, as quedas foram de 0,80% a 3,08%, com destaque para São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul, onde a saca caiu de R$ 65,00 para R$ 63,00 e em Cascavel, no Paraná, com a saca caindo de R$ 69,00 para R$ 67,50.

Nos portos, quedas ainda mais fortes, variando de 2,52% a 5,05%. Em Paranaguá, a saca da soja disponível foi de R$ 80,50 a R$ 78,00, enquanto a saca do produto futuro caiu de R$ 79,50 para R$ 77,50. Em Rio Grande, as cotações foram, respectivamente, de R$ 81,10 para R$ 80,00 e de R$ 83,20 a R$ 79,00.

Na sessão desta sexta-feira, o dólar fechou em alta de 1,21%, cotado a R$ 3,9976 para venda, buscando ainda retomar o patamar dos R$ 4,00. Na semana, a divisa acumulou uma baixa de 0,62%.

Dessa forma, os produtores, ainda apostam na soja, portanto, como um ativo financeiro, o que também acaba travando as vendas. E esse movimento vem se confirmando mesmo com algum suporte para os preços vindo dos prêmios. No porto de Paranaguá, por exemplo, as principais posições de entrega ainda contam com valores que vão de US$ 0,28 a US$ 0,40 sobre as cotações de Chicago, indicando uma demanda ainda forte pelo produto brasileiro.

E segundo o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o produtor brasileiro está bem vendido – com cerca de 60% da safra já foi comercializada e, na maior parte dos casos, se preocupa agora em cumprir os seus contratos.

“Hoje, o produtor tem que cumprir seus contratos para quitar dívidas, insumos, trocas, e garantir crédito, manter sua credibilidade com os fornecedores. O restante deles, como o mercado está barato demais, pode esperar, porque o espaço da baixa é mínimo. O risco dele perder segurando a soja é quase que insignificante”, disse.

Mercado Internacional

No mercado internacional, não só da soja, mas dos grãos negociados em Chicago de uma forma geral, a esperança de um novo fôlego para as cotações vinha sendo alimentada pelas informações divulgadas pelo USDA no Agricultural Outlook Forum. As novidades chegaram, mas o mercado não reagiu.

As autoridades do USDA, em estimativas ainda iniciais projetaram uma redução na área de plantio da soja, estoques menores e um aumento das exportações na temporada 2016/17.

Ainda assim, no balanço semanal, o resultado para as posições mais negociadas em Chicago foi negativo e as quedas variaram entre 1,61%, para o contrato agosto/16, que fechou cotado a US$ 8,72½ o bushel e 2,65% no contrato março/16, cotado a US$ 8,55.

Outlook Forum – Principais Números

Segundo o economista chefe do USDA, Robert Johansson, a área destinada à oleaginosa deverá ser, na temporada 2016/17, de 33.39 milhões de hectares, número que ficou abaixo das expectativas do mercado, de 33.71 milhões de hectares. Além disso, a área esperada é menor ainda do que a plantada na safra 2015/16, de 33.47 milhões de hectares. A área colhida esperada é de 33.02 milhões de hectares e a produtividade média foi estimada em 52,95 sacas por hectare.

Os estoques finais dos EUA na safra 2016/17 estimados são menores do que os da última temporada e devem ficar em 11.97 milhões de toneladas. A produção, seguindo o mesmo ritmo, deve cair de 107 milhões para 103.7 milhões de toneladas e as exportações, por outro lado, podem aumentar de 45.99 milhões para 49.67 milhões de toneladas no novo ano comercial. Há ainda uma possibilidade de um aumento do esmagamento de soja no país, que passaria de 51.17 milhões de toneladas da temporada 2015/16 para 51.71 milhões de toneladas na 2016/17.

O USDA estimou ainda uma redução no preço médio da soja, que passaria de US$ 8,80 para US$ 8,50 o bushel.

Commodities x Mercado Financeiro

Para os analistas de mercado, a pequena reação das cotações aos fundamentos positivos nesta semana reflete a íntima relação, não só da soja, mas de todas as commodities de uma forma geral, ao cenário financeiro mundial, que segue inspirando cautela diante das incertezas crescentes. A aversão ao risco, que pontualmente cai ao longo dos pregões, segue fortalecida e ainda muito presente entre os negócios.

Dessa forma, os fundos seguem às margens do mercado, evitando se posicionar nas commodities agrícolas, dado ao seu perfil de um ativo mais sensível e arriscado. “O mercado financeiro hoje está de mau humor. Há muita flutuação nas bolsas, muita gente perdendo dinheiro em commodities, petróleo, minério de ferro. Os riscos estão grandes nesse final de fevereiro”, disse Brandlizze.

Ainda segundo o consultor, há espaço para mais algumas quedas para a soja na CBOT, como mostram as análises técnicas, porém, de forma limitada. Além disso, reforça a opinião de que isso não se daria por conta de fundamentos, principalmente por não haver vendedores no mercado físico tanto nos EUA, quanto no Brasil ou na Argentina.

“Acredito que possa haver uma pressão a mais diante desse nervosismo, o financeiro ainda vai forçar um pouquinho para baixo”, disse. “Ao se aproximar dos US$ 8,50 o mercado traz uma catástrofe para os produtores norte-americanos”, disse.

Fonte: Notícias Agrícolas

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp