As condições climáticas para a safra 2015/16 de soja do Brasil estão bastante irregulares neste final e ano e gerando diversas incertezas para consultorias, tanto nacionais quanto internacionais, sobre seu real potencial. Somente nesta semana, algumas consultorias como a FCStone revisaram para baixo seus números, enquanto a Lanworth e a Horizon ajustaram seus números para cima.
Já nesta terça-feira (8/12), foi a vez do renomado consultor internacional Michael Cordonnier, da consultoria Soybean & Corn Advisor, reduzir sua estimativa para a produção brasileira de soja nesta temporada. O agrônomo cortou em 1 milhão de toneladas sua estimativa para 99 milhões de toneladas. O intervalo esperado por Cordonnier é bastante amplo ao oscilar entre 92 milhões e 105 milhões de toneladas.
A tabela abaixo mostra algumas das últimas estimativas, de órgãos públicos e consultorias privadas, para a safra brasileira. A divergência dos números é reflexo das imagens abaixo – enviadas pelos produtores rurais ao Notícias Agrícolas -, que mostram as discrepâncias geradas pelo clima em algumas regiões-chave de produção no País.
“O que traz um pouco mais de conservadorismo em relação à safra brasileira são as condições de um tempo mais seco do que o normal no Centro-Oeste do País, e o excesso de chuvas na região Sul. Nós todos sabemos que a soja pode se recuperar de um começo difícil na medida em que o clima vai melhorando ao longo da temporada.
O real problema para a cultura cresce quando as condições adversas se estendem para o crítico período do preenchimento da vagem e do enchimento de grão. Algumas das lavouras plantadas mais cedo estão começando agora a formar vagens e a preenchê-las, ou seja, estão entrando em um período crítico onde a umidade é necessária para garantir o potencial produtivo”, disse.
Diante desse quadro, o questionamento levantado pelo consultor agora é sobre o potencial das lavouras do Sul do Brasil e se ele poderia compensar as eventuais perdas que podem ocorrer no Centro-Oeste – e que se estendem para a região do Matopiba (em Balsas/MA não chove há mais de 30 dias e em alguns locais foram perdidos o plantio e o replantio).
E a resposta já começa a ser dada pelo fisiologista brasileiro Elmar Floss. O excesso de chuvas e, consequentemente, a falta de luminosidade já reduzem a força das plantas que, no Sul brasileiro, já se mostram comum a coloração verde claro e uma estatura menor, um cenário que, caso persista, pode comprometer a produtividade.
“E com os longos períodos de chuvas temos dois grandes problemas, o primeiro é o excesso de água que expulsa o oxigênio do solo. E o sistema radicular só cresce se tivermos o oxigênio no solo. O sistema radicular está menor, a soja fica mais preguiçosa e se tivermos um veranico mais adiante podemos ter um impacto nas plantas”, disse.
“Não queremos que pare de chover, pois se tivermos um déficit hídrico no período mais importante da cultura, quando a flor se transforma em vagem, podemos ter uma queda das vagens. E o principal componente da produtividade da soja é o número de vagens por plantas. E em segundo lugar temos o peso dos grãos e depois o número de grãos por vagens. Esperamos que janeiro e fevereiro venhamos a ter chuvas, mas também dias de sol, uma vez que a soja precisa de temperaturas entre 28ºC a 32ºC”, disse.
Além disso, Floss ressalta ainda a maior possibilidade do aparecimento de pragas e doenças em função do atual cenário climático. A ferrugem asiática começou a aparecer mais cedo este ano e plantas com apenas três folhas já estão sendo atacadas pelas lagartas e por novas pragas, como as lesmas, por exemplo. A orientação é prevenção e monitoramento intensivo, feito de dois em dois dias.
Previsão do tempo e o El Niño
E as últimas previsões climáticas ainda exigem atenção e continuam causando preocupação entre os produtores rurais de todas as principais regiões produtoras do Brasil. Para o Sul, as chuvas devem retornar já a partir desta quarta-feira (9) por conta de uma nova frente fria, enquanto um novo bloqueio atmosférico se forma sobre o Brasil Central que, novamente, limita as chuvas em Mato Grosso, norte de Goiás, do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Matopiba mais o Pará. Até lá, as chuvas no Centro-Oeste e Sudeste continuam, mas ainda em forma de pancadas, segundo o Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia.
“Essas chuvas manterão as condições favoráveis ao desenvolvimento das culturas, mas impossibilitaram as atividades agrícolas, principalmente no Sul, com exceção para a região da campanha e zona sul do Rio Grande do Sul, que terão tempo um pouco mais firme durante essa semana. Assim, condições ruins para os produtores do Sul e também no Mato Grosso e do Matopiba. Sul por conta de muita chuva e nas outras duas regiões, ausência dela”, disse o especialista.
Estas condições, ainda de acordo com Santos, são consequências e reflexo dos efeitos do El Niño, um dos mais fortes de toda a história. “Todas as previsões indicam o pico do fenômeno agora. Ainda teremos impactos em todo o primeiro semestre do ano que vem”, disse climatologista Gilvan Sampaio de Oliveira, estudioso do fenômeno no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em uma apresentação feita em São Paulo nesta segunda-feira (7).
Porém, depois do pico, as indicações são de que, neste momento, o fenômeno poderia, provavelmente, estar iniciando um processo de declínio das temperaturas, como disse o agrometeorologista. Porém, reforça que ainda é necessário um período maior de observação para que este seja um processo consolidado.
Fonte: Notícias Agrícolas