As empresas que implementam modelos de negócios e estratégias alinhadas às melhores práticas ESG, referentes à adoção de uma gestão ambiental, social e de governança, podem se diferenciar no mercado e criar valor. Essas práticas oferecem oportunidades de crescimento para os produtores agrícolas e orgânicos, na entrega de resultados e no posicionamento de mercado.
“No mercado consumidor, onde questões como rastreabilidade e transparência são cada vez mais exigidas, as práticas de gestão ambiental, social e de governança, na sigla em inglês ESG, já estão sendo realizadas. As cobranças são cada vez mais intensas por ações voltadas à sustentabilidade ambiental, à gestão eficiente e ao bem-estar dos trabalhadores”, disse a diretora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner, que participou como moderadora, no último dia 11 de maio, da videoconferência “ESG abre oportunidades para a produção agrícola e orgânica”.
O evento foi organizado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) e Faculdade de Ciências Agro-Ambientais (Fagram).
Na ocasião, Luis Barbieri, cofundador da Raiar Orgânicos, empresa de proteína orgânica animal criada em 2019, afirmou que a adoção de um modelo integrado de negócios permite monitorar, rastrear e gerir os padrões de qualidade, desde o processo de originação dos grãos à distribuição e comercialização.
Contextos
Nesse sentido, Barbieri ressaltou que a questão da governança é fundamental. “Hoje o que parte do setor agrícola recebe de críticas está associado à falta de governança. E o consumidor quer governança para garantir o processo de transparência, rastreabilidade, garantia de origem e cumprimento de metas. Acho até que a sigla ESG deveria começar com o G, pois sem governança não há como avançar em nenhum dos outros aspectos”, disse.
No contexto ambiental, Barbieri chamou a atenção para a importância de estabelecer um modelo de negócios de incentivo à agricultura orgânica regenerativa, além de ações como a eliminação do uso de agrotóxicos com preservação das águas; originação exclusiva em áreas de desmatamento zero; monitoramento da pegada ambiental; uso de embalagens recicláveis e busca por uma neutralidade de carbono.
No âmbito social, o representante da Raiar falou sobre a necessidade de estimular a alimentação saudável e orgânica; estabelecer programas de fomento para pequenos produtores em áreas de assentamento rural; garantir suporte à certificação para a agricultura orgânica, a fim de melhorar o acesso de produtos; viabilizar, por meio de licitações, e de modo prioritário, a participação de pequenos produtores nos programas de merenda escolar, e realizar programas de educação ambiental e educacional com escolas e comunidades.
Avaliação
A advogada e professora Luciana Vianna Pereira, coordenadora de cursos com temática ESG, ao concordar com a posição de Barbieri, de que a governança é um pilar essencial dessas práticas, observou que, “quando o mercado financeiro avalia o aspecto da sustentabilidade, por exemplo, há uma certa tendência de simplificação das informações ou de focalizar com mais frequência um determinado tema, como o clima, por exemplo, enquanto há diversos outros aspectos ligados à questão ambiental.”
Dessa forma, complementou a especialista, “é necessário fazer uma avaliação macro, considerando os mais variados impactos relacionados à sustentabilidade”.
No âmbito social, Pereira também considerou importante a inclusão dos pequenos produtores para que eles possam melhorar suas condições de vida e tenham a capacitação necessária a esse mercado. “Isso irá motivá-los na medida em que é uma visão que está sendo adotada tanto no Brasil como no exterior”, disse.
Bem-estar animal
Christianne Perali, coordenadora-geral dos cursos superiores de Tecnologia da Faculdade de Ciências Agro-Ambientais (Fagram), destacou o bem-estar animal como um dos aspectos importantes para a garantia da qualidade dos produtos e acrescentou que no exterior os consumidores já buscam mais informações sobre as condições a que são submetidos os animais durante o processo produtivo.
Nesse sentido, segundo a especialista, a questão da transição dos sistemas produtivos, do tradicional para o orgânico, ainda é um desafio no País. “Há todo um processo de mudança, que inclui desde a dieta animal à troca ou adaptação de instalações, e nem todos os produtores têm condições de arcar com os custos e riscos dessa mudança”. Para Christianne, é importante que as empresas apoiem essa transição, garantindo também o suporte técnico necessário.
Ainda segundo a especialista, na área de produção de gado leiteiro já existe uma preocupação maior com o bem-estar, aliado à tecnologia, como no caso do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). “É preciso um olhar diferenciado para cada propriedade rural, porquê cada uma tem necessidades específicas, mas o ponto em comum, no caso da produção orgânica, é o respeito ao consumo dos recursos naturais”.
Além disso, Christianne lembrou que o uso das tecnologias sustentáveis como a ILPF favorece o produtor em questões como sequestro de carbono, lucratividade, bom uso do solo e melhor gestão de recursos.
Outros destaques
Ainda durante a videoconferência foi debatido o aprimoramento do processo de certificação orgânica, incluindo, entre outros aspectos, a simplificação das informações presentes nos rótulos dos produtos; estratégias para o financiamento de atividades produtivas; a necessidade de divulgação, no mercado externo, do trabalho desenvolvido no Brasil com relação às práticas sustentáveis de produção, e a importância de educar o consumidor a respeito da origem dos produtos.
Fonte: CI Orgânicos
Equipe SNA