Mauro Zafalon
O setor de leite vive um equilíbrio delicado. A entressafra bate à porta, a captação de leite cai, os preços do produto sobem no campo, mas os custos de produção também evoluem.
Do lado da indústria, aumenta a concorrência pelo produto, devido à menor oferta, os preços sobem e as empresas têm dificuldades em repassar custos para atacado e varejo, devido ao baixo poder de compra dos consumidores.
Alguém vai pagar a conta.
“Ainda não há um clima de desespero, mas uma mudança de expectativas”, disse Natália Grigol, pesquisadora do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), órgão ligado à ESALQ/USP e que acompanha regularmente as movimentações no setor de leite.
O primeiro trimestre, que tradicionalmente tem aumento na captação de leite, apresentou uma redução próxima de 10% neste ano, em relação a 2017. Esse comportamento diferente neste ano é reflexo do que ocorreu em 2017, segundo Natália.
O segundo semestre do ano passado foi muito ruim em preços para o produtor, que deixou de investir na produção, abateu vacas leiteiras e ficou descapitalizado.
Para muitos, a única saída foi o abandono da atividade, principalmente para os que não têm uma boa gestão de sua atividade. Passados esses primeiros meses do ano, os desafios para os produtores agora são a entressafra e suas consequências.
As condições das pastagens ficam mais deterioradas, devido ao frio e à falta de chuvas, e o produtor é obrigado a recorrer mais à ração, que tem custos maiores devido às altas atuais do milho e do farelo de soja.
A preocupação do produtor para os próximos meses é com o comportamento dos preços dos cereais. Com o avanço da safrinha, o preço do milho deverá perder pressão?
Para Natália, há sempre dificuldades de gestão para os produtores em períodos de preços voláteis no setor. Esse choque de preços torna as margens apertadas.
Os desafios aumentam para produtores e indústrias nesse período de entressafra, que, na maioria das regiões do país, vai de abril a setembro, com efeitos mais agudos em julho e agosto.
Haverá um jogo de forças no setor nos próximos meses, mas a pesquisadora do CEPEA acredita que não ocorrerá grandes oscilações de preços. O consumidor final poderá pagar mais pelo produto, mas ele já mostra dificuldades em absorver novos reajustes.
Na avaliação da pesquisadora, o produtor já vem com uma fragilidade financeira nos anos recentes. Esse novo cenário, principalmente devido à volatilidade de preços, pode complicar ainda mais sua situação.
Genômica
Uma seleção de animais geneticamente superiores. É o que promete um produto de avaliação genômica para rebanhos leiteiros no Brasil.
Melhoramento
Desenvolvido pela Embrapa, Associação Brasileira de Criadores de Girolando, CRV Lagoa e Zoetis, a avaliação genômica abre possibilidade para o melhoramento do rebanho, segundo as empresas envolvidas no projeto, anunciado nesta terça-feira (8), em São Paulo.
Fonte: Folha de São Paulo