Setor de etanol cobra promessas de Trump

O Corn Belt dos Estados Unidos tem muita influência em Washington, especialmente no momento. E isso está vindo a calhar para as empresas de etanol, que têm perdido algumas batalhas para o setor de combustíveis fósseis.

No último ano, políticas que obrigam que a gasolina vendida nos EUA inclua biocombustível feito de milho colidiram contra o alívio dado pelo governo Trump às refinarias de petróleo em um complicado sistema que mantém o fluxo de combustível produzido com o cereal. E essa briga entre as indústrias chegou ao ápice na semana passada.

O debate se dá sobre o Padrão de Combustíveis Renováveis, ou RFS (na sigla em inglês), o primeiro estabelecido pelo Congresso como parte de uma lei de energia de 2005 e expandido de forma significativa em 2007. O RFS obriga que grandes quantidades de etanol sejam misturadas na gasolina.

Quase toda a gasolina dos Estados Unidos contém 10% de etanol graças à lei, e a política tem beneficiado a demanda por milho. Pequenas refinarias impuseram objeções, dado que muitas enfrentam problemas logísticos para misturar o produto. O custo de comprar os crédito no lugar de fazer a mistura pode ser elevado e, eventualmente desastroso.

Todo ano, muitas refinarias pedem isenções à Agência de Proteção Ambiental (EPA), e lobistas de milho e de etanol têm protestado contra essas isenções, especialmente diante outros desafios econômicos enfrentados atualmente por Washington, como a disputa comercial com Pequim.

Trump prometeu uma expansão do programa de etanol enquanto candidato, mas traçou uma linha tênue entre os grupos conflitantes. No início do mês, por exemplo, a EPA concedeu isenções de mistura de etanol para 31 refinarias, mais do que quatro vezes o nível de 2015.

Grupos de lobby de milho e etanol ficaram furiosos, e os preços das ações de empresas como Pacific Ethanol, Green Plains e Renewable Energy Group caíram. No fim da semana passada, uma concessão parece ter começado a tomar forma. A agência Reuters informou que o governo Trump estava considerando aumentar as cotas de mistura de biocombustível nos próximos anos.

As ações das empresas de etanol inicialmente pularam diante da notícia. E os preços do etanol, que caíram mais de 20% desde junho, recuperaram parte das perdas, embora os do milho tenham ficado estáveis, mas por causa de informações “baixistas” relacionadas à safra dos EUA.

O negócio de milho em geral é muito maior que o etanol, e o USDA estimou que a produção americana alcance 353 milhões de toneladas nesta safra, enquanto a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) diz que as concessões às refinarias cortarão a demanda em 5.7 milhões de toneladas.

A EPA tem atrelado as isenções que concede à demanda por milho. É bom ter amigos em altos postos, mas as refinarias podem ter um aliado mais poderoso do que Donald Trump: o mercado.

 

Valor Econômico

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