Trinta por cento, em média, de toda a produção nacional de frutas e hortaliças vão parar no lixo, todos os anos, sendo que metade disso ocorre devido ao manuseio e transporte incorretos dos produtos. Uma embalagem adequada, por exemplo, significa redução desse desperdício, além de aumentar a durabilidade e o frescor das hortifrútis, e ainda melhorar a apresentação para as vendas. Detalhes desse cenário constam no Boletim de Inteligência “Tendências de Embalagens”, elaborado pelo Sebrae Mercados.
O estudo do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas indica que o impacto das embalagens inadequadas, no país, cause um prejuízo de aproximadamente um bilhão de dólares, com as perdas de 20% a 30% de frutas e hortaliças. Por causa disso, os produtos costumam ter pouca durabilidade e alterações de suas características, como aparência, aroma e sabor naturais.
Presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacyr Saraiva Fernandes afirma que, para analisar as perdas e desperdícios que ocorrem ao longo do canal de valor dos hortifrútis, em primeiro lugar, é fundamental conceituar ambos os termos.
“As perdas se referem à diminuição do volume de frutas e derivados e de hortaliças, causada por motivos diversos, ao longo das cadeias produtivas. Já o desperdício envolve a própria redução do produto, que ocorre nas etapas finais das cadeias produtivas, e está relacionado com os múltiplos meios de comercialização, existentes hoje, e com os costumes e comportamentos dos consumidores, no Brasil”, explica Fernandes, em entrevista à equipe SNA/RJ.
Segundo ele, “saber o motivo das perdas de frutas e hortaliças, após serem embaladas, e como podemos evitar essa situação – ou, ao menos, reduzir tal processo –, é uma questão importante para a fruticultura e horticultura nacional. Mas obter essa resposta é difícil, nos dias de hoje, por falta de informações sólidas e comprováveis sobre o problema”, diz o presidente do Ibraf, que considera inaceitáveis tais perdas na hortifruticultura.
CENÁRIO INACEITÁVEL
Pesquisas do Ibraf, instituição que monitora o mercado de frutas há 15 anos, no país, apontam que, para determinar o consumo e o destino desses alimentos no Brasil, devem ser considerados alguns aspectos.
“Atualmente, segundo dados oficiais do IBGE (os mais recentes são de 2014, do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística), a produção comercial de frutas foi estimada em 42,6 milhões de toneladas, sendo que 53% foram destinados ao segmento in natura, ou seja, 22 milhões de toneladas. Deste montante, 15% são perdidos, em média, ao longo do canal de valor até chegar ao consumo final”, relata.
Para Fernandes, “isso significa que aproximadamente 3,4 milhões de toneladas, simplesmente, desaparecem devido a muitos fatores, muitos deles em ações sinérgicas, agravando os danos e as perdas”. Ainda afirma que, exclusivamente, por causa das embalagens inadequadas, as perdas são calculadas por volta dos 30%, ou seja, um milhão de toneladas, “mas ressaltamos que isso ocorre com baixo nível de aderência à realidade”.
Em sua opinião, “o atual cenário é bem preocupante e deve ser tratado com mais atenção, não só pelo poder público, mas também pelos intervenientes de produção e pelo próprio mercado, que envolve os mais variados segmentos da cadeia produtiva das frutas”.
TENDÊNCIAS
O Boletim de Inteligência do Sebrae Mercados aponta que as embalagens adequadas servem para proteger as frutas e hortaliças, facilitar a movimentação dos produtos, favorecer suas identificações e rastreabilidades, além de melhorar sua exposição nos pontos comerciais, principalmente no varejo.
Para auxiliar o mercado de fruticultura, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) desenvolveu um estudo sobre as tendências de embalagens: o Brasil Pack Trends 2020. Ele indica que esse setor será norteado pelas macrotendências, até o ano de 2020: conveniência e simplicidade; estética e identidade; qualidade e novas tecnologias; sustentabilidade e ética; segurança e assuntos regulatórios.
Para avaliar quais embalagens são as mais e as menos adequadas para a fruticultura, o presidente do Ibraf diz que é preciso considerar a existência de embalagens para o transporte do pomar aos packing houses e, a partir daí, ao longo do canal de suprimento; embalagens de acondicionamento e apresentação, que são utilizadas para ofertar as frutas ao comprador; e as embalagens para o próprio embalamento, que é realizado para posicionar esses alimentos, de forma a atender à segmentação do mercado, nos pontos finais de vendas aos consumidores, e, ao mesmo tempo, como instrumento de diferenciação e de marketing.
MAIORES IMPACTOS
Fernandes informa que as principais perdas dos hortifrútis ocorrem com as embalagens, na hora do transporte, causando impactos mais sérios na fruticultura: “Ao mesmo tempo, não podemos dissociá-las (as perdas) dos meios de transporte em si”.
Segundo o presidente do Ibraf, “existem graves problemas que vão desde o transporte a granel, cuja carroceria dos veículos faz o papel de contendedores, até a utilização de embalagens tecnicamente recomendadas, porém de má qualidade, que não resistem ao manuseio, como o empilhamento, por exemplo”.
Ainda indica que, “evidentemente, as embalagens mais adequadas são as caixas plásticas retornáveis, higienizáveis, que possam evitar a proliferação de doenças, pragas, danos finais às frutas, enfim, minimizando as perdas desses alimentos”. “As sacarias, caixas de madeira e papelão reutilizadas e sujas são, obviamente, as menos indicadas.”
Fernandes cita também que o pior cenário para a fruticultura – que pode ser estendida à horticultura – está relacionado ao transporte a granel, que causa um alto nível de perdas pelas estradas brasileiras, dependendo da variedade dos hortifrútis.
AS MAIS INDICADAS
“A situação ideal, portanto, seria o uso de caixas plásticas higienizadas, paletizáveis e transportadas em caminhões frigoríficos ou, em alguns casos, em caminhões isotérmicos”, orienta o presidente do Ibraf.
Para mudar esse cenário – do mau uso de embalagens e dos transportes inadequados –, existem dois pilares a serem seguidos, conforme orientação do Instituto Brasileiro de Frutas: maior conscientização dos intervenientes operacionais, ao longo da cadeia de valor, de que evitar perdas é dever de todos; e que exista uma legislação nacional a ser cumprida à risca.
“Não dá para o setor de fruticultura ser gerenciado apenas por um marco regulatório, que não vem sendo obedecido, fundamentado na Instrução Normativa Conjunta n° 9, de 12 de novembro de 2002, envolvendo a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).”
APRESENTAÇÃO NO VAREJO
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Frutas, nos pontos de vendas no varejo, em todo o território nacional, ainda prevalece a apresentação dos hortifrútis a granel. Nesse modelo de comercialização, o próprio estabelecimento apresenta a maior parte das frutas e hortaliças em gôndolas, tipo plataforma.
“Considerando o baixo nível de educação alimentar do consumidor, esse sistema permite o livre manuseio das frutas e hortaliças, muitas vezes, de forma irresponsável, além de provocar danos à qualidade dos alimentos, acarretando as perdas. Contudo e cada vez mais, como inovação, notamos melhorias da oferta das frutas pré-embaladas tanto nos supermercados e hortifrútis quanto nos mercados e feiras livres”, comenta Fernandes.
De acordo com ele, as novas embalagens apresentam multifuncionalidades: “Elas servem de suporte de identificação e aportam melhor informação ao cliente. Mas acima de tudo, permitem adaptar a oferta às necessidades e expectativas do consumidor. Também permitem comunicar, ao cliente, quando a fruta foi posta à venda e o prazo de validade”.
MARKETING
Nos serviços especializados, cada vez mais populares, “o produto tem de ser seu próprio vendedor, e partir daí, a embalagem passa a ser a mais importante ferramenta de marketing”.
“As decisões de envase e uso das embalagens de nova geração, em primeiro lugar, foram baseadas em fatores de custo e produção. Mas atualmente, e no futuro, com o aumento da concorrência, o marketing passou a ser protagonista no desenvolvimento das embalagens”, afirma Fernandes.
Ele ainda explica que as novas embalagens desempenham dois papéis básicos: atrair para ser escolhido e explicar seu modo de emprego do produto, de forma clara e adequada, como forma de motivar o comprador a adquiri-lo.
“O novo conceito do papel das embalagens de frutas, legumes e vegetais frescos continua em evolução, no entanto, já conta com grande importância para a venda, atratividade e funcionalidade.”
Todos os materiais – cartão, plástico e madeira – estão se adaptando e com propostas de novidade: “Portanto, o pré-envasado, definido como o produto inteiro ou em pedaços embalados, está ganhando cada vez mais espaço por meio de tipos e formas diferenciadas, procurando atender à segmentação do mercado”.
Por equipe SNA/RJ