Sete usinas sucroalcooleiras de Alagoas vinculadas à Cooperativa Regional dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas (CRPAAA) conseguiram ontem proteção judicial contra credores. Além dessas unidades, também entraram em recuperação judicial a Copertrading e outra empresa da cooperativa. No total, as dívidas vencidas do grupo somam R$ 530 milhões. A decisão foi proferida pelo juiz Ayrton de Luna Tenório, da 4ª Vara Cível de Maceió.
A recuperação vem em um momento de agravamento da crise do setor no Nordeste, onde as usinas são mais suscetíveis às variações no preço de açúcar, já que seu mix produtivo é mais açucareiro. Neste ano, os contratos futuros do açúcar de segunda posição de entrega na bolsa de Nova York já caíram 25,8%, segundo o Valor Data.
Some-se a isso um período de três anos de estiagem, que vem afetando fortemente a disponibilidade de cana. A Copertrading deve exportar nesta safra 400.000 toneladas de açúcar, muito aquém das 1 milhão de toneladas embarcadas no passado, segundo Jorge Toledo, diretor do grupo Toledo, dono de três das usinas que entraram em recuperação.
Em Alagoas, essa crise já impacta a economia regional, uma vez que o PIB do setor representa mais de 10% do PIB do Estado.
Essas sete usinas já vinham atrasando pagamentos de credores e trabalhadores há mais de um ano. Em 2016, quando os preços do açúcar estavam melhores, conseguiram renegociar algumas dívidas, mas a recente queda das cotações da commodity prejudicou novamente o fluxo financeiro.
Ao longo dos últimos três anos, as usinas já vinham demitindo trabalhadores de forma expressiva. Além da crise financeira, as demissões também foram provocadas pela mecanização da colheita, que passou de 25% para 65% na região nesse período.
A principal devedora das recuperandas é a Copertrading, que tem entre seus credores basicamente instituições financeiras. Seu principal credor é o Banco do Nordeste, com R$ 90 milhões a receber em moeda nacional e US$ 53 milhões em dólar. Também estão entre os bancos credores o Safra, CCB, Daycoval e BNP Paribas.
As dívidas das usinas estão alocadas principalmente com fornecedores e trabalhadores. O saldo devedor de cada uma varia de R$ 20 milhões a R$ 40 milhões. Segundo Toledo, o número de fornecedores de cana afetados pode chegar a quase 4.000.
Como a lei de recuperação judicial não admite a recuperação de cooperativas, cada empresa associada terá que apresentar uma lista de credores e um plano de pagamento próprio. Elas terão 60 dias para apresentar seus planos. Segundo Toledo, todas as alternativas para viabilizar o pagamento aos credores serão cogitadas e negociadas entre as usinas, desde a venda de ativos até “associações”.
O administrador judicial designado pelo juiz é Evandro Jucá Filho e o escritório que representa as recuperandas é o Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados, de São Paulo.
A CRPAAA reúne dez usinas, o que representa mais da metade do parque sucroalcooleiro do Estado, onde há mais oito unidades, mas apenas duas estão em operação.
Estima-se que as usinas ligadas à cooperativa processarão 4 milhões de toneladas de cana neste ciclo, que está começando atrasado ante o período normal por causa de chuvas fora de época. Entretanto, essas usinas já chegaram a processar 9 milhões de toneladas. Na safra passada (2016/17), a cooperativa faturou cerca de R$ 800 milhões, mas a receita já chegou a superar em muito R$ 1 bilhão.
Na semana passada, a Usina Leão, do grupo EQM, localizada em Rio Largo (AL), também pediu recuperação. Essa unidade, porém, não opera desde a safra passada. Atualmente, dez das 25 usinas de Alagoas estão em recuperação judicial. Três faliram.
Fonte: Valor