Apesar de a chuva ter aparecido em algumas regiões brasileiras na semana passada, o volume não foi suficiente para fazer frente à seca prolongada que atinge diversas localidades do país, como o Nordeste. Por este motivo, o período extenso de calor vem preocupando o setor produtivo agrícola. E o governo federal, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), teve que entrar em ação.
Para socorrer os produtores nordestinos, por exemplo, o governo federal liberou R$ 2,7 bilhões, além de ter antecipado o programa Garantia-Safra, com benefício de 760 reais divididos em cinco parcelas, liberado para lugares que já registraram, pelo menos, 50% de perda da produção. Concedeu ainda linha de crédito especial no Banco do Nordeste, com taxas de juros mais baixas e prazos de pagamentos de até dez anos, somando R$ 1 bilhão para a economia da região.
Outro benefício concedido foi o “Bolsa Estiagem”, destinado àqueles agricultores que não aderiram ao Garantia-Safra, além de 400 reais divididos em cinco parcelas, desde que: o produtor more em municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública; possua renda familiar mensal média de até dois salários mínimos; e tenha inscrição no Cadastro Único de Programas Sociais do governo federal e Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que podem ser feitas a qualquer momento.
Por causa da seca, muitas regiões brasileiras também estão em alerta, sendo que algumas já declararam estado de emergência. Em Goiás, as perdas da safra chegaram a um patamar inesperado. É o que afirma Cristiano Palavro, consultor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) Goiás. “Realmente, desde meados de dezembro, as chuvas estão abaixo da média no Estado. As perdas na produção, apesar de serem de difícil mensuração, já alcançaram os patamares de 15% e são irreversíveis, podendo ser maiores do que o esperado”, comenta.
Segundo Palavro, mesmo com as chuvas recentes, as lavouras já foram afetadas. “Com o retorno das chuvas, estes danos devem parar de crescer, mas é importante lembrar que em alguns locais as chuvas ocorreram, porém ainda não em volume suficiente para encerrar os problemas”, reforça o consultor do Senar Goiás.
Como fica a safrinha?
Com o período prolongado de seca, os produtores da chamada safrinha – que é plantada entre janeiro e março, logo após o início do cultivo da soja – estão preocupados. Para sanar os problemas da falta de chuvas, não há muitos artifícios a serem utilizados, ressalta Palavro. “A irrigação está presente em menos de 5% da área e não é, atualmente, uma solução. Os produtores terão que analisar os possíveis riscos e tomar a decisão se arriscarão ou não plantar a safrinha”, avisa. “Um fator positivo é que, com a expectativa de menor produção de milho-verão e queda na área de safrinha, os preços podem ficar mais competitivos”, pondera.
Quando questionado sobre o fato de o produtor ficar sempre à mercê das variações do clima, o consultor do Senar Goiás não polemiza. “Na verdade, todos os anos nós temos diferentes realidades. O clima é sempre muito variável de ano a ano, com diferentes tendências, muitas vezes influenciados pelos efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña, que em 2014 não apareceram”, salienta.
“É imprevisível saber se os efeitos da seca, pelo menos em Goiás, se agravarão a cada ano. Por exemplo, em 2013, tivemos problemas com excesso de chuvas na colheita e o veranico foi menos intenso que em outros anos.”
De acordo com ele, o fato é que não existe agricultura sem dependência de fatores climáticos, “porque a grande maioria de nossa área plantada de grãos é em área de sequeiro (sem irrigação), e não seria viável se fazer o contrário”.
Cautela
A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) aponta que os 15%, em média, já perdidos da safra deste ano no Estado equivalem a um déficit de 1,4 milhão de toneladas do grão e prejuízos na ordem de R$ 1,3 bilhão aos agricultores. “A queda de 15% da sojicultura é uma estimativa, no entanto, as perdas consolidadas estão em torno de 6%”, informa o presidente da entidade, José Mario Schreiner.
O cenário está ainda mais preocupante porque, segundo ele, a seca não é a única vilã dos agricultores brasileiros: as novas pragas, como a lagarta falsa-medideira, estão atacando lavouras e são ainda mais penosas à produção agrícola que o tempo quente. “Por este motivo, os produtores precisam ter muito cautela no plantio da safrinha.”
Além do milho, os produtores da safrinha podem plantar sorgo, milheto, aveia, nabo forrageiro, girassol e adubos verdes.
Por equipe SNA/RJ