Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe-geral da Embrapa Cerrados

Sebastião Pedro da Silva Neto. Foto: Arquivo Pessoal

A SNA conversou com Sebastião Pedro da Silva Neto, engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa e PhD em Biotecnologia Agrícola pela Tokyo University of Agriculture, Tokyo-Japão. Além da sólida formação acadêmica, possui destacada trajetória profissional e vasta experiência técnica, científica e administrativa. Atualmente na chefia geral da Embrapa Cerrados, tendo ingressado na empresa em 2008, ele falou sobre os desafios, avanços e perspectivas para o bioma que é o grande protagonista da Agropecuária brasileira. Confira a seguir:    

 

SNA: O cerrado foi o grande protagonista do salto quantitativo e qualitativo que o Brasil deu em sua produção agropecuária, com o desbravamento do interior do País. A Embrapa, por meio de suas divisões, foi determinante ao ajudar produtores com pesquisa e tecnologia de ponta para enfrentar solos mais secos e menos férteis, além do aperfeiçoamento genético de sementes e uso consciente de defensivos e fertilizantes. Que balanço o senhor faz dessas décadas, agora que comanda o departamento dedicado ao bioma mais desafiador e pujante do agronegócio nacional?

 Sebastião: Ao longo dos últimos 50 anos a Embrapa cumpriu a missão de transformar o Brasil de um importador de alimentos para se tornar num dos maiores produtores e exportadores do planeta. Isso foi feito com base em pesquisa científica aplicada na criação de soluções tecnológicas para as limitações existentes na produção agrícola nos biomas brasileiros.

Particularmente, no Bioma Cerrado, houve uma grande transformação. A vasta região que antes era ocupada exclusivamente por uma pecuária extensiva de baixo rendimento e agricultura de subsistência. Atualmente é responsável por mais de 60% da população de grãos, açúcar, etanol, e carne bovina.

Contribuindo para que o Brasil seja atualmente o maior produtor e exportador mundial de soja, açúcar, suco de laranja, café, carne bovina, algodão, entre outros.

SNA: No cenário atual, a demanda pelo crescimento da produção vem acompanhada das novas diretrizes de sustentabilidade e preservação. Nessa perspectiva, quais as soluções buscadas no sentido de ajudar os agricultores com o controle dos recursos hídricos, escolha dos tipos de plantio e outros métodos que maximizem o aproveitamento do que a natureza tem a oferecer?

 Sebastião: O desafio de cinco décadas atrás, era gerar produção para abastecer o país e garantir a independência alimentar. Atualmente é continuar contribuindo para a segurança alimentar do mundo, por meio de práticas agrícolas sustentáveis nos âmbitos econômico, social e ambiental. Neste sentido, a Embrapa vem pesquisando novas soluções tecnológicas sustentáveis como a rochagem, para melhorar a fertilidade dos solos e aumentar a capacidade de absorção e retenção de água; uso de bioinsumos (biofertilizantes e biodefensivos)  no sentido de reduzir o uso de insumos sintéticos como fertilizantes.

 SNA: A fixação de nitrogênio nas raízes de certas plantas despontou como um avanço substancial para ajudar alguns cultivos em períodos de seca e estiagem. Poderia falar mais sobre isso, e em que medida estratégias tão sofisticadas podem chegar aos pequenos produtores do cerrado, sobretudo na fruticultura de propriedades familiares, algo muito comum no bioma?

 Sebastião: A fixação biológica de nitrogênio através da simbiose de bactérias do gênero Rizobium com raízes de plantas leguminosas tem sido utilizada de forma muito eficiente como fonte de nitrogênio de origem biológica em substituição aos fertilizantes nitrogenados sintéticos no ambiente tropical brasileiro. O avanço das pesquisas da Embrapa mostrou que bactérias do gênero Azospirilum fixam nitrogênio em gramíneas, gerando grande economia de custos como adubação nitrogenada nas culturas de grãos e cana de açúcar.

Mais recentemente, as pesquisas em micro-organismos da biodiversidade brasileira revelaram a possibilidade de melhoria na eficiência na absorção de fósforo em várias culturas, inclusive as frutíferas. E a inoculação de uma bactéria isolada na rizosfera da planta do Mandacaru, tem aumentado a resistência de várias culturas ao stress hídrico. Estas estratégias biológicas estão sendo amplamente utilizadas como bioinsumos, atualmente na agricultura brasileira por todos os agricultores. Há necessidade de mais ações de transferência de tecnologia para que esses conhecimentos cheguem a todos os produtores, principalmente aos pequenos.

SNA: De que modo enxerga os três núcleos temáticos e as áreas de pesquisa da Embrapa Cerrados na transição para a economia verde que determinará os integrantes do novo arranjo de produção mundial, algo que muitos já batizaram de “cinturão tropical agrícola”?

 Sebastião: A Embrapa Cerrados possui três núcleos temáticos: produção vegetal, produção animal e recursos naturais, que se interligam de forma complementar no planejamento e geração de pesquisas sustentáveis, não somente para aplicação no bioma Cerrado, que é uma parte considerável do cinturão tropical agrícola. Os três núcleos temáticos da Embrapa Cerrados atualmente trabalham de forma integrada para gerar um conjunto de processos de produção alinhados com o que se chama de agricultura sempre verde.

SNA: O que esperar dos próximos 50 anos da Embrapa como um todo, após efeméride tão marcante em 2023?

 Sebastião: Nos próximos 50 anos, a Embrapa está preparada para continuar contribuindo com a produção agropecuária sustentável. Particularmente na Embrapa Cerrados, o grande acervo de conhecimento construído ao longo das últimas 5 décadas, permite que se lancem as bases de uma agricultura mais baseada em processos do que em produtos, trazendo o protagonismo das ciências biológicas ao modelo de produção sustentável.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor (MTb 13.9290)  marcelosa@sna.agr.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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