O Conselho de Administração da São Martinho, um dos maiores grupos sucroalcooleiros do País, aprovou ontem a construção de uma planta de processamento de milho integrada à usina Boa Vista, em Quirinópolis (GO), para a produção de etanol. O projeto, que começou a ser elaborado em 2019, demandará investimentos de R$ 640 milhões.
Os recursos servirão também para erguer um armazém para acomodar 250.000 toneladas e direcionar parte da energia gerada na usina Boa Vista com a queima do bagaço de cana para o processamento do milho. “É uma oportunidade para continuar expandindo o site como uma grande central energética e de conversão de biomassa”, disse Fábio Venturelli, presidente do grupo, ao Valor. A expansão vai gerar 1.400 empregos diretos e indiretos.
“Aumentar a capacidade de produção de etanol pelo milho, e não pela cana, se mostrou uma opção mais competitiva, mas essa escolha só fez sentido porque seria uma produção integrada à usina atual, e não autônoma”, disse o executivo.
A alta do milho nos últimos meses pôs à prova o plano da São Martinho, e o grão passou pelo teste. “Ao analisar o preço, chegamos à taxa de retorno mínima para aprovar um projeto, que é 20%”, afirmou Felipe Vicchiato, diretor Financeiro e de Relações com Investidores.
Com a rota escolhida, a São Martinho conseguiu encaixar o etanol de milho dentro do benefício fiscal que a unidade já usufrui pelo programa “Produzir”, de Goiás. Pelo contrato com o estado, a usina tem direito ao benefício para o etanol equivalente à moagem de oito milhões de toneladas de cana (700 milhões de litros anuais) até 2032.
Tecnologia de conversão
Assim como a maior parte das usinas de etanol de milho construídas no País nos últimos anos, a planta da companhia terá capacidade de processar 500.000 toneladas do grão ao ano. Mas, com uma tecnologia de conversão acima da média, da Fluid Quip Technologies, a capacidade de produzir etanol será de 210 milhões de litros por safra. Isso amplia em 50% a capacidade da Boa Vista, que passará dos atuais 420 milhões para 630 milhões de litros.
Se a decisão pela ampliação da produção de etanol se desse pela cana, a companhia teria de plantar 45.000 hectares, 60% mais que a extensão da Usina Boa Vista, ressaltou Agenor Pavan, diretor de Operações. “Seriam necessários mais três milhões de toneladas de cana, demandando tempo e investimento elevado para sustentar a qualidade das lavouras”.
A unidade utilizará 58.000 megawatts-hora (MWh) cogerados do bagaço da cana, e hoje comercializados. Se não houvesse aportes na caldeira, seria de 110.000 MWh.
Receita e créditos
Quando a planta tiver operando normalmente, após abril de 2023, em 330 dias por ano, a São Martinho espera uma receita adicional de R$ 750 milhões ao ano. “Uma parcela relevante, R$ 250 milhões, deverá ser obtida com DDGS (farelo seco) e óleo de milho”, disse Vicchiato.
A companhia vê uma demanda crescente pelo DDGS na criação de animais, segmento já conhecido pela empresa pela venda de leveduras.
O etanol adicional também poderá gerar Créditos de Descarbonização (CBios). Vicchiato reconhece que é mais difícil rastrear os produtores do grão do que os da cana, mas disse que haverá um esforço para conseguir uma elegibilidade (parcela da produção apta a emitir CBios) acima dos patamares do etanol de milho hoje, de 12%.
O projeto será financiado pelo BNDES. Segundo Vicchiato, o perfil “sustentável” do investimento foi fundamental para que o banco decidisse financiá-lo.
Fonte: Valor
Equipe SNA