Segundo analistas e consultores, os dias de mercado travado para a soja na Bolsa de Chicago, sem movimentações muito expressivas, podem estar contados. As especulações sobre a nova safra de grãos dos EUA estão cada vez mais intensas e o início do plantio, cada vez mais próximo. A volatilidade, portanto, pode se acentuar.
Entre quinta e sexta-feira desta semana – 23 e 24 de fevereiro – acontece o USDA Outlook Forum, um evento anual que traz as primeiras informações ‘oficiais’ sobre a nova safra dos Estados Unidos, divulgando estimativas e dados que ajudam a desenhar um novo cenário não só para os EUA, mas para o mercado global de grãos.
A disputa por área entre a soja e o milho na nova safra norte-americana tende a ser um dos assuntos mais debatidos daqui em diante, com muita atenção ainda aos sinais que vêm sendo trazidos pelo mercado em Chicago. As estimativas das consultorias, nacionais e internacionais, é de que a oleaginosa deverá dispor de um espaço maior do que o cereal neste ano.
Em seu relatório conhecido como baseline, que divulga também projeções de longo prazo, o USDA indicou uma mudança expressiva dos produtores para a soja, que poderiam cultivar um recorde de 85.5 milhões de acres, um aumento de 2.1 milhões de acres em relação a última safra. No caso do milho, o número poderia cair 4 milhões de acres para que fossem cultivados 90 milhões de acres.
Dada a mais favorável relação de preços da soja do que do milho, algumas consultorias acreditam que a área plantada da oleaginosa poderia ser ainda maior. Nesta terça-feira (21) a relação entre ambos estava próxima de 2,59, nível que ainda estimula o plantio da soja em detrimento do milho. Essa cena muda com esse índice cai para 2,0 ou para abaixo disso, segundo analistas.
A Informa Economics estima uma área ainda maior para a soja, de 88.65 milhões de acres, e outras consultorias internacionais estimam ainda em algo perto dos 90 milhões de acre, podendo superar a área de milho.
Custos de Produção nos EUA
Essas decisões passarão, inevitavelmente, pelos custos de produção para ambas as culturas. Segundo o analista da Lansing Trade Group, Marcos Araújo, os custos estão em queda para os dois produtos nesta safra, segundo dados da Universidade de Illinois, porém, a rentabilidade maior da oleaginosa ainda chama a atenção do produtor.
O estudo da universidade mostra que, em se tratando de lavouras com alta tecnologia e, consequentemente, de alto potencial de produtividade, o custo estimado para a soja é de US$ 1.336,81 por hectare. “Isso mostra uma queda de 7,36% em relação ao custo da safra anterior”, disse Araújo. “Hoje, para o produtor americano, o custo da soja que será plantada a partir de abril/maio em Chicago tem que estar, na fazenda, a US$ 8,59 o bushel, ou com US$ 0,30 /bushel de prêmio, Chicago tem que estar a US$ 8,89, para uma produtividade média de 70,6 sacas por hectare”, disse.
Assim, os atuais patamares de preços são remuneradores para o sojicultor dos EUA. Na sessão desta terça-feira, o vencimento novembro/17, referência para a nova safra americana, fechou cotado a US$ 10,14 ½. Ao considerar uma cotação a US$ 10,18, por exemplo, com o rendimento ainda na casa das 70 sacas/ha, a receita líquida nos EUA, para o sojicultor será de US$ 201,56 por hectare, explica o analista, descontando todos os custos inerentes.
Araújo disse ainda que caso os preços percam o patamar dos US$ 10,00 o bushel e a produtividade alcançada não seja tão elevada, o produtor americano pode começar a encontrar alguma dificuldade. E é nessa hora que o mercado climático ganha mais força e espaço no mercado futuro.
Enquanto isso, no caso do milho a queda nos custos de produção, que também é esperada pela Universidade de Illinois, é de 5%, estimado em US$ 1.919,97 por hectare, com uma produtividade média de 207 sacas/ha. “Por mais que haja uma queda no custo de produção em dólar por hectare, o custo unitário tem uma leve alta. No ano passado, tivemos produtividade recorde e o mercado e até a própria Universidade de Illinois já não estima que neste ano essa produtividade tão boa se repita”, disse o analista da Lansing.
A rentabilidade do milho para o produtor americano, entretanto, não tem perspectivas tão positivas como a da soja, principalmente para o produtor que usa terras arrendadas. “Para o dono da terra do milho, sem considerar o custo do arrendamento, o custo do bushel fica em US$ 2,80, porém, considerando o arrendamento, este custo sobe para US$ 3,92 por bushel, na fazenda”, disse Marcos Araújo. No caso da soja, esses números são de, respectivamente, US$ 5,06 por bushel, sem o custo e de US$ 8,59, com o custo da terra.
O analista disse ainda que os preços atuais do cereal praticados em Chicago ainda estão um tanto distantes do ideal para o produtor americano. “Para mover o milho da fazenda até Chicago, há um custo logístico estimado em US$ 0,25 por bushel, ou seja, o vencimento dezembro teria que estar sendo negociado a US$ 4,17 o bushel”, disse o analista. E nesta terça-feira, o contrato fechou cotado a US$ 3,95 ¾ o bushel.
“Nessa realidade, com alta tecnologia e colhendo 207 sacas por hectare, ele já teria um prejuízo de US$ 113,00/ha”, disse. “E é por isso que o mercado já está estimando que a área da soja deva aumentar de 4 a 5 milhões de acres, reflexo a diminuição no plantio do milho e do trigo”.
Segundo Araújo, outros números também indicam que essa maior área de soja pode se confirmar nos Estados Unidos, como as vendas de sementes e o potencial inicial estimado para a safra norte-americana 2017/18 de até 125 milhões de toneladas contra as 117 milhões de toneladas da safra 2016/17.
No entanto, as contas com a demanda ainda fecham e mostram que o consumo está forte, crescente e atuando como o principal combustível para os preços na Bolsa de Chicago.
“Se temos um consumo mundial de soja, hoje, ao redor das 330 milhões de toneladas por ano, com um crescimento de 5% ao ano, todo ano, a produção de soja global tem que aumentar 15 milhões de toneladas. Os EUA estariam com um potencial de aumento de 8 milhões de toneladas, o Brasil teria que completar o total. Então, não vejo Chicago tão pressionado assim, uma vez que uma queda forte desestimularia o sojicultor na América do Sul e o mercado tem que fazer o seu trabalho, com preços altos e motivar aumento de áreas de plantio ao redor do mundo”, disse.
Com informações adicionais do Agrimoney.
Fonte: Notícias Agrícolas