Safra 14/15 exigirá maior gestão de custos e beneficiará grandes, indica Cargill

Os preços mais baixos da soja na próxima safra deverão mudar a maneira como produtores e empresas do setor operam no Brasil, exigindo maior atenção com gerenciamento de custos devido a um maior carregamento de estoques, o que tende beneficiar grandes empresas e produtores, disse nesta terça-feira um executivo da multinacional Cargill.

O cenário, que inclui uma safra recorde a ser colhida nos Estados Unidos em menos de dois meses e uma nova colheita histórica no Brasil, deverá favorecer justamente empresas como a Cargill e outras tradings, mais capitalizadas e com melhor estrutura de armazenagem, indicou o diretor de grãos e processamento de soja no Brasil da gigante norte-americana, Paulo Sousa.

A projeção de ampla oferta pressiona preços no mercado internacional, o que altera o ritmo de se vender soja em relação a um passado recente.

“Antes se demandava rapidez na remoção dos estoques. Os compradores precisavam que a safra brasileira entrasse logo, que estivesse já disponibilizada nos portos. Agora, como tem estoque para todo o lado, o consumidor não tem pressa de comprar”, disse Sousa a jornalistas, após um evento realizado pela empresa.

Ele observou que, ao contrário da safra anterior, quando o mercado remunerava quem conseguisse remover rapidamente os estoques para a China ou a Europa, agora deve ser beneficiado quem é capaz de segurar o produto, seja o produtor ou as tradings.

“Para carregar o produto, armazenar, demanda um esforço de capital muito grande. Alguém está pagando. Há um custo financeiro da mercadoria parada. Você necessita também da capacidade física para armazenar”, destacou ele, que é responsável pela segunda maior operação de soja do país.

A estratégia da Cargill será otimizar o uso de armazéns e a movimentação de cargas, disse Sousa.

“Empresas como a nossa têm cerca de 120 pontos de armazenagem espalhados pelo Brasil. Então a gente sempre busca eficiência e flexibilidade. Eu vou mover o produto no lugar em que eu consigo ter, em algum momento, uma condição de competititvidade maior, custo mais baixo para mover isso para o porto ou uma fábrica”, afirmou o executivo.

Atualmente, os estoques para uso imediato estão baixos nos EUA. Neste cenário, o primeiro contrato negociado na bolsa de Chicago, com vencimento em agosto, está 20 por cento mais valorizado que o vencimento novembro, que serve de referência para a nova safra norte-americana.

Sousa projeta uma inversão desta situação nos próximos poucos meses, quando for confirmada a expectativa de grande colheita nos EUA e quando o plantio na América do Sul estiver mais definido.

“O mercado tende a sair da situação invertida, para ser um mercado ‘carry’, que vai pagar para carregar, armazenar”, comentou.

A última vez que os contratos mais longos estiveram cotados, de maneira consistente, acima do primeiro vencimento foi no final de 2011 e no início de 2012, antes de o mercado global ter sido impactado pela devastadora seca que derrubou a produção e a exportação de soja dos EUA no segundo semestre de 2012.

Um ano atrás em Chicago, o contrato de referência da nova safra estava quase 15 por cento mais valorizado. Dois anos atrás, as cotações eram quase 50 por cento maiores.

“Esse cenário que tivemos, de muita urgência do mercado pelo nosso produto, com preços historicamente altos, disfarçava nossas ineficiências”, disse o executivo, referindo-se ao setor no Brasil.

O plantio da nova safra de soja no Brasil começa na segunda quinzena de setembro do Brasil, com as primeiras lavouras sendo colhidas a partir de janeiro. A consultoria Céleres estimou, na segunda-feira, que a safra do país atingirá um recorde de 91,35 milhões de toneladas.

Em relação aos custos de frete rodoviário, que compõem uma importante fatia dos custos de logística no Brasil, ainda há muita indefinição no mercado.

“Essa resposta vai ser construída nos próximos meses. Sem saber como vai ser o ritmo de plantio, é difícil. Depende também do escoamento da safra de milho agora”, afirmou.

Há, no entanto, uma tendência de preços de frete menos inflacionados que em safras anteriores. “Pode gerar frete mais barato, porque a urgência de movimentação deixa de existir.”

Fonte: Reuters

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