Atualizado às 08:15
Intempéries se somam a cenário internacional adverso
A SNA vem acompanhando, consternada como toda a população brasileira, a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul com as chuvas recordes. À catástrofe humanitária, com a perda de vidas e destruição de cidades inteiras, se somam as preocupações com os efeitos que esse cenário pode causar na produção de alimentos, como mostrou o Portal em recente matéria. O estado é protagonista em diversos cultivos, entre os quais se destacam os grãos, leite e carnes.
Quando se fala de arroz, o RS é responsável por 70% da produção consumida pelos brasileiros. O país só escapou de uma crise de desabastecimento porque a maior parte da safra local já estava colhida quando começaram as inundações. Mesmo assim, quase 20% ainda ficaram nos campos, sobretudo na região central, a mais afetada, onde pouca coisa deve se salvar. Como as cotações já vinham pressionadas pela escassez mundial, é quase certo que isso force o governo a se socorrer de importações para conter a disparada de preços.
Nesse contexto, cabe ressaltar que outros expoentes da rizicultura já vinham enfrentando dificuldades, como a Índia, maior produtora mundial, que proibiu exportações após também enfrentar fortes chuvas, de modo a não prejudicar a própria segurança alimentar. Os países vizinhos do Mercosul, bem como a China, também colheram menos pela mesma razão. Com necessidade de buscar arroz até na Ásia, como já ocorreu no ano passado, a previsão é de que o preço do cereal no mercado brasileiro atinja um novo recorde histórico. Especialistas preveem que o consumidor pode chegar a pagar entre 30 e 50 reais pelo pacote de 5 quilos, ainda em 2024.
Estimativas de importação e providências do MAPA
O Brasil consome11 milhões de toneladas de arroz anualmente, e as projeções indicam que seránecessário importar outros 3 a 4 milhões de toneladas para compensar as perdas. Sem muita oferta dos parceiros do Mercosul, a saída será apelar para os Estados Unidos, Tailândia e Vietnã. A indústria, contudo, afasta qualquer risco de desabastecimento. Enquanto as perdas gaúchas podem ser compensadas pelo resto do país em outras cadeias produtivas, em termos locais o temor de faltar comida é maior, não só pela espera da retomada nos sistemas de produção, mas também pela dificuldade de acesso e logística de distribuição dos donativos que chegam em peso.
Já trabalhando com essa perspectiva, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou que sua equipe estava preparando o texto de uma medida provisória para permitir a importação direta de até 1 milhão de toneladas de arroz pelaCompanhia Nacional de Abastecimento (Conab). A intenção, segundo ele, é evitar a especulação e aumentos exacerbados de preço no mercado. Ele enfatizou que a ideia não é concorrer com os agricultores gaúchos.
A medida, publicada em edição extra do Diário Oficial na noite da quinta – feira, 9 de maio, vale para 2024 e permite a compra por meio de leilões públicos e a preço de mercado. Os estoques serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões. Os ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e da Agricultura e da Pesca, mediante proposta da Conab, vai definir a quantidade de arroz a ser adquirida e os limites e condições da venda e distribuição do produto.Fávaro também confirmou que encaminhou uma proposta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) para que seja suspensa a cobrança de todas as dívidas rurais de produtores do Rio Grande do Sul por 90 dias.Ainda não há data para que a proposta seja votada. O CMN deverá realizar uma reunião extraordinária para análise do pleito.
E o futuro do arroz?
Em entrevista professor Evaristo de Miranda no canal Agro Mais no Youtube, o Chefe – Geral da Embrapa Arroz e Feijão, Elcio Guimarães, traçou um panorama dessa produção no país. Entre outros aspectos, ele destacou a introdução de novos cultivares de arroz nas lavouras, mais propícias às técnicas de irrigação por pivôs.
Isso facilita também a drenagem, fundamental para a sustentabilidade, pois otimiza o uso mais racional da água. Segundo ele, a Embrapa cada vez mais encara o arroz como elemento de uma cadeia produtiva mais ampla, que inclui também o feijão e a soja, sendo que podem ser revezados numa mesma área como forma de regenerar o solo e propiciar ao agricultor maior rentabilidade.
Elcio Guimarães finalizou dizendo que isso lança luz sobre o cultivo do arroz para o futuro no país, além de atestar cada vez mais a pesquisa científica e o uso da tecnologia como fator de pujança produtiva, mitigação de efeitos adversos e alicerce de uma agricultura sustentável, sem perda na qualidade dos produtos que chegam à mesa de milhões de consumidores.