Rodovia da soja em Mato Grosso começou a cobrar pedágio no domingo

A BR-163, rodovia por onde passam 30% dos grãos produzidos no Brasil, começou a cobrar pedágio no domingo, com potencial para impactar os valores pagos pela soja e pelo milho em Mato Grosso na nova safra.

A concessionária Rota do Oeste recebeu na semana retrasada a autorização para começar a operar as praças de pedágio. Neste primeiro momento, oito delas realizarão cobranças, desde Sorriso, no médio-norte de Mato Grosso até Itiquira, na divisa com Mato Grosso do Sul.

A rota é a mais usada por caminhões que escoam a produção de grãos do Estado –o maior produtor agrícola do país– para os portos do Sul e Sudeste ou para indústrias e terminais ferroviários na cidade de Rondonópolis (MT).

Um caminhão bitrem, com sete eixos, que viajar do extremo norte de Mato Grosso até a divisa com Mato Grosso do Sul, vai pagar um total de R$ 240,80.

Se o custo adicional deverá ser completamente sentido no escoamento da próxima safra, uma parte do milho recém-colhido no Estado, que deverá seguir para a exportação, também será transportado na rodovia agora “pedagiada”.

“A gente não é contra o pedágio… Mas a gente está achando a tarifa muito alta”, disse à Reuters o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, um dos principais polos agrícolas do Estado, Laércio Lenz. “Alguém vai ter que pagar, e vai sair do produtor.”

O gerente de uma unidade de recebimento de grãos de uma grande trading multinacional, na beira da BR-163, disse que as empresas já estão computando o custo maior de frete na hora de fechar negócios com os agricultores para entregas da próxima safra.

“Normalmente a gente (trading) paga o pedágio de ida. Isso vai sair do preço do produto”, afirmou ele sob a condição de anonimato.

A nova safra de soja do Centro-Oeste começa a ser plantada a partir da segunda quinzena de setembro. O pedágio da BR-163 em Mato Grosso, portanto, será sentido em todos os fretes da nova colheita, que ocorrerá a partir de fevereiro.

Empresas de transporte da região de influência da rodovia já se preparam para a nova realidade de custos.

“Para a próxima semana, vamos ter que oferecer mais para os caminhoneiros”, disse Fábio Augusto de Salles, gerente de um escritório que agencia cargas, contratando motoristas independentes às margens da estrada, em Sorriso.

Pelos valores de frete atuais, o transporte de uma carga de grãos entre Sorriso e Rondonópolis subirá pouco mais de 5 por cento com a cobrança do pedágio, conforme Salles.

Impactos

Apesar de uma alta imediata de custos, é difícil encontrar quem seja contra a cobrança de pedágio na BR-163, uma vez que os recursos pagam obras de melhoria e serviços aos motoristas.

Por décadas, a espinha dorsal da logística de Mato Grosso esteve sob a gestão do governo federal, sem duplicação e com conservação ruim.

“Ninguém gosta de pagar, mas o fato é que a estrada está uma beleza. O governo nunca conseguiu manter ela arrumada”, disse o vice-presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, Julio Cinpak.

Na avaliação da Associações dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATC), o pedágio é “um mal necessário”.

“A nossa postura está sendo de não questionar o pedágio. É um contrato que está sendo cumprido”, disse o diretor-executivo da entidade, Miguel Mendes.

Para ele, é necessária apenas a garantia de que as empresas contratantes dos fretes façam o adiantamento dos valores dos pedágios, conforme exige a legislação.

Na avaliação de Mendes, os custos de pedágio eventualmente podem ser compensados por ganhos operacionais, como redução dos tempos de viagem e menores despesas com manutenção dos veículos.

Contudo, a ATC ainda não concluiu o cálculo deste balanço.

A própria Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) ainda avalia os impactos da cobrança de pedágio. Um estudo técnico foi solicitado ao Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), mas ainda não foi finalizado.

A concessionária Rota do Oeste, empresa da Odebrecht Rodovias, venceu a licitação para explorar 850 km da BR-163 em Mato Grosso no fim de 2013, assumindo a operação em março de 2014.

Desde então, já investiu R$ 1 bilhão, recuperou 475 km existentes e duplicou mais 70 km, além de melhorar a sinalização e instalar serviços de socorro médico e mecânico.

“Temos um dos pedágios mais módicos da terceira etapa (do programa concessões em logística do governo federal)”, disse o diretor-geral da Rota do Oeste, Paulo Meira Lins.

Segundo ele, em cinco anos, a empresa deverá investir um total de R$ 3.1 bilhões e duplicar 455 km.Na avaliação do executivo, os custos dos transportadores numa rodovia “pedagiada” e bem conservada podem cair de 20% a 40%, devido à economia de combustível e a quedas no tempo de deslocamento, na manutenção dos veículos e no risco de acidentes.

 

Fonte: Reuters

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