O roubo de cargas se tornou uma prática rotineira no Estado do Rio de Janeiro. Segundo o Sindicargas (Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro), em maio foram contabilizados 1.031 roubos de cargas, enquanto em abril, o crime ocorreu 849 vezes. No total, 2017 já registrou 4.130 cargas roubadas, uma média de 27 assaltos a caminhões por dia.
Para tentar aliviar a situação, 425 agentes da Força Nacional de Segurança estão patrulhando as vias da cidade há quase um mês (desde o dia 15 de maio), mas, mesmo assim, a sensação de insegurança ainda é grande. Vinte locais no entorno do Complexo do Chapadão foram escolhidos para as patrulhas cercarem os acessos ao principal destino dos caminhões roubados na cidade.
Uma das vítimas desse crime é o Laticínio Grupiara e segundo o diretor da empresa, Daniel Lanna, um conjunto de fatores favorece essa prática, sendo que o principal deles é a grave crise financeira e política que o Rio de Janeiro vive atualmente.
“Os bandidos sempre existiram, mas hoje, com o atraso de pagamentos aos policiais e a falta de estrutura para o combate, ficou especialmente fácil esse tipo de roubo. Para evitar o problema, algumas tecnologias utilizadas estão sendo amplamente divulgadas, como: rastreadores via satélite, computador de bordo nos caminhões e monitoramento e travamento do caminhão por empresas especializadas. A questão é que o caminhão é levado e fica travado no morro no qual os policiais não sobem. Todos sabem onde está o problema e qual a solução, só não existe força política e financeira para fazer algo”, explica Daniel, em matéria exclusiva ao MilkPoint.
Algumas ações estão sendo colocadas em prática pelo Grupiara e outras empresas, como o envio de cargas somente no período da manhã para o Rio de Janeiro, escolta armada para acompanhar cargas mais valiosas e tentativa de enviar mais caminhões com cargas menores (mesmo encarecendo o valor do frete). Mesmo assim, o Grupiara sofreu três saques na presença da sua escolta armada, inclusive com troca de tiros.
Outras ações são reuniões com a secretaria de segurança e da fazenda para a exposição dos dados da real situação. “Infelizmente, algumas tentativas não surtem efeito, dado que as autoridades já sabem o que ocorre, mas se dizem de mãos atadas”, complementa.
Dezoito cargas do Grupiara foram saqueadas somente neste ano, sendo que duas totalizaram mais de R$ 200 mil cada. Todos os roubos geraram um prejuízo ao Grupiara de R$ 739.533,00.
“O crime sempre ocorre da mesma forma: dois carros compostos por dois a quatro bandidos fortemente armados – normalmente com fuzil – entram na frente do caminhão e o obrigam a parar. Um dos bandidos obriga o motorista a abrir a porta, entrando no veículo. Nesse momento, o caminhão é levado para uma favela que tenha infraestrutura para receber a carga. As principais favelas são a do Chapadão, Pedreira e Villa Kennedy, bem como os morros próximos da Tijuca e Lins. A nossa escolta usa pistola e, mesmo trocando tiros, não consegue parar a ação dos bandidos, pois como disse anteriormente, eles estão munidos com fuzis”.
A situação é tão crítica que todas as seguradoras cancelaram os contratos com diversos laticínios e são raras as que fazem negócios no Rio de Janeiro hoje.
De acordo com Lanna, a região de maior risco para caminhões grandes é a Dutra e a Avenida Brasil, especialmente a junção entre as duas avenidas: “No arco metropolitano também ocorrem diversos roubos, porém, não passamos por lá. Um lugar que fomos roubados uma vez também foi na Serra das Araras, mas acredito que a incidência é menor”.
Ele continua: “Para caminhões menores de entrega, os locais piores são a baixada fluminense e a zona oeste do Rio de Janeiro. A epidemia é tão grande, que realmente posso dizer que em quase todo o território se corre riscos. Todos os laticínios que entregam no Rio provavelmente já sofreram roubos. A lista é muito extensa e no nosso sindicato, fazemos essa contagem. Os números já são medidos em milhões de reais e acredito que já tenha ultrapassado os R$ 10 milhões”.
Daniel destaca que a prática se intensificou muito após as Olimpíadas e é notável como está se agravando. “No passado não tinha nada parecido com isso, pois fazemos esse mesmo trajeto há mais de 20 anos. Nunca havíamos sofrido saques. O Sindlat (Sindicato das Indústrias de Laticínios) está sendo essencial na comunicação com o estado sobre o que está ocorrendo e vem incentivado as indústrias a trocarem ideias sobre o que está funcionando ou não a fim de evitar novos prejuízos. Ainda não estamos enxergando os resultados que precisamos. Diversas reuniões foram feitas com as autoridades e estamos aumentando ainda mais a intensidade delas para, ao menos, sermos notados pela mídia”, conclui.
Fonte: MilkPoint