O mercado brasileiro de milho segue travado e com as cotações pressionadas com a evolução da colheita nas regiões produtoras. Estima-se que cerca de 80% da safra de verão já havia sido colhida no início da segunda quinzena de abril. Por essa razão, a oferta vem aumentando e naturalmente os preços vão reagindo de forma negativa. Segundo estimativa da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), nesta segunda safra a produção será de 61,60 milhões de toneladas, cultivadas em 11,52 milhões de hectares. É a oitava ampliação de área consecutiva. Somadas as 29,9 milhões de toneladas da primeira safra, a previsão total de colheita alcança as 91,5 milhões de toneladas (37,5% de aumento em relação a 2016).
A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de uma safra de 92,3 milhões de toneladas (aumento de 4,4% em relação ao levantado em fevereiro), sendo 30,2 milhões de toneladas para a primeira safra e 62,1 milhões de toneladas para a segunda.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estima safra de 93,5 milhões de toneladas para o Brasil, contra 91,5 milhões de toneladas da previsão do mês de março.
Os mercados consumidores, em geral, seguem com bons estoques, explica o vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco, e os volumes negociados atualmente são para atender alguma necessidade mais urgente. Segundo ele, a colheita da primeira safra estava adiantada, sendo que até o dia 6 de abril cerca de 70% da área do Centro-Sul já havia sido colhida. O mesmo, diz ele, ocorria com o plantio da segunda safra, já que a colheita da soja estava no início do mês passado na sua fase final nos principais Estados produtores. “As estimativas recordes de produção refletem as boas condições das lavouras para ambas as safras”, diz Sirimarco.
Com boa produtividade quase certa, o que pesa no momento é a cotação do grão, muito abaixo dos R$ 45, patamar em que chegou ano passado, ocasionado por problemas nas lavouras devido à falta de chuvas e consequente perda de grande parte da produção. Hoje, quem tem o grão disponível encontra o Indicador do milho Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq)/BM&FBovespa na casa dos R$ 28.
Apesar da cotação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), na prática, o produtor não tem encontrado mais esses preços. É o que explicam os empresários rurais dos municípios goianos de Goiatuba e Buriti Alegre, Carlos Gomes de Oliveira e Volneimar Lacerda de Oliveira. “Em 15 dias, o preço caiu dos R$ 28 para R$ 23, para entrega imediata. Na quinta-feira (20 de abril), vendemos a R$ 24,50”, diz Carlos Gomes. O produto prefixado para entrega em julho e agosto tem preço ainda menor, R$ 18.
Os produtores, que também são proprietários da Spaço Agrícola, em Goiatuba, cultivaram 2,5 mil hectares de soja na safra de verão e 1.845 hectares, 74% de safrinha, sendo 1.083 hectares de milho, 632 hectares de girassol e 183 hectares de sorgo, além de milheto e braquiária. Eles já comercializaram cerca de 20% da safrinha de milho a R$ 23 a saca de 60 quilos. Mas o girassol tem se mostrado mais atrativo, já que prefixaram a saca por R$ 75.
“A variedade de culturas tem como finalidade encontrar uma cultura mais adaptável ao solo da região, já que este ano as sementes tiveram um aumento grande no preço, encarecendo o custo de produção”. Segundo Carlos Gomes, a semente de milheto sem tratamento custava 60 centavos o quilo no ano passado e passou para R$ 3 este ano. Outra semente,com tratamento,que custava R$ 3,5 custa hoje R$ 7.
Levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) confirma esses níveis de preços. A cotação da saca de 60 quilos recuou de R$ 30, em janeiro, para uma média estadual de R$ 23, variando de R$ 21, nas áreas tradicionais de cultivo, como o sudoeste goiano, a R$ 25, na região do Entorno do Distrito Federal e norte do Estado, por exemplo.
Prevendo esses preços e após prejuízos na segunda safra passada, outros empresários rurais preferiram plantar outras culturas mais tolerantes a seca ou não plantar nada.
É o caso do empresário rural de Bom Jesus de Goiás, Vilmar Rodrigues da Rocha. Ele perdeu mais de 2 mil hectares de milho cultivados no início do ano passado, área que corresponde a cerca de 70% de suas propriedades. “Observei que o mercado não dissolvia bem os estoques desse ano, os custos de produção estavam muito elevados e preferi não arriscar novamente”, conta o produtor.
Mas ao contrário de 2016, que a falta de chuvas foi a grande dor de cabeça, este ano, o volume pluviométrico tem caminhado dentro da expectativa em boa parte das áreas de safrinha. O desenvolvimento das lavouras em todas as regiões produtoras do País, como Goiás, é positivo, apesar de as chuvas estarem perdendo força. Não há um cenário crítico para os 1,26 milhão de hectares plantados no Estado, a despeito do ocorrido no ano passado, informa o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja/GO), Bartolomeu Braz Pereira.
O assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Alan Malinski, diz que as chuvas têm sido regulares, favorecendo desenvolvimento das lavouras de milho safrinha do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, apesar de os Estados de Mato Grosso e Goiás terem observado período de estiagem em abril. “Grande parte (da safrinha) foi plantada no calendário ideal”. Em janeiro, mais de 70% da segunda safra já estavam cultivados.
Previsões para os próximos dias são boas. “A previsão é de safra muito boa para milho safrinha. São cerca de 61,5 milhões de toneladas, mas há muitos falando que pode passar dos 65 milhões de toneladas. Também temos boas previsões para o algodão”, completa Malinski. Para o algodão a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê crescimento de 14,3% levando a produção ao patamar de quase 3,7 milhões de toneladas. Com relação às doenças e pragas, Malinski informa que os ataques ocorrem dentro da normalidade, com alguns problemas pontuais com cigarrinha, mas nada grave.
Demanda
Com relação à demanda, após o impacto inicial da Operação Carne Fraca no mercado de carnes, a situação está se normalizando. O consumo interno continua retraído, explica o vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco, mas as exportações não recuaram, como era esperado. Ele ressalta que, apesar do cenário pouco animador dos preços, os avicultores tiveram uma melhora no poder de compra. Segundo levantamento do Cepea, as fortes quedas do milho e farelo de soja fizeram com que o setor encerrasse o mês de março com a melhor relação de troca desde novembro de 2015.
Ainda segundo Sirimarco, no dia 31 de março, o produtor de aves paulista pôde adquirir 5,2 quilos do milho ou 2,73 quilos do derivado da soja, em média, com a venda de um quilo do animal. “Os maiores volumes desde 30 de novembro de 2015 e respectivos aumentos de 13,9% e 1,6% no acumulado do mês”.
“As fortes quedas nos preços internos do milho têm elevado a competitividade do cereal brasileiro no mercado externo”. Com as cotações na BM&FBovespa próximas da Bolsa de Chicago (CBOT), o interesse de importadores em adquirir o grão nacional vem aumentando. O número de negócios efetivados, porém, ainda é limitado pela resistência dos vendedores.Para o Cepea, maiores exportações nesse momento amenizariam o elevado excedente interno, podendo, ainda, contribuir para sustentar as cotações domésticas no segundo semestre, com a chegada efetiva da segunda safra brasileira.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Allysson Paolinelli, lembra que o governo autorizou medidas que visam apoiar a comercialização de milho nesta safra e sinalizar os níveis de preço futuro para os produtores de Mato Grosso. Parte da medida foi o lançamento de contrato de opção de venda para um milhão de toneladas de milho produzido em Mato Grosso, envolvendo R$ 300 milhões, fixando o preço de exercício em R$ 17,87/ saca de 60 quilos, com prazo em 15 de setembro deste ano.
Além desse montante, outros R$ 500 milhões foram anunciados para o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural e/ou sua Cooperativa (Pepro) e o Prêmio para Escoamento do Produto (PEP) do milho em grãos das safras 2016/2017 e 2017. “Vamos torcer para que realmente as medidas surtam efeito e segurem os preços, evitando o tão prejudicial efeito sanfona”, diz Paolinelli.
Montante comercializado de soja é “baixo”
O mercado brasileiro de soja também segue travado com a retração dos produtores e com as cotações pressionadas com a evolução da colheita nas regiões produtoras. Já foram comercializados de 55% a 60% da safra, o que é baixo para essa época do ano, de acordo com o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco.
Um total de aproximadamente 80% da safra já havia sido colhida em meados da primeira quinzena de abril. Por essa razão, a oferta vem aumentando e naturalmente os preços vão reagindo de forma negativa. Os consumidores, em geral, seguem com bons estoques. Portanto, os volumes negociados são para atender alguma necessidade mais urgente. As estimativas apontam para números recordes na safra deste ano.
A estimativa da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) é de uma safra de 110,2 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 15,4% (cerca de 14,7 milhões de toneladas) em relação à safra anterior. Previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de uma safra de 110,9 milhões de toneladas, 2,3% superior a estimativa divulgada em fevereiro (crescimento de 2,5 milhões de toneladas).
A projeção do USDA é de uma safra de 111 milhões de toneladas, contra 108 milhões de toneladas da estimativa do mês de março. Além desses números, “foram divulgadas estimativas de consultorias privadas de até 113 milhões de toneladas”, observa Sirimarco.