Revista Safra: Produção estável

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As últimas projeções para a safra brasileira de grãos vão de 210,3 milhões de toneladas, o que representa queda de 0,5% sobre a safra passada, a 211 milhões de toneladas, nesse caso, alta de 1,5% sobre a safra anterior, segundo expectativas divulgadas no final da primeira quinzena de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Ambos os números são considerados positivos diante dos bons resultados colhidos na safra 2014/2015 e das variações climáticas que atingem o País desde 2014.

A China deverá ser a grande questão para esta safra. O país não deve repetir os mesmos níveis de importação de 2015 em 2016 e não deve comprar milho e algodão este ano. Em relação à soja, dificilmente o gigante asiático repetirá o mesmo volume de importações, que somou algo em torno de 80 milhões de toneladas do mercado internacional no ano passado, segundo o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco. “A China é a grande interrogação e vai mexer com preços das commodities este ano”, diz.

No município de Mineiros, a cerca de 430 quilômetros de Goiânia (GO), o produtor de soja, milho e algodão Rogério Vian espera por uma reviravolta no mercado, ocasionada pelo clima brasileiro. Em sua região, no sudoeste goiano, ele comemora o bom volume de chuvas que serviu bem os 620 hectares plantados com a oleaginosa.

“Veio no tempo e em quantidade certos. Agora, esperamos ver o resultado de outros Estados, como os do Sul, que devem ter problemas e, quem sabe nos favorecer em relação a preços”, diz Vian. A estimativa da área de produção brasileira vai de 57,7 milhões de hectares, apresentando acréscimo de 1,8% frente à área de 2014 (56,7 milhões de hectares), segundo o IBGE, a 58,6 milhões de hectares, crescimento previsto de 1,1% se comparada com a safra 2014/2015, segundo a Conab.

Entre as culturas de verão, a estimativa da Conab mostra que a soja vai ocupar 33,2 mil hectares ou mais de 55% da área cultivada do País, e permanece como principal responsável pelo aumento de área. A estimativa é de crescimento na área cultivada com a oleaginosa de 3,4% (1,1 milhão de hectares). Com produtividade de 3.087 quilos por hectare, uma melhora de 2,9% sobre a safra passada, a produção deste grão deve somar 102,5 milhões de toneladas, uma alta de 6,5% sobre a safra 2014/2015.

Outras culturas

Para o milho a safra total deve ocupar 15,3 milhões hectares, sendo 5,7 milhões hectares na primeira e 9,5 milhões hectares na segunda safra. A de verão está 6,7% menor por ceder espaço à soja, repetindo o movimento do ciclo anterior, ainda considerando a estimativa da Conab. A produtividade média ficará em 5,4 mil quilos por hectare, 0,5% inferior ao resultado da safra anterior, sendo 4,8 mil quilos por hectare na primeira e 5,7 mil quilos na segunda safra. Diante disso, a produção total de milho alcançará 82 milhões de toneladas, com 27,3 milhões de toneladas na primeira, em queda de 8,6%, e 54,56 milhões de toneladas na segunda, 0,1% menor que a safra 2014/2015.

Na comparação da safra 2014/2015 com a atual, a área destinada ao feijão primeira safra apresenta redução de 2,1% (21,9 mil hectares) – em suas três safras, a cultura alcançará 3 milhões de hectares, somando produção total de 3,3 milhões de toneladas. O algodão apresenta redução de 1,6% de área (15,6 mil hectares), totalizando 960 mil hectares cultivados, reflexo da opção pelo plantio de soja na Bahia, segundo maior produtor da pluma no País, e atingirá 3,8 milhões de toneladas, sendo 2,26 milhões de toneladas em caroço e 1,5 milhão de tonelada em pluma.

O País produzirá ainda 353,8 mil toneladas de amendoim, 11,9 milhões de toneladas de arroz, 180 mil toneladas de girassol, 93 mil toneladas de mamona e 1,96 milhão de toneladas de sorgo, considerando as culturas de verão da Conab. Para as de inverno ainda serão produzidas 351 mil toneladas de aveia, 55 mil toneladas de canola, 3 mil toneladas de centeio, 265 mil toneladas de cevada, 5,6 milhões de toneladas de trigo e 57 mil toneladas de triticale.

Mato Grosso continuará sendo o maior produtor nacional de grãos. No Estado devem ser colhidas 52 milhões de toneladas de grãos, 1% a mais que na safra 2014/2015. O Paraná alcançará 38 milhões de toneladas (alta de1,3%), seguido pelo Rio Grande do Sul, com 30 milhões de toneladas (queda de 4,4%) e Goiás, que alcançará 21 milhões de toneladas (alta de 11%). No caso de Goiás, a alta de dois dígitos da produção se dá por ampliação de 1,4% na área plantada, 5,173 milhões de hectares no total, mas principalmente por conta de ganho de produtividade,
que passará de 3.718 quilos por hectare na safra 2014/2015 para 4.068 quilos por hectare na safra 2015/2016.

Crédito rural

Os financiamentos de custeio do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor (Pronamp) atingiram seu pico em agosto, ultrapassando o volume contratado nos dois anos anteriores. Já os financiamentos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) iniciaram em julho, seguindo volume praticamente estável até agosto.

Mercado mundial

De acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), o relatório de oferta e demanda de milho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), publicado no início de novembro, trouxe uma novidade importante: redução na expectativa de consumo para a safra 2015/2016 e, por consequência, aumento do estoque mundial final para 211,9 milhões de toneladas, considerado recorde. “Neste relatório observa-se que o consumo permanece um pouco acima da produção, mas nada que provoque diminuição da relação estoque/consumo mundial, gerando uma oferta bastante confortável do produto no cenário internacional”, diz texto da Conab.

De acordo com o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco, a China está com estoque de milho acima de sua capacidade e deve começar a “desovar” os grãos nos próximos meses e tem previsão de produzir 225 milhões de toneladas.

“Então, não vão importar algodão e milho neste ano. Para a soja, a grande questão é se vão repetir, mas em minha opinião eles não repetem.”

Os Estados Unidos estimam produzir 346,8 milhões de toneladas de milho bem abaixo do que foi produzido na safra anterior. O Brasil, ainda segundo a Conab, continua como terceiro maior produtor mundial do grão, com 82 milhões de toneladas previstas para 2015/2016 e a Argentina, apesar do USDA estimar 25,6 milhões, os analistas argentinos projetam uma produção menor que, talvez, não ultrapasse os 22 milhões de toneladas.

O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na área de grãos e professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) Lucilio Alves informa que a entressafra acaba tendo retração das cotações de milho, mas a BM&F Bovespa aponta recuperação nos próximos meses.

“Segundo as projeções, a cotação sairia, em janeiro, [dados de 14 de dezembro] a R$ 36,91, passaria a R$ 37,73 em março de 2016 e voltaria para R$ 36,80 em maio e R$ 35,20 em setembro 2016, que vai coincidir com o período de colheita e planejamento da próxima safra, mas tudo vai depender da taxa de câmbio”, explica.

Para o algodão, o mercado mundial, segundo as projeções do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (Icac), ao longo da safra 2015/2016 sofrerá uma importante mudança no quadro de oferta e demanda. Os preços domésticos do algodão reagiram de maneira negativa à queda do dólar e retração da atividade compradora da indústria. Em novembro, as cotações caíram em quase todos os Estados avaliados em comparação com outubro, na Bahia a média elevou-se 1,12% para o valor de R$77,01/arroba; em Goiás ocorreu um decréscimo de 1,52%, com média de R$75,88/ arroba e em Mato Grosso fechou o mês com queda de 2,48% com preço médio de R$70,08/ arroba.

Com relação a soja, a Conab informou que o USDA divulgou no início de novembro, relatório que estima que a safra norte-americana de soja em grãos deverá ser de 108 milhões de tonelada, e em que pese à redução do mês de outubro, passa a ser, em volume, o maior valor nos Estados Unidos. Assim, os estoques de passagem que já estavam altos, passam a ser, também, os maiores da história daquele país.

Para corroborar com estes altos estoques, as vendas para exportações estão abaixo da média prevista e, apesar dos esmagamentos em alta, estão afetando os preços na Bolsa de Valores de Chicago (CBOT) que, em novembro, chegaram à menor cotação dessa commodity desde 2009 (315,11 dólares a tonelada). Para os próximos meses, ainda segundo dados do levantamento da Conab, caso não haja nenhuma novidade no mercado, os preços devem girar perto desse valor.

“Para o mercado de soja os negócios de contratos a termo FOB [embarcado], Porto de Paranaguá, apontaria cotações médias para o primeiro semestre na casa de 20 dólares por saca, e fica a expectativa da taxa de câmbio para 2016. A grande questão vai ser o câmbio”, completa Lucilio Alves.

Sob efeitos do El Niño

O comportamento climático para este primeiro trimestre de 2016 continuará sob efeitos do El Niño, um dos mais fortes de todos os tempos, segundo relatório da Climatempo Meteorologia. De acordo com o meteorologista da entidade Alexandre José do Nascimento Silva, para janeiro, a maior parte da chuva do País ficará novamente concentrada sobre o Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Em fevereiro a chuva se espalha pelo País, mas diminui no Sul e no centro-oeste e sul de São Paulo. Chuva de normal a acima da média é prevista nas outras áreas do Sudeste, em Goiás, no Distrito Federal e na Bahia. O norte nordestino e a maior parte do Norte continuam bem mais secos que o normal. Já para março, o especialista do Climatempo informa que haverá muitos temporais em Santa Catarina, no Paraná, na maior parte do Sudeste e na Bahia. O tempo segue firme e mais seco que a média no restante do Nordeste, no Centro-Oeste e no Norte. A temperatura pode disparar em algumas semanas em todo o País.

 

Fonte: Safra, nº179, janeiro/2016

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