André Passos*/
Com a colheita de soja já iniciada em boa parte das principais regiões produtoras de grãos, começam as expectativas com o resultado do ciclo 2016/2017 em todo o país. A previsão é de safra cheia, acima das 100 milhões de toneladas da oleaginosa, mas condições climáticas não tão favoráveis em áreas pontuais ainda não permitem uma previsão mais exata, já que a colheita alcançou apenas algo em torno de 15% em janeiro nos locais de cultivo com variedades precoces. Outro ponto de interrogação diz respeito aos preços. A retração nas cotações do dólar favorece os preparativos para a próxima safra, mas mantém em baixa a rentabilidade.
A expectativa de bom clima no Centro-Oeste e chuvas mais moderadas no Sul do país não aconteceu. As variedades de soja precoces não foram prejudicadas com a estiagem, que durou de oito a 20 dias,em regiões dos Estados de Goiás, Mato Grosso e em áreas da região do Matopiba,que compreende os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Por outro lado, as lavouras tardias, em fase de floração e enchimento de vagem, podem enfrentar problemas com queda de produtividade, como relata o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa. No Sul, a exemplo do Rio Grande do Sul, o excesso de chuvas causou inundações em locais de cultivo de soja, também prejudicando a atividade.
Ainda assim, analistas mantêm o otimismo em relação aos resultados. O vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Helio Sirimarco, observa que a safra de soja no Brasil deverá alcançar um volume recorde de 103,5 milhões de toneladas. Ele baseia-se em pesquisa da Reuters divulgada no início de janeiro, que leva em consideração a média levantada por 18 estimativas de consultorias e entidades ligadas ao setor, média esta que se compara com os 103,1 milhões de toneladas da mesma pesquisa realizada no início de dezembro. “As condições climáticas estão favoráveis, com problemas em áreas específicas, que não devem alterar o número final”, avalia Sirimarco.
Para o diretor da Aprosoja Brasil, embora a situação verificada em alguns locais de Mato Grosso e Goiás, especialmente em áreas mais arenosas,seja preocupante, o problema tem intensidade menor que na safra passada (2015/2016). “É uma situação até um pouco dúbia, porque temos algumas regiões com boa produtividade e que atingiram entre 10% a 15% da colheita neste mês (janeiro), conseguindo acima de 57 sacas por hectare. No ano passado, essa média, que começou maior, fechou em 55 sacas por hectare nessas regiões”, explica Rosa. Na região de Sorriso (MT) a colheita beirou os 50% já nas três primeiras semanas do mês de janeiro.
Em Goiás, o empresário rural Adelino Seibert Kist tem 3.071 hectares de soja nos municípios de Palmeiras de Goiás, Nazário e Cezarina. Até a segunda semana do mês passado apenas 150 de 300 hectares de soja precoce prontos para colheita haviam sido colhidos por conta do mau tempo.
Ele conta que, como as chuvas foram localizadas e irregulares no início desta safra, especialmente após o dia 15 de dezembro, essa variedade antecipou em cinco dias o ciclo, reduzindo também a produtividade em cerca de 10% nas áreas colhidas. “Tínhamos tecnologia para colher de 65 a 67 sacas [por hectare] e colhemos, até agora, 58 (sacas por hectare)”, diz Kist.
As chuvas, segundo o produtor goiano, durante todo o mês de dezembro e nas primeiras três semanas de janeiro ocorreram com espaçamento médio de cinco a sete dias e foram seguidas de temperaturas elevadas. Na sequência, desde a quarta semana do mês passado, o volume de chuvas voltou à normalidade e tem impedido o progresso da colheita dessas variedades precoces. Para as variedades tardias, as temperaturas elevadas e a falta de chuvas em período de enchimento de grãos ocasionou o abortamento de vagens.
O estado, segundo o assessor de Economia Agrícola da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) Alvacir Barbosa Ribeiro apresentou um progresso lento de colheita da soja precoce em função do clima chuvoso nas duas primeiras semanas de janeiro, alcançando apenas entre 5% a 9% no período. Nesse mesmo espaço de tempo, ainda segundo Ribeiro, informações davam conta de falta de chuvas e clima seco, com altas temperaturas por um período maior que o habitual, em algumas lavouras de municípios como Montividiu, Goiatuba, Bom Jesus de Goiás, Porteirão, Itumbiara, Luziânia e Cristalina.
“Não se trata de uma situação generalizada, mas pontual”, afirma. Mesmo assim, o especialista da Emater avalia que, do ponto de vista estatístico, quando se considera o total das lavouras de todos os municípios do estado, não se pode dizer que haverá uma queda na produção total esperada. “Há, de certa forma, uma possibilidade de que, algumas lavouras, principalmente de soja, castigadas pontualmente pela falta de chuvas e elevadas temperaturas, possam se recuperar, em parte”. Diante disso, Ribeiro observa que, apesar dos problemas climáticos, Goiás deve manter a previsão de safra de 16,904 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas.
A estimativa da produção brasileira de grãos para a safra 2016/2017 é de 215,3 milhões de toneladas. O crescimento deverá ser de 15,3% em relação à safra anterior, ou 28,6 milhões de toneladas. Para a soja, a projeção de crescimento de 8,7% na produção, atingindo 103,8 milhões de toneladas. Para o milho, a estimativa é de 84,5 milhões de toneladas, distribuídas entre primeira (28,4 milhões de toneladas) e segunda safra (56,1 milhões de toneladas). A primeira safra deve ter o primeiro incremento em relação à safra anterior nos últimos cinco anos. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Já o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estimou a produção brasileira de soja na casa das 102 milhões de toneladas e de 118,69 milhões de toneladas norte-americana. A produção mundial deverá alcançar 336,09 milhões de toneladas do grão, 7,31% a mais que na safra passada.
Para o milho, o USDA estima que a produção mundial deva ultrapassar 1,0 bilhão de toneladas e, mesmo com um consumo também acima de 1,0 bilhão, os estoques finais devem ficar em 222,24 milhões – o maior volume da história – gerando uma relação estoque/consumo, bastante confortável, de 21,9%. Os Estados Unidos continuam sendo o maior produtor mundial do grão, com uma estimativa de produção de aproximadamente 386,74 milhões de toneladas, na segunda posição vem a China com estimadas 216 milhões de toneladas e o Brasil ocupa a terceira posição com 83,88 milhões de toneladas.
Apreensão quanto aos preços
Além da possibilidade de redução da produtividade, o produtor também se depara com preços mais baixos. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia (Cepea/Esalq), a cotação nacional da soja segue sendo a mais baixa desde maio de 2015, por conta das expectativas de safra recorde no Brasil e da demanda interna enfraquecida. Produtores que negociaram antecipadamente, especialmente até julho de 2016, e também em novembro e começo de dezembro, podem ter tido as melhores oportunidades.
*Colaboração para a Revista Safra
A íntegra desta reportagem está disponível na edição de fevereiro da Revista Safra, a partir da página 14.
Fonte: Revista Safra, nº 192 / fevereiro de 2017