O ano de 2017 foi marcado pela baixa disponibilidade de mandioca, cenário que reduziu expressivamente o volume processado pelas unidades produtivas. Isso porque as condições climáticas bastante desfavoráveis nesse ano tiveram consequências negativas às indústrias, especialmente à de fécula, que trabalhou com forte ociosidade. Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apontam que a quantidade de raiz processada pelas fecularias no 1º semestre caiu 42% frente ao mesmo período do ano anterior.
Com a baixa oferta, houve disputa pelo produto disponível e as cotações se elevaram. Segundo dados do Cepea, de janeiro a abril, considerando o período de entressafra, havia pouca mandioca de segundo ciclo disponível, e produtores estavam retraídos. Assim, a média Cepea passou de R$ 473,25/tonelada (R$ 0,8230/grama) em dezembro para R$ 514,52/tonelada (R$ 0,8948/grama) em abril/17, alta de 8,7%.
A partir de abril, período de início de safra, as cotações caíram; em maio, a raiz se desvalorizou em 8,7%, com a tonelada chegando a R$ 458,27/tonelada (R$ 0,7969/grama), mas ainda assim com aumento de 50% frente ao mesmo mês de 2016. Já a partir de junho, os preços voltaram a subir, atingindo R$ 671,22/tonelada (R$ 1,1673/grama) em novembro, o que superou em 48,1% a média de igual período do ano anterior, segundo dados do Cepea.
Praticamente sem mandioca de segundo ciclo e com preços elevados, na segunda metade de 2017 produtores começaram a colher raiz mais nova, em muitos casos abaixo de 12 meses. Ainda assim, segundo pesquisadores do Cepea, a oferta ficou baixa, refletindo em queda no processamento de 25% em comparação ao mesmo período de 2016. Em 2017, devem ser processadas cerca de 35% a menos em relação ao volume do ano anterior, o menor em 11 anos.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a estimativa é que, em 2017, a área com mandioca seja de 1.4 milhão de hectares, apenas 0,2% maior que a de 2016. A produtividade média deve ser de 14,6 toneladas por hectare, queda de 2,3% em relação à de 2016. Assim, a produção deve totalizar 20.6 milhões de toneladas, 2,1% abaixo da do ano anterior. No Paraná, a produção deve ser 20% menor em 2017, seguido por Sergipe (- 19,2%), São Paulo (- 7,3%), Mato Grosso do Sul (- 5,9%) e Pará (- 0,7%), ainda segundo o IBGE.
Fécula – competitividade se reduz, devido a preços elevados e à menor produção.
Em 2017, a produção de fécula de mandioca caiu, devido à baixa oferta de raiz. Neste cenário, os preços atingiram patamares recordes e o produto perdeu competitividade nos segmentos industriais frente a outros amidos, especialmente o de milho. Além disso, as margens das fecularias foram menores ao longo de 2017.
No primeiro trimestre do ano, o preço médio da tonelada da fécula subiu 13,7%, chegando a R$ 2.858,53/tonelada (R$ 71,46/saca de 25 kg). Já em maio, registrou a menor cotação média do ano, de R$ 2.500,73/tonelada (R$ 62,51/saca de 25 kg), reflexo da entrada da nova safra. Esse cenário foi revertido nos períodos seguintes, visto que os valores tiveram sucessivas altas, atingindo a maior média de 2017 em novembro, de R$ 3.496,04/tonelada (R$ 87,40/saca de 25 kg). O preço médio nominal a prazo para a tonelada de fécula de mandioca em 2017 foi de R$ 2.851,93 (R$ 71,30/saca de 25 kg), alta de 34% em relação a média de 2016.
Segundo dados do Cepea, que consideram a moagem, os dias trabalhados e o rendimento de amido, em 2017, a produção brasileira de fécula pode ter expressiva redução de 34% frente a 2016, o pior resultado desde 2004.
Apesar de a economia brasileira dar sinais de melhora, podendo crescer cerca de 1% em 2017, o consumo de fécula ficou abaixo das expectativas dos agentes consultados pelo Cepea. As vendas de fécula tiveram melhor desempenho nos segmentos de massas, biscoito e panificação, inclusive o de tapioca, ao contrário das empresas frigoríficas que, devido à operação Carne Fraca, reduziram as compras.
Farinha – indústria registra queda nas vendas em 2017.
O ano foi marcado pela baixa liquidez nas transações de farinha do Centro-Sul, devido aos elevados patamares de preços e à retomada da produção em parte do Nordeste, que passou a adquirir menos volume de farinha de mandioca o Centro-Sul. Com a baixa oferta de mandioca nesse ano, parte da indústria de farinha limitou sua produção. Ainda assim, aquelas que mantiveram as atividades também tiveram altas nos preços da matéria-prima e, como em anos anteriores, intensificou-se a disputa com a indústria de fécula. Em 2017, o valor médio nominal para a tonelada de mandioca posta farinheira ficou em R$ 548,13 (R$ 0,9533/grama), alta de 48,9% em relação a média do ano anterior.
No noroeste do Paraná, o ritmo de trabalho foi mais intenso para as farinheiras que atenderam as empacotadoras do próprio estado ou os segmentos atacadistas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, uma vez que diminuiu expressivamente o volume comercializado para o Nordeste. A indústria de farinha do centro-oeste paranaense também registrou queda nas vendas, em especial para os atacados do Distrito Federal e de Minas Gerais. Mesmo com a demanda mais fraca, os preços do derivado subiram, por conta das altas nos valores da matéria-prima. A região paulista de Assis, que foi grande vendedora de farinha (e também de mandioca) para os estados do Nordeste, registrou forte queda no volume de comercialização em 2017, pressionando a produção no período.
Nos últimos meses do ano, por conta da maior produção em parte dos polos produtores do Nordeste, caíram as vendas para aquela região. Além disso, passou a haver o fluxo contrário de vendas de farinha daquela região para o Sudeste. O preço médio da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 em 2017 foi de R$ 114,68 por saca de 50 kg, 17% acima da média de igual período do ano anterior, sendo a maior da série histórica do Cepea, iniciada em 2005, em termos nominais. A farinha de mandioca branca grossa/crua tipo 1 teve média anual de R$ 91,25/saca de 40 kg, valor 16,5% maior que aquele do ano anterior, sendo também o maior da série histórica.
Fonte: Cepea