Após um ano de alta nos custos de produção de frango e de consumo retraído da proteína – que levaram a cortes profundos na oferta no Brasil -, a capacidade de recuperação da produção pelo setor em 2017 ainda é uma incógnita. Em 2016, a produção nacional diminuiu 1,8%, somando 12.9 milhões de toneladas. Recorde, a produção de carne de frango em 2015 havia totalizado 13.1 milhões de toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Para José Antônio Ribas Júnior, presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), as sequelas do corte feito na produção brasileira de frango podem perdurar por mais tempo do que o esperado. “Penso que o setor deve voltar para o patamar de 2015 só em 2018”, avalia Ribas, que também é diretor de agropecuária da JBS – segunda maior produtora de frango do país.
Se a expectativa do executivo se confirmar, será uma reedição da crise vivida pela avicultura em 2012, quando uma seca nos EUA fez os preços do milho dispararem, afetando em cheio a indústria brasileira. Daquela vez, a produção nacional, que tinha sido recorde em 2011, recuou nos dois anos seguintes.
A atual crise da avicultura também está relacionada ao milho, desta vez no Brasil. Na safra 2015/16, a colheita do cereal totalizou 66.7 milhões de toneladas, com queda de 21,2%, segundo a Conab. Neste ano, a oferta de milho tende a se recompor.
Conforme a autarquia, a colheita do cereal na safra 2016/17 deve atingir 83.8 milhões de toneladas no Brasil. Mas essa recomposição deve se dar principalmente no segundo semestre, com a colheita da safrinha. Ou seja, a chance de retomada da produção brasileira de frango no primeiro semestre é mais limitada.
A recessão também pode limitar a recuperação da produção de frango no Brasil. “Não adianta ‘superofertar’ o mercado”, disse Ribas. Sem demanda, produzir mais frango significaria apenas reduzir margens. No cenário traçado por ele, a oferta mais restrita e os preços mais baixos do milho farão com que a rentabilidade da indústria melhore.
Alex Lopes, analista da Scot Consultoria, também aponta o consumo interno como fator de incerteza. “A melhora da demanda doméstica depende muito da recuperação da economia”, diz, lembrando que as previsões para crescimento do país neste ano têm diminuído. Mas ele pondera que, por ser mais barato em relação a outras carnes, o frango pode se recuperar mais rapidamente.
Outro sinal de que a recuperação da oferta de frango não tende a ocorrer neste início de 2017 são os dados de alojamentos de pintos de corte – animais que se tornarão os frangos abatidos depois de 45 dias, em média. O dado é um indicador da produção futura de carne de frango.
Em outubro, a produção de pintos de corte totalizou 510,6 milhões de cabeças, queda de 12,2%, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco). No acumulado de 2016 até outubro (último dado disponível), a queda foi bem menor, de 1,31%, devido ao ritmo intenso de produção de carne de frango no primeiro semestre.
Na avaliação de pesquisadores do Cepea, “o segmento produtivo deve continuar em posição relativamente mais conservadora, controlando a oferta” este ano. Se, por um lado, o mercado interno pode limitar a produção de frango na primeira metade deste ano, a exportação pode ser um estímulo, segundo o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin.
Diante do surto do vírus da gripe aviária que atinge países da Europa e asiáticos como Coreia do Sul e China, o Brasil tende a ganhar espaço no mercado internacional, o que deve incentivar a produção. As exportações representam 35% da oferta no país, que lidera o comércio global, à frente de EUA e União Europeia.
O Cepea concorda que a influenza aviária nessas regiões também tende a favorecer fornecedores como o Brasil, que têm melhor status sanitário. Nesse contexto de potencial aumento da demanda por frango brasileiro, a ABPA espera que a produção do país cresça em 2017, ficando entre 13.1 milhões de toneladas e 13.3 milhões de toneladas, disse Santin, que confia na recuperação dos empregos no segundo semestre, o que ajudaria o mercado interno.
Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), acredita em recuperação, “mas nada muito grande”. Ele aponta dificuldades do setor para elevar preços no mercado doméstico.
“No passado isso foi bom, porque aumentou o consumo (de frango), mas é complicado quando se fala de repasse de custos”, disse.
Segundo a Jox Assessoria Agropecuária, o preço do frango vivo em São Paulo na última quinta estava em R$ 2,80 o quilo – um ano antes estava em R$ 3.
Fonte: Valor Econômico