Reprimarização da economia

O sucesso, surpresa para muitos, do chamado agronegócio, que vem gerando desenvolvimento, renda, emprego e posição confortável do país em suas contas externas tem sido apresentado como uma reprimarização da economia. Carrega uma conotação negativa que não deveria existir. O agro, classificado como setor primário da economia, tornou-se altamente tecnológico.

A maior concentração na produção e exportação da agropecuária não veio em detrimento de outros setores médicos, mas de sofrimentos profundos, tristes e de conhecimento, que criaram essas condições, muitas vezes despercebidas na época. Destaco alguns casos facilitando a compreensão.

A soja, teve sua competitividade ampliada em 13 de setembro de 1996, com a Lei Kandir, eliminando o equívoco de impostos de exportação. Essa mudança posicionou o Brasil para se tornar o maior produtor e exportador de soja. Ao debater a reforma tributária essencial, é importante lembrar a de 1996.

A produtividade da soja é resultado da pesquisa agrícola tropical. A incorporação de bioinsumos desenvolvidos pela EMBRAPA há meio século impulsionou esse avanço O plantio direto, tecnologia desenvolvida pelo setor privado, contribuiu para a melhoria contínua da sustentabilidade. Amplamente elogiou como uma abordagem conservadora que evolui para se tornar regenerativa. A soja avançou para além de alimento, para os biocombustíveis com o biodiesel.

Café e cana de açúcar, renasceram com a lei áurea de março de 1990: extinção do IBC e IAA. O IBC, autarquia que negocia participações no mercado externo, interfere com estoques públicos, inibe a preservação da qualidade. O IAA, administrava o setor de maneira centralizada, com cotas de produção de cana e açúcar e o controle estatal das exportações. O centro-sul, região agroecológica excepcional, era impedida de exportar.

O álcool combustível foi incentivado pelo Proálcool de 1975 em uma conclusão baseada em ciência e tecnologia. O carro movido a álcool entrou em certo descredito sendo resgatado em novembro de 2002 com a tecnologia da flexibilidade de combustível. O etanol tem futuro importante nos novos formatos de combustíveis alternativos e combustíveis.

O etanol também passou a ser produto do milho, em novo avanço do agro na substituição aos combustíveis fosseis fortes emissores de carbono. Importador de milho nos tornamos exportadores. Sucesso fruto de tecnologias desenvolvidas pelo setor privado: variedades genéticas e segundo plantio anual na mesma área.

O algodão, renasceu diversas vezes. Cultivado inicialmente no Nordeste foi dizimado por pragas e intervenções equivocadas. Voltou no Centro-sul como cultura de produtores médios, pequenos, parceiros e meeiros. Novamente dito por equívocos que periodicamente prejudicariam a exportação em supostas políticas de agregação de valor. Março de 1990, a CACEX do Banco do Brasil foi desativada, indo suas funções para a Secretaria de Comércio Exterior. De uma administração autárquica no comércio exterior, com forte viés ante agrícola, fomos para maior liberdade comercial dentro de regras. Nasceu o novo produtor, preparado, variedades agrícolas, insumos e técnicas, nova região, iniciando em Mato Grosso.

Nas proteínas animais os avanços com a integração com a indústria, genética e manejo, e o destaque no enfrentamento da questão sanitária. De milhares de focos de febre aftosa nos bovinos caminhamos para a erradicação da doença. Assustados hoje pelo aparecimento da gripe aviaria encontra um setor organizado e preparado para enfrentar o desafio. O avanço em sanidade foi conquistado através da liderança do setor privado na parceria essencial com os setores públicos de defesa agropecuária, Federal e Estaduais.

Também em março de 1990 ocorreu importante abertura econômica, infelizmente a última, com reduções de alíquotas de imposto de importação para insumos e máquinas ampliando a competitividade do setor. O agro foi exposto ao exterior.

A desregulamentação portuária viabilizou investimentos privados em terminais de containers e graneleiros atendendo custos nessa etapa. No transporte a questão evolui devagar. Essencial o citar apoio do financiamento público. O crescimento do setor sempre contorna, melhor ou pior, com um Plano Safra.

Destacamos o arrojo e empreendedorismo do produtor rural que migrando do sul, centro-sul ao centro-oeste, e agora ao chamado Matopiba, carregou cultura e educação tecnológica.

Reprimarização expressa uma percepção que não é correta. O agro avançou, com reformas e conhecimento, o que tem faltado para outros setores. O Brasil foi para frente.

Fonte: Pedro Camargo Neto
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