Renda maior faz consumo de café crescer em países produtores

No Brasil, as vendas internas de café embalado devem somar 1,03 milhão de toneladas neste ano
No Brasil, vendas internas de café embalado devem somar 1,03 milhão de toneladas neste ano

 

Os maiores produtores de café do mundo estão se transformando também em grandes consumidores da bebida, à medida que a renda da população aumenta nesses países. Brasil, Vietnã e Colômbia, que respondem por 60% da produção mundial, vêm registrando rápido crescimento do consumo doméstico.

No Brasil, as vendas internas de café embalado devem somar 1,03 milhão de toneladas neste ano, fazendo com que o País supere os Estados Unidos nesse quesito pela primeira desde 1999, segundo a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International. Globalmente, a demanda deve bater um recorde neste ano, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A Organização Internacional do Café (OIC) diz que o consumo está crescendo duas vezes mais rápido em países exportadores do que em importadores como EUA e Itália.

Os cafeicultores vêm enfrentando dificuldades para acompanhar a crescente demanda interna e externa, e isso contribuiu para a alta acumulada de aproximadamente 75% dos preços futuros em 2014, segundo analistas. Uma doença fúngica prejudicou a safra da América Central, e uma grave seca está afetando a produção no Brasil. Por conta disso, grandes torrefadoras como Starbucks e J.M. Smucker elevaram os preços.

 

QUALIDADE

Países produtores “estão fornecendo café de melhor qualidade para sua população”, disse Steven C. Topik, professor de História da Universidade da Califórnia, Irvine, que estuda a história do café e de outras commodities. “Agora, a população desses países está ganhando o suficiente para pagar por isso”. No Vietnã, maior produtor mundial de robusta, as vendas de cafés fresco e instantâneo mais do que dobraram na última década, de acordo com a Euromonitor.

No Brasil, a demanda por melhores grãos aumentou junto com a renda, segundo produtores e donos de cafeterias. “Meu negócio está crescendo muito rápido”, disse Isabela Raposeiras, dona do Coffee Lab, em São Paulo. “Isso mostra que a qualidade está se tornando um hábito, e as pessoas não vão voltar a beber cafés ruins”. As vendas da loja, aberta há cinco anos, quase triplicaram no ano passado, disse Raposeiras.

Ao longo da última década, a produção de café do Brasil cresceu 61%, mas as exportações aumentaram apenas 34%, com o restante indo para o mercado interno. Cinco anos atrás, a Minasul vendia cerca de 20% de seu café para compradores brasileiros. Agora, vende entre 30% a 35% para o mercado local, disse o diretor comercial da cooperativa, Marcos Mendes Reis.

Importadores de grãos brasileiros nos EUA dizem que estão pagando preços mais altos devido à competição com compradores do Brasil. Toda vez que o mercado interno tem escassez de grãos de qualidade, os grãos ficam mais caros, disse Christian Wolthers, presidente da importadora Wolthers Douqué, de Fort Lauderdale, na Flórida, que compra grãos de produtores brasileiros.

 

CLASSE MÉDIA

Empresas como Starbucks e Nestlé estão cortejando a classe média em ascensão nesses países. No mês passado, a Starbucks abriu sua primeira loja na Colômbia, onde diz que vai servir apenas grãos colombianos. A empresa planeja abrir 50 lojas no país nos próximos cinco anos. Segundo a Euromonitor, colombianos vão comprar um recorde de 72.500 toneladas de café neste ano.

Por enquanto, a maior parte da demanda de consumidores em países produtores ainda é por grãos de qualidade inferior, o que limita o impacto sobre os preços em países desenvolvidos. Mas empreendedores como Raposeiras pretendem mudar isso. Ela trabalhou junto a cafeicultores para melhorar a qualidade dos grãos e, em sua loja, oferece workshops sobre a preparação e a mistura de café.

Cafeterias também estão surgindo em algumas cidades menores do Peru, onde cafeicultores cultivam grãos para a Starbucks e outras grandes torrefadoras. No último ano, o consumo de grãos na cafeteria Café Q’ulto, na cidade peruana de Tingo Maria, passou de 11 para 80 quilos por mês, de acordo com seu gerente, Julian Aucca Echarre. A Café Q’ulto utiliza grãos de uma cooperativa local que, segundo ele, fornece também para a Keurig Green Mountain. Consumidores locais agora “entendem de boa qualidade”, disse Aucca Echarre. “O poder de compra aumentou no Peru. As pessoas estão ficando mais sofisticadas.”

 

Fonte: Agência Estado

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